O futuro da Lua
Não é mais uma corrida entre superpotências; vários países e empresas têm hoje interesse em explorar a Lua.
Vamos tirar isto da frente logo de cara: sabemos que o destino de todas as previsões sobre o futuro é errar, e o erro costuma crescer quanto mais tempo tentamos abarcar. Prever que humanos voltarão a visitar a Lua num prazo de dez anos é bem razoável e há pouca chance de estar errado. Mas ir muito além disso torna o esforço cada vez mais inócuo. Ainda assim, vale a pena fazê-lo, porque é assim que o futuro é construído – primeiro com ideias e sonhos, depois com planos e, apenas na última etapa, como realidade.
Eu, por exemplo, já me peguei pensando muitas vezes em como seria jogar futebol na Lua. É, futebol na Lua. Já vimos a tacada de golfe de Alan Shepard na Apollo 14, mas como seria futebol? O campo teria de ser maior? As traves mais altas? A bola mais pesada? O mero fato de a gravidade lunar ser um sexto da terrestre transformaria uma das maiores práticas de entretenimento da Terra em algo muito diferente do que é. Morar em outros mundos necessariamente cria variações culturais, enriquece nosso repertório.
Então, a primeira coisa que dá para dizer que vai acontecer quando houver pessoas morando na Lua é que isso tornará a humanidade socialmente mais rica e interessante. O ambiente na superfície é inóspito. Os futuros lunarianos viverão entocados, apenas de vez em quando colocando um traje espacial para caminhar pela superfície e apreciar a vista. As primeiras habitações serão módulos acoplados na superfície e depois recobertos por regolito – os pequenos grãos de solo que recobrem a Lua –, a fim de obter proteção contra radiação e micrometeoritos. Mais tarde, podemos imaginar máquinas escavando túneis no subsolo, criando uma vasta infraestrutura.
Os primeiros lunarianos terão de viver entocados, para se proteger da radiação.
Por fim, podemos apostar que a exploração futura da Lua será um empreendimento internacional. Foi-se o tempo em que americanos e russos mantinham o monopólio dos orbitadores e dos módulos de pouso lunares. Em 2003, a ESA (Agência Espacial Europeia) enviou seu primeiro orbitador lunar, a Smart-1. A Jaxa (agência espacial japonesa) enviou o seu, Selene, em 2007, mesmo ano em que os chineses lançaram o deles, Chang’e 1. Em 2008, foi a vez dos indianos, com a Chandrayaan 1. Em 2010, a China voltou à carga com a Chang’e 2 e, em 2013, tornou-se o terceiro país a fazer um pouso suave na Lua, com a Chang’e 3. A ousadia aumentou com a Chang’e 4, que realizou o primeiro pouso suave da história no lado oculto da Lua, em janeiro de 2019.
O grupo israelense SpaceIL tentou realizar o primeiro pouso privado na Lua, que falhou por pouco em abril. Mas vem mais por aí. Entre países e empresas, podemos esperar espaçonaves indianas, chinesas, alemãs, sul-coreanas, russas, japonesas e até uma brasileira – a Garatéa-L, missão privada coordenada pelo engenheiro espacial Lucas Fonseca. A um custo de US$ 10 milhões, ela deve ir à órbita da Lua no início da próxima década.
Achar que, após a primeira onda, toda essa gente vai perder o interesse é improvável. Os chineses já falam em pouso tripulado ao redor de 2030.
Todas essas expedições terão um foco importante em ciência. Mas, se os foguetes de alta capacidade (como o Starship-Super Heavy, da SpaceX) se tornarem uma realidade, não há por que acreditar que as únicas razões para ir à Lua serão científicas. Jeff Bezos acha que o único modo de proteger a Terra é ir levando, ao longo de gerações, toda a indústria pesada para o espaço.
Não dá para imaginar indústrias aproveitando incentivos fiscais para se instalar na Lua nos próximos 50 anos. Mas e nos próximos 100? E nos próximos 500? Quando nos damos conta de que o futuro diante de nós não tem um prazo final, tudo se torna possível. É só a gente querer. Bora bater um futiba lunar?