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Por que Alcântara é um lugar estratégico para lançar foguetes e satélites

Em visita a Washington, o presidente Jair Bolsonaro aprovou acordo que empresta a base nacional para o governo americano.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 12 mar 2024, 12h07 - Publicado em 19 mar 2019, 20h21

O Brasil acertou com os Estados Unidos a liberação do uso comercial da base militar de Alcântara, no Maranhão, para o lançamento de satélites e foguetes. A decisão, que foi acertada na visita do presidente Jair Bolsonaro a Washington, ainda precisa ser aprovada pelo Congresso e pode encerrar um processo de negociação iniciado há quase 20 anos.

A primeira versão de um “acordo de salvaguardas tecnológicas”, nome do documento que permite a entrada de pesquisadores estrangeiros na base brasileira, chegou a ser assinada com os EUA no começo dos anos 2000. A ideia, porém, foi rejeitada pelo congresso à época por conter pontos considerados controversos. O principal deles era a criação de uma área cedida aos pesquisadores americanos com total sigilo, onde brasileiros não poderiam entrar – algo visto como prejudicial à soberania nacional.

O novo tratado limita o uso estrangeiro da base “para fins pacíficos” e estabelece que o Brasil não poderá ter acesso a equipamentos com tecnologia americana. Segundo o acordo, o dinheiro recebido pelo Brasil poderá ser usado para financiar o desenvolvimento do programa espacial nacional. 

O valor do pagamento recebido pelo aluguel ainda não foi revelado. Segundo o Ministério da Defesa, alugar a base para lançamentos de satélites pode resultar em ganhos de R$ 37 bilhões. Em setembro de 2018, a FAB (Força Aérea Brasileira) estimou que seria possível arrecadar até  R$ 140 milhões por ano, apenas com taxas de lançamento em concessões do tipo. Espera-se que outros países se juntem aos EUA e formem parcerias como essa com o Brasil no futuro.

Segundo a Administração Federal da Aviação dos Estados Unidos (FAA), o mercado espacial de satélites e foguetes movimenta mais de R$ 3 bilhões ao ano.  Estima-se que 80% dos artefatos espaciais possuem algum componente produzido em solo americano. Ou seja, sem o acordo, o Brasil deixava de explorar uma parcela importante do setor.

Em seu perfil do Twitter, Bolsonaro declarou que o País estava “perdendo dinheiro” ao não aproveitar a oportunidade.

Já o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, defendeu que o novo acordo não implica riscos à soberania nacional. Em entrevista, comparou o modelo de exploração com o funcionamento de um hotel.

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“Imagina que você trouxe alguma tecnologia para dentro do seu quarto que, logicamente, você controla. Você tem a chave do quarto, mas eu, como dono do hotel, posso entrar a hora que precisar. É algo mais ou menos nesse estilo”, explicou, em comentário sobre os detalhes da relação com os cientistas americanos.

O foco de Alcântara atualmente está em pequenos foguetes nacionais, chamados de veículos de sondagem. Entre eles, estão os modelos da família Sonda (Sonda II, III e IV). Entram na conta, também, os suborbitais VS-30, VSB-30, VS-40 e o veículo lançador de satélites (VLS).

Foi durante o primeiro lançamento do VLS brasileiro, em 2003, que aconteceu a maior tragédia do programa espacial nacional, quando 21 técnicos e cientistas brasileiros morreram em um incêndio. Desde então, houve tentativas de aproximação do Brasil com o governo da Ucrânia para o lançamento de satélites – mas as conversas finalizaram sem acordo em 2015.

Geografia favorável

A posição geográfica do Centro de Lançamento de Alcântara faz dele uma das bases mais estrategicamente privilegiadas do mundo. E essa vantagem se reflete no aspecto financeiro. Mandar algo para o espaço a partir de Alcântara pode significar uma economia de combustível de até 30%.

A explicação para isso é relativamente simples: a velocidade de rotação da Terra é maior nas áreas próximas ao Equador do que no restante do planeta, o que serve para dar um impulso extra ao satélite ou foguete que será lançado. E a base de Alcântara, distante 32 km de São Luís, capital maranhense, está numa latitude ao 2º18′ ao sul da linha imaginária que divide o planeta ao meio. Bem mais próximo do que São Paulo, por exemplo, cuja latitude é 23º5′ sul.

A velocidade que satélites e foguetes têm que atingir para conseguir escapar da atmosfera e chegar ao espaço é de 40 mil km/h. Um satélite que é lançado da base brasileira, onde a rotação da Terra é de 1.668 km/h, tem um impulso maior do que teria se saísse de São Paulo, que gira a uma velocidade de 1.535 km/h.

“São apenas 133 km/h”, você, leitor, deve estar pensando. Mas essa diferença singela, a longo prazo, pode representar uma vantagem considerável. Poupando mais combustível, satélites podem ter mais peso – ou levar mais equipamentos, por exemplo.

Além da proximidade com o Equador, Alcântara é privilegiada também por características únicas do nordeste brasileiro, como regime climático e de chuvas bem definido.

Outro fator favorável é a estabilidade geológica da região. Comparada a outras regiões de latitude baixa do planeta, como a área central do continente africano e ilhas do oceano pacífico, o nordeste não sofre com problemas como vulcanismo e tremores de terra. Você pode ver um mapa com a localização de todos as bases para lançamentos de satélites do mundo neste link.

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