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Os robôs vão nos destruir?

O embate entre o homem e a máquina é uma paranóia recorrente nos tempos modernos. Mas será mesmo um simples delírio ou não corremos realmente o risco de ser dominados pelas nossas criações?

Por Vladimir Cunha
Atualizado em 31 out 2016, 18h53 - Publicado em 30 set 2004, 22h00

Dia 31 de dezembro de 1999. Armas apontadas contra a nuca do planeta, eles esperavam o minuto 23:59 passar para dispararem seus gatilhos. Armas conscientes de sua eficácia em matar, aguardavam o fatídico cumprimento de uma promessa que, devido a uma falha de planejamento na década de 60, estava privando o homem de registrar os dois primeiros dígitos dos anos em sua datação informática. Ninguém havia percebido que, ao passar do último ano da década de 90 para o último ano do século 20, o registro computacional entenderia a troca de números como um retorno ao início – 99 virando 00 –, em vez de continuar a contagem progressiva.

O bug do milênio não causou a tragédia anunciada, e as máquinas que tinham nosso futuro nas mãos, como quisesse um autor de ficção científica tergiversando sobre o tema, aos poucos afrouxaram os dedos. As previsões falavam em tumulto no mercado financeiro, pane na rede mundial de telecomunicações, crise no abastecimento energético do planeta, falhas nos controles de segurança de usinas nucleares. Com toda a paranóia criada na época, foi impossível não soltarmos fogos de artifício e abrirmos garrafas de champanhe enquanto pensávamos num possível colapso do sistema, que os primeiros segundos do ano 2000 logo trataram de mostrar não mostrar de mais uma prova do antigo medo que o ser humano tem de perder a guerra contra suas próprias criações – no caso, as máquinas.

Por que tememos tanto o que nós mesmos construímos? Desde o mito hebreu do Golem até a sua versão “neuromântica” em Blade Runner (1982), recém-eleito o melhor filme de ficção científica de todos os tempos, temos medo de que as máquinas se revoltem contra os humanos e tomem conta de tudo e de todos. A cultura popular já se encarregou de mitificar esse embate, e os resultados quase nunca são satisfatórios para nós.

FUTURO SOMBRIO

Desde a Disneylândia velho-oeste de Westworld (1973) – o primeiro filme do escritor Michael Crichton, que se consagraria como roteirista de outro parque de diversões em parafuso, Jurassic Park, de 1993 – até a lavagem cerebral dos seres humanos feita pelas máquinas da trilogia Matrix (1999-2003), o futuro da humanidade parece sombrio no que diz respeito ao resultado do pega entre homens e robôs. Tanto no apocalipse motorizado da cinessérie Exterminador do Futuro (parece que vem aí o quarto filme) quanto na paz imposta pelo supercomputador que batiza o filme Colossus: The Forbin Project (1970), resta à humanidade se conformar, de uma vez por todas, em ser extinta ou ser mantida refém de máquinas sofisticadas e superdestruidoras.

Tal seqüestro em nome da ciência é repetido em golpes intuitivos de máquinas frias e calculistas, que lentamente caminham rumo à falibilidade humana. Em 2001 – Uma Odisséia no Espaço (1968), do diretor Stanley Kubrick, o supercomputador HAL 9000 extermina os astronautas da missão em Júpiter para que eles não o atrapalhem no cumprimento de seu trabalho. Frio e polido, ele desliga as pessoas como máquinas, sem o menor remorso. Já em Alien – o Oitavo Passageiro (1979), do cineasta Ridley Scott, o oficial científico Ash (um andróide, como descobrimos mais tarde), com toda sua frieza e passividade, põe toda a tripulação da nave Nostromo em risco ao decidir manter o alienígena vivo.

Nem a coexistência homem/máquina num mesmo ser é tema pacífico. Enquanto a consciência do policial Alex Murphy teima em sobreviver dentro do monstro de metal em que se transformou em Robocop (1987), os dois protagonistas do anime Ghost in the Shell (“O Fantasma do Futuro”, de 2002) vivem dramas complementares: a major Motoko é um andróide sem alma, enquanto o vírus inteligente Mestre dos Fantoches é um espírito digital sem corpo (daí a citação cartesiana do título). Nenhum deles tem necessidade de gente para sobreviver.

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IMITANDO OS HUMANOS

Mas, à medida que as máquinas se descobrem falíveis e sentimentais, elas vão mudando de humor. Em Blade Runner, Roy Batty, interpretado pelo ator Rudger Hauer, é o líder do grupo de replicantes Nexus 6, que se rebelam contra os seres humanos e chegam à Terra como uma ameaça. Batty, também conhecido pelo seu número de série N6MAA10816, resolve vingar-se de seu criador por não lhe permitir viver por mais de seis anos. Já no filme A Geração Proteus (1973), um horror de ficção científica, dirigido pelo escocês Donald Cammell, o supercomputador Proteus IV é “o primeiro córtex sintético de verdade… um cérebro”, nas palavras de seu criador, o arrogante cientista Alex Harris. Não demora muito e Proteus IV decide se aventurar por aí e conhecer o mundo: abandona a caixa em que está confinado e vai seduzir ninguém menos do que a mulher de seu criador. No mínimo esperto, o moço.

Em 2001 – Uma Odisséia no Espaço, HAL canta uma música infantil ao perceber que está sendo desligado .

Sentimentos e sensações cibernéticas mais humanos do que as dos próprios humanos são comuns em filmes. Talvez seja porque essas reações nos façam refletir sobre a real natureza do homem. Tememos as máquinas pois, em última instância, elas somos nós – era o que fazia o diretor Stanley Kubrick ter tanto carinho com o filme A.I. – Inteligência Artificial. Os robôs são a continuação da nossa evolução. Para ser mais exato, eles são a nossa prole.

