Pássaros procuram vizinhos de personalidade parecida
O chapim-real só escolhe a moradia depois de garantir que tem afinidades com a vizinhança – um fenômeno que ajuda a ciência a entender a vida social humana
Vizinhos são um problema. Um problema tão grande que já saiu da esfera da civilização e alcançou a natureza. Uma pesquisa da Universidade de Oxford revelou que pássaros da espécie Parus major, o chapim-real, avaliam a personalidade dos animais que moram nas árvores próximas antes de começar a construção de um ninho – e só tomam a decisão imobiliária quando encontram indivíduos parecidos com eles.
Nada muito diferente do ser humano. Quem vai comprar uma casa, afinal, sempre presta atenção na rotina da vizinhança. Se as ruas são movimentadas, se há muito barulho durante a noite ou se algum morador do condomínio toca bateria em uma banda punk.
Saber que a mesma coisa acontece no mundo animal fornece uma explicação biológica às nossas características psicológicas – em outras palavras, explica por que, do ponto de vista da evolução, nós não somos todos iguais, e em que medida nós gostamos de pessoas parecidas e diferentes de nós.
“Essa pesquisa inédita ajuda a explicar porque indivíduos de uma mesma população desenvolvem comportamentos diferentes”, afirmou à imprensa Katerina Johnson, uma das autoras do artigo científico. Ela passou seis anos de olho em uma colônia de Parus major. “Nenhum tipo particular de personalidade é favorecido pela seleção natural como ‘melhor’ ou ‘pior’. Diferentes estratégias comportamentais podem ser igualmente vantajosas de acordo com quem você escolhe para conviver.”
É mais fácil entender com um exemplo. Para um macho fértil não parece vantajoso, em princípio, morar muito perto de outros machos – as disputas por fêmeas e território são estressantes e afetam a criação dos filhotes. Por outro lado, a união faz a força na hora de combater um predador muito grande, então não é uma boa ideia se isolar completamente da sociedade.
Na busca pelo equilíbrio ideal entre distância e proximidade, surgem pássaros mais ou menos tímidos, sociáveis e bons de briga que, quando conseguem escolher bem o local da própria casa, passam seus genes para frente com mais eficiência. As diferenças comportamentais entre machos de Parus major são confirmadas. Testes anteriores já provaram que indivíduos diferentes demonstram mais ou menos disposição e vontade na hora de explorar um ambiente novo em uma situação de laboratório.
“Exatamente como universitários escolhendo uma república, pássaros prestam mais atenção em quem divide um espaço com eles do que na própria localização desse espaço”, explica Johnson. “As personalidades dos animais podem influenciar sua organização, e nós sabemos que, assim como eles, os seres humanos formam redes sociais com base em afinidades e características comuns.” Ou seja: não se sinta mal por não gostar dos seus vizinhos. É puro instinto, e até os passarinhos te entendem.