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Ovos falsos equipados com GPS são nova aposta para proteger tartarugas

A isca, desenvolvida por pesquisadores da organização ambiental Paso Pacífico, serve para identificar as rotas feitas por caçadores ilegais.

Por Carolina Fioratti
7 out 2020, 18h32

Em alguns países da América Central, os ovos de tartarugas marinhas são vendidos como iguarias em bares e restaurantes. Para manter esse comércio, caçadores ilegais roubam os ovos das praias antes mesmo que eles possam ser chocados, o que impede que os animais sigam seu destino natural aos oceanos. Cerca de 90% dos ovos de tartaruga estão sujeitos ao tráfico. 

Pensando em acabar com essa situação, a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID) lançou em 2015 o Wildlife Crime Tech Challenge (Desafio Tecnológico de Crimes de Vida Selvagem), que premiaria os melhores projetos destinados ao combate da caça ilegal. A vencedora foi Kim Williams-Guillén, cientista conservacionista da organização ambiental Paso Pacífico. Ela desenvolveu ovos falsos equipados com GPS, que servem como rastreadores para identificar a rota dos ladrões. 

Eles são feitos em impressora 3D e possuem tamanho, formato, cor e textura idêntica aos ovos reais. Dentro, têm um dispositivo GPS que emite sinais de hora em hora. Ao serem misturados nos ninhos, com areia e muco ao seu redor, os ovos falsos ficam praticamente indistinguíveis dos reais. Além disso, os pesquisadores afirmam que a tecnologia não afeta o resto da ninhada, sendo perigosa apenas para os traficantes. O dispositivo recebeu o nome de InvestEGGator – das palavras inglesas “investigator” (investigador) e “egg” (ovo).

Nesta segunda-feira (5), foram divulgados na revista Current Biology os primeiros resultados da aplicação dessas iscas. 101 ovos falsos foram espalhados ao longo de quatro praias da Costa Rica. Destes, 25 caíram nas mãos dos caçadores. A ideia dos pesquisadores não era descobrir o ladrão, mas sim traçar a rota que o ovo percorre até chegar nas mãos de traficantes e mandantes do crime, visualizando as principais áreas de comércio ilegal. 

Os cientistas conseguiram rastrear ovos que estavam em cinco ninhos, três de tartarugas-oliva (Lepidochelys olivacea) e dois de tartarugas-verdes (Chelonia mydas). Ambas as espécies são ameaçadas de extinção. Dois dos ovos falsos não foram muito longe. O primeiro emitiu sinais de uma propriedade residencial da região e o segundo estava em um bar a dois quilômetros de distância. 

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Por outro lado, um terceiro ovo rodou cerca de 137 quilômetros até o interior, viajando por dois dias, passando por um supermercado e acabando em uma casa. Os pesquisadores supõem que o produto foi entregue a um ambulante, que deve ter passado de porta em porta oferecendo o item.

Mas o combate ao comércio ilegal não será uma briga tão fácil de ganhar. Apesar de a caça e venda ser proibida na Costa Rica, a compra de ovos de tartaruga não é considerada crime. Além disso, o ingrediente já faz parte do cardápio da população. Williams-Guillén disse ao Science Alert que o InvestEGGator “deve ser usado no contexto de uma abordagem de conservação multifacetada que usa a educação, criando melhores oportunidades econômicas e fiscalização para ajudar a combater a caça ilegal de ovos de tartarugas marinhas”.

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