Por que o Havaí pode declarar guerra ao protetor solar
Legisladores articulam plano para proteger o bem mais precioso da região, os recifes de corais, que sofrem com substâncias químicas presentes em protetores
Desde pequenos aprendemos que usar protetor solar é essencial para evitar queimaduras solares e câncer de pele, ainda mais na praia. Mas se por um lado a proteção contra a radiação ultravioleta é uma aliada dos banhistas, por outro, o uso indiscriminado de determinados cremes protetores pode prejudicar seriamente um dos ecossistemas marinhos mais ricos e delicados do mundo: os recifes de corais.
É que muitos dos protetores solares disponíveis no mercado contêm duas substâncias químicas — a oxibenzona e o octinoxato — que estudos científicos realizados em laboratório associam a problemas de reprodução de corais e ao seu branqueamento, o que os deixa enfraquecidos, e com o tempo, leva à morte (fenômeno que também é desencadeado com o aquecimento das águas pelas mudanças climáticas).
Em 2016, uma equipe de cientistas americanos relatou que essas substâncias poderiam interromper o crescimento de corais, e que a oxibenzona, em particular, é tóxica para sete espécies. Esses filtros químicos são liberados da pele a medida que as pessoas mergulham, nadam, surfam ou mergulham no mar.
Nas águas do Havaí, pesquisadores observaram que a oxibenzona alcança concentrações 30 vezes superiores ao nível considerado seguro para corais. Como muito do sucesso da região se deve ao turismo ecológico, que depende dos corais, os legisladores já articulam um plano para proibir a venda e uso de protetores solares que contenham essas substâncias por lá.
No começo do ano, o senador Will Espero apresentou um projeto de lei ao congresso estadual que proíbe produtos que contenham oxibenzona e octinoxato (exceto sob prescrições médicas) em todo o Havaí. Ele argumentou que a medida é crucial para a manutenção da saúde dos recifes de corais, essenciais para o turismo da região.
O site do Departamento de Havaí de Terras e Recursos Naturais lança o alerta: “[Estes produtos químicos] causam deformidades em larvas de coral (planulae), tornando-as incapazes de nadar, desenvolver e formar novas colônias de coral. Também aumenta a taxa de branqueamento dos corais. Isso põe em risco