Novo jipe robótico da Nasa vai procurar por fósseis alienígenas em Marte
Rover será lançado em 2020 para explorar um antigo lago. Ali, um mineral abundante pode guardar registros de vida no passado marciano.
Nenhum dos diversos rovers da Nasa que já rodaram pela superfície marciana conseguiu encontrar algo muito buscado pelos cientistas: vestígios diretos de organismos que tenham vivido por lá há bilhões de anos, quando o planeta era habitável. A ausência de provas até agora não é necessariamente um indício da inexistência de vida em Marte — os jipes podem apenas não ter vasculhado os locais certos. Mas, muito em breve, isso pode mudar.
É que a próxima missão robótica sobre rodas da agência para explorar o planeta vermelho terá um foco exclusivo na astrobiologia, que é justamente o estudo da vida no universo. O rover Mars 2020 será equipado com instrumentos desenvolvidos especificamente para fazer análises e coletar amostras à procura de sinais de seres vivos do passado remoto. Até o próprio local a ser explorado foi escolhido para potencializar as chances de encontrar algo.
A Crater Jezero (veja no vídeo abaixo) já era um dos lugares mais promissores em Marte para buscar possíveis evidências de antiga biologia. Antes de Marte virar um gélido e rubro deserto, nosso vizinho tinha muita água e temperaturas amenas. Satélites mostraram que, há 3,5 bilhões de anos, havia um lago dentro daquela cratera de 45 kms de diâmetro, e que um rio desaguava ali. Onde existe água costuma ter vida. E os cientistas acharam o lugar perfeito para procurá-la.
Em um artigo publicado na prestigiosa revista científica Icarus, editada pela cientista planetária brasileira Rosaly Lopes, pesquisadores descrevem a descoberta de grandes depósitos de carbonato bem onde seriam as margens do lago. Aqui na Terra, esse material forma vestígios de organismos capazes de durar por esse tempo todo, como conchas, corais e estromatólitos — rochas fósseis criadas por micróbios em ambientes aquáticos.
A possibilidade da existência de estromatólitos nas margens do antigo lago fez do lugar um dos alvos mais cobiçados pelos cientistas para a exploração marciana, não só porque ali eles têm a chance de achar coisas como fósseis de antigos microrganismos. Também porque os carbonatos são cápsulas do tempo que guardam registros das condições em Marte há bilhões de anos. Eles se formam da interação entre dióxido de carbono e água.
Assim, ficaram gravadas variações sutis que foram ocorrendo com o passar do tempo. Estudá-los permite entender melhor como Marte deixou de ser um planeta habitável — e quando exatamente isso aconteceu. “A possibilidade de que os ‘carbonatos marginais’ se formaram no ambiente do lago foi um dos fatores mais empolgantes que nos levaram a escolher pousar em Jezero”, disse em comunicado Ken Williford, da equipe Mars 2020.
É possível que o depósito seja ainda mais antigo e nada tenha a ver com aquele ambiente aquático. Mas os cientistas estão otimistas. “A química do carbonato na antiga margem de lago é uma receita fantástica para preservar registros antigos da vida e do clima”, disse Williford. Outra pesquisa recente identificou grandes quantidades de sílica no delta do rio — ótimo lugar para procurar por fósseis microbianos enterrados.
O rover sucessor do Curiosity tem lançamento previsto para julho ou agosto de 2020 e deve começar sua empolgante investigação em fevereiro de 2021. A missão está programada para durar no mínimo dois anos e o time espera que a exploração das reservas de carbonato e do delta ocorra no final desse período — em 2023, portanto. O principal objetivo da Mars 2020 é coletar amostras que no futuro poderão ser trazidas para análise na Terra