 

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Eu acredito!

“Nós, humanos, somos contraditórios. O que esperar de um japonês que se mata de trabalhar 18 horas por dia e depois torra as economias em um cachorro-robô de 2.000 dólares? Temos mania de humanizar as máquinas e mecanizar os humanos. Um mendigo é uma peça defeituosa da sociedade, a mesma sociedade que se reúne em fãs-clubes de geeks uniformizados idolatrando um deus pingüim. Não vejo os humanos voltando para a Idade da Pedra depois de um holocausto tecnológico nem vejo robôs nos escravizando. Acho que vamos acabar mesmo é numa grande miscigenação. E isso é bom! Basta olhar para o cão vira-lata e ver que ele é o mais resistente.”

Mr. Manson, editor do site Cocadaboa.com

 

Nós contra eles

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Dez robôs que desafiaram os humanos no cinema. Alguns se deram bem

T800

Filmes: O Exterminador do Futuro (James Cameron, 1984)

O que fez: No primeiro filme, T800 (Arnold Schwarzenegger) é uma máquina fria e assassina. No segundo, ele começa a desenvolver sentimentos, muito pelo fato de conviver com o garoto John Connor (Edward Furlong), seu protegido.

T1000

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Filme: O Exterminador do Futuro II (James Cameron, 1991)

O que fez: T1000 (Robert Patrick) é um robô que vem do futuro para eliminar John Connor e o robô Exterminador, que havia mudado de time. Mesmo num papel coadjuvante, o robô fez tanto sucesso que depois fez uma ponta na comédia Quanto Mais Idiota Melhor 2.

HAL 9000

Filme: 2001 – Uma Odisséia no Espaço (Stanley Kubrick, 1968)

O que fez: Terceiro supercomputador de sua série, HAL nasce no dia 12 de janeiro de 1992, na usina HAL de Urbana, no Estado de Illinois, com o único propósito de manter estáveis as condições de bordo de missões espaciais. Acaba extrapolando suas funções. Nove anos depois, HAL assume o controle da espaçonave Discovery, depois de perceber que os humanos a bordo poderiam estragar sua própria missão – simplesmente por serem humanos!

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GORT

Filme: O Dia em que a Terra Parou (Robert Wise, 1951)

O que fez: Gort (Lock Martin) é um enorme leão-de-chácara espacial encarregado de proteger o emissário alienígena Klaatu (Michael Rennie), que vem alertar os humanos que, se o nosso planeta não ficar em paz, o bicho vai pegar. A solução não podia ser mais humana: matam Klaatu como se pudessem matar o problema. Foi a deixa para Gort sair quebrando tudo.

ASH

Filme: Alien – o Oitavo Passageiro (Ridley Scott, 1979)

O que fez: O oficial científico Ash (Ian Holm) é um andróide que conduz a nave Nostromo à captura da mais perfeita máquina de guerra. O problema é que ele sabia desde o início da periculosidade do ET e que os seres humanos da missão podiam ser descartados. Mais: ninguém na nave suspeitava que ele era um robô. Pior para todo mundo.

AGENTE SMITH

Filmes: Matrix (Andy e Larry Wachowski, 1999), Matrix Reloaded (2003) e Matrix Revolutions (2003)

O que fez: Smith (Hugo Weaving) é apenas um dos mecanismos de segurança que o programa Matrix desenvolveu para eliminar seres humanos. Mas depois que Neo (Keanu Reeves) faz o que parecia impossível – mata o agente –, ele volta renascido e, em suas próprias palavras, livre. É um dos melhores vilões da ficção científica moderna.

PROTEUS IV

Filme: A Geração Proteus (Donald Cammell, 1973)

O que fez: Dublado por Robert Vaughn, Proteus é um computador que foi criado com fins militares, mas logo desenvolve consciência e quer conhecer o mundo em que nasceu. Seu criador, o cientista Alex Harris (Fritz Weaver), ri na sua cara quando ele pede para sair do laboratório. É o suficiente para o computador planejar sua fuga, e da forma mais perversa: entra na casa de Harris, seduz sua esposa e promete devolver a ela a filha que morrera.

DAVID SWINTON

Filme: A.I. – Inteligência Artificial (Steven Spielberg, 2001)

O que fez: O menino-robô David (Haley Joel Osment) foi fruto da parceria entre os diretores Stanley Kubrick e Steven Spielberg. Na visão de Kubrick, um computador consciente não seria uma ameaça à humanidade, mas sim uma continuação natural, evolucionária, do ser humano. Nas mãos do diretor Spielberg, a história virou praticamente uma overdose de glicose.

ROY BATTY

Filme: Blade Runner – O Caçador de Andróides (Ridley Scott, 1982)

O que fez: O andróide Roy Batty (Rudger Hauer) é o líder do grupo de replicantes Nexus 6, que se rebelam contra os seres humanos. Batty é o primeiro ser sintético a desenvolver emoções, um processo que se encerra assim que o caçador Rick Deckard (Harrison Ford) tenta encurralá-lo. Batty termina por poupar a vida de Deckard, numa demonstração formidável de seu espírito humanitário.

PROJETO 2501

Filme: O Fantasma do Futuro (Mamoru Oshii, 1995)

O que fez: Desenvolvido por um especialista americano em inteligência artificial, o Projeto 2501 era inicialente um programa de espionagem que se infiltrava na consciência das pessoas, criando experiências simuladas . Mas o programa criou vida própria e passou a trabalhar como uma inteligência artificial com planos bem pouco ingênuos para a humanidade.

 

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