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Organização ambiental defende fim das selfies de cientistas com macacos

O argumento é que fotos de humanos próximos a animais podem levar o público a crer que macacos são animais domésticos, incentivando o comércio ilegal.

Por Carolina Fioratti
26 jan 2021, 19h21

Na última semana, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) divulgou um novo conjunto de diretrizes para a interação entre humanos e macacos. Os cientistas que assinam o documento pedem que pesquisadores e conservacionistas parem de publicar fotografias em que estejam próximos de primatas. Segundo o comunicado, as imagens podem passar ao público a ideia de que estes animais selvagens podem ser criados em casa. 

Pode até parecer uma preocupação exagerada. Mas, como destaca a revista Science, o argumento faz sentido. Em experimentos conduzidos por Brian Hare, antropólogo da Universidade Duke (EUA), pessoas que assistiam comerciais com chimpanzés em ambientes humanos, como escritórios, tendiam a acreditar que os primatas eram bons animais domésticos e pareciam menos preocupadas com a conservação.

Outras pesquisas também indicam que vídeos de pessoas brincando com macacos, por exemplo, estão relacionados ao aumento da procura por macacos à venda em postagens na internet. 

Motivados pela frustração de ver pesquisadores posando com seus objetos de estudo, o primatologista Siân Waters, da Universidade de Durham (Reino Unido) criou na IUCN uma equipe especializada na interação entre humanos e primatas. A primeira meta era justamente acabar com essa exposição em capas de livro, palestras e redes sociais, por exemplo. 

Ver especialistas ao lado de primatas leva o público geral a crer que pode fazer o mesmo, tirando fotos ou mesmo criando-os em casa. Isso incentiva, inclusive, o comércio ilegal desses animais, que causa a morte de cerca de 3 mil macacos de grande porte ao ano, segundo dados da ONU publicados em 2013.

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A caça furtiva fica atrás apenas da perda de habitat como principal culpado pela diminuição dos primatas. Hoje, cerca de 60% das espécies de primatas estão ameaçadas de extinção, incluindo lêmures, chimpanzés, gorilas e orangotangos.

Mas este não é o fim das fotos com macacos. Elas ainda podem ser tiradas, desde que sejam seguidos alguns protocolos. Primeiro, é importante que haja uma barreira física ou pelo menos sete metros de distância entre o humano e o animal. Além disso, as pessoas não devem ser gravadas alimentando ou brincando com os macacos. Por fim, as fotos devem mostrar os equipamentos científicos que sugiram que aquela imagem remete a um estudo.

Os esforços podem refletir na conservação de outras espécies. Na Costa Rica, por exemplo, selfies com animais selvagens foram proibidas para tentar proteger preguiças, que estavam sendo usadas ilegalmente como adereços para turistas. 

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Há apenas um ponto negativo nessa história. Alguns santuários e ONGs utilizam em suas propagandas imagens de primatas órfãos sendo resgatados e reabilitados pela equipe. Essa é a forma que eles encontraram de atrair doadores, que enviam o dinheiro necessário para manter a organização e continuar salvando animais. Nesse caso, terá que haver uma adaptação que acate as novas diretrizes e continue atraindo o público, sem dar a entender de que estes animais podem ser criados como cães e gatos. 

De toda forma, vale a lembrança por parte das pessoas no geral de que estes animais são selvagens, e não domésticos. Por mais inofensivos que pareçam, tirar fotos ou criá-los em casa não é uma boa ideia, já que animais silvestres podem atacar e até mesmo transmitir doenças. 

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