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Os portões do inferno: a cratera de metano que está em chamas há 50 anos

Em 1971, uma usina de extração de gás natural soviética no Turcomenistão afundou no chão. O incêndio continua desde então.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
15 mar 2024, 18h00

A ex-república soviética do Turcomenistão é uma ditadura hereditária de população esparsa 6,5 milhões de habitantes, ou o equivalente à cidade do Rio de Janeiro – encravada no coração da Ásia: seu território árido, coberto pelo deserto de Karakum, está a dois países de distância do mar em quase qualquer direção. 

O governo turcomeno detém o quinto maior conjunto de reservas de gás natural do mundo. Trata-se de um combustível composto majoritariamente por metano (CH4), com porcentagens menores de outros hidrocarbonetos.

Por isso, por quase trinta anos, gás e eletricidade foram gratuitos para o cidadãos. Nada que compense a repressão religiosa, a corrupção e a ausência de veículos de imprensa, é claro.

Reza a lenda que, em 1971, uma usina de extração de gás, recém-construída pela URSS 260 km ao norte da capital Ahsgabat, afundou no chão, formando a cratera incandescente com 70 metros de diâmetro que você vê na foto acima.

Até hoje, ninguém sabe o ano exato do acidente, tampouco a razão do colapso: por um lado, as autoridades soviéticas guardavam a sete chaves qualquer documentação sobre fontes de energia; por outro, não era do interesse de ninguém nos confins do Turcomenistão avisar os superiores do desastre: era melhor deixar o assunto quieto e evitar uma punição desagradável.

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A emissora britânica BBC chegou a enviar um repórter ao local para investigar o caso. Coisa rara, diga-se: o Turcomenistão recebe apenas 6 mil turistas por ano. Longe de qualquer esclarecimento, ele só voltou mais confuso. Geólogos locais garantem que a cratera se formou na década de 1960, e não em 1971.

Outra informação desconhecida é quem ateou fogo à dita-cuja.

O metano é tóxico e invisível, além de ganhar com folga do dióxido de carbono (CO2) em termos de efeito estufa. Após o desabamento, esse gás incômodo passou a vazar aos montes na atmosfera pelos buracos perfurados no chão.

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Para evitar que moradores e animais se intoxicassem, alguém ateou fogo aos bocais, que estão queimando até hoje (e, caso ninguém faça nada, vão queimar até o estoque de gás lá embaixo acabar, algo que não tem prazo determinado para acontecer).

Em algumas versões da história, os próprios engenheiros soviéticos deram início ao incêndio, na esperança de que as reservas de metano se esgotassem em algumas semanas. Em outras, em pastor fez o serviço nos anos 1980, jogando um pneu em chamas lá dentro ele estava frustrado após algumas de suas ovelhas morrerem intoxicadas por CH4.

A aparência apocalíptica do buraco lhe rendeu o apelido de Portão de Inferno. Coincidentemente, um vilarejo próximo, com apenas oito casas, se chama Darvaza: “portão”, em turcomeno. Ele já foi maior: em 2004, quando o interese turístico pelo local aumentou, o ditador mandou o exército remover a população local de 3 mil pessoas à força.

O ideal, claro, seria conter o vazamento. Ao longo das décadas, o presidente turcomeno alternou entre ordens para apagar o fogo e para explorá-lo como atração turística. Por ora, a cratera permanece em chamas, atraindo aventureiros mundo afora.

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