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Objeto espacial mais distante já avistado tem a forma de um boneco de neve

Ultima Thule, asteroide de 31 quilômetros de tamanho que está 6,6 bilhões de quilômetros afastado da Terra, ganhou novas imagens na última quarta-feira (2)

Por Guilherme Eler
3 jan 2019, 20h48

As primeiras fotos que a Nasa usou para revelar ao mundo o “Ultima Thule”, divulgadas no primeiro dia de 2019, chamavam atenção para a forma curiosa do asteroide. Tido como o objeto celeste mais distante já observado pela humanidade, seu aspecto poderia ser comparado a um pino de boliche ou ainda, como nós aqui na SUPER preferimos chamar, um amendoim meio irregular.

Por mais bem-sacada que tenha sido a comparação, ela acabou não durando muito tempo. Isso porque uma imagem mais detalhada que veio a público na quarta-feira (2) revelou uma aparência diferente: ao invés de amendoim, o Ultima Thule mostrou ter a cara de um simpático (e menos familiar para os brasileiros) boneco de neve. É ele que você vê na imagem do topo deste texto – a primeira foto, em baixa resolução, combinada com a segunda, em alta mas em preto e branco, formam a visão original do objeto.

O novo apelido do asteroide faz até mais sentido que o anterior se considerarmos sua composição: nada menos que 31 quilômetros de gelo e rocha. Sem ostentar a “cintura” rochosa que indicavam as primeiras imagens, ele é formado por duas esferas, uma sobre a outra.

A maior, que você pode entender como o corpo do boneco, tem três vezes o tamanho da menor, ou a cabeça. O nome de cada uma das partes são, respectivamente, “Ultima” e “Thule”, algo como “além do mundo conhecido” – bem melhor que 2014 MU69, nome original dado pelos cientistas. De acordo com a Nasa, costumavam ser dois objetos diferentes, que se formaram separadamente e se uniram com o tempo.

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Por estar localizado a 6,6 bilhões de quilômetros da Terra, sabe-se que o “Ultima Thule” tem pouco brilho. A luz do Sol que chega ao objeto tem intensidade 1.900 vezes menor do que acontece na Terra, e ele reflete apenas entre 6% e 13% desses raios. Além da cor avermelhada do planetinha, essas características ajudam a explicar as temperaturas muito baixas: só 30 graus acima do considerado “zero absoluto” – menor temperatura possível da escala que moléculas podem chegar.

Devido a ausência de brilho do boneco de neve estelar, foi preciso chegar bem perto para que ele desse as caras. Foi aí que entrou em ação a sonda New Horizons, experimento da Nasa que viaja pelo Sistema Solar há 13 anos. Deslocando-se no espaço a quase 50 mil quilômetros por hora, ela foi responsável, por exemplo, por captar imagens de Plutão em 2015 – até então, era o planeta anão o objeto mais distante já visto de perto por uma ferramenta humana. Depois de visitar Plutão, a New Horizons partiu em uma jornada de 1.5 bilhão de quilômetros até sobrevoar Ultima Thule, o que aconteceu às 3h33 (no horário de Brasília) do dia 1 de janeiro.

“Esse sobrevoo foi um acontecimento histórico”, disse o pesquisador-chefe da New Horizons Alan Stern, em comunicado. “Nunca antes uma equipe responsável por um satélite rastreou um corpo tão pequeno em uma velocidade tão grande e tão distante, nas profundezas do espaço. A New Horizons estabeleceu um novo paradigma para a navegação espacial”.

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O pedregulho está uma região do Sistema Solar conhecida como Cinturão de Kuiper, que fica além da órbita de Netuno, área em que, acredita-se que estejam as rochas mais antigas do Sistema Solar. As informações foracam captadas quando a sonda estava a 3.500 quilômetros de sua superfície, e mostram câmeras potentes. Afinal, fazer cliques a essa distância é o mesmo que alguém de Florianópolis se atrevesse a fotografar clicar um prédio em Belém, no Pará – sem asteróides no caminho, é claro.

A boa notícia é que, além da diferença no formato, é provável que precisemos esperar um pouco para saber mais características do boneco de neve espacial. Isso porque, até agora, apenas 1% do conteúdo coletado no sobrevoo foi transmitido à Terra. Estima-se que, no ritmo atual, a New Horizons deverá levar 20 meses para enviar por completo os dados que coletou. Ou seja, só será possível analisar de forma mais precisa a geologia e a composição de Ultima Thule, além de aspectos de sua superfície como a eventual existência de luas ou crateras até setembro de 2020. Imagens em alta resolução, para você utilizar como plano de fundo de seu celular, por exemplo, devem chegar apenas em fevereiro.

Segundo a Nasa, as duas esferas rochosas que formam o Ultima Thule provavelmente se juntaram no começo do Sistema Solar. Longe da influência do Sol durante todo esse tempo, pesquisadores acreditam que elas podem servir como uma amostra do material que originou nosso sistema planetário, oferecendo dados importantes sobre como o astro e os planetas se formaram, há 4,5 bilhões de anos.

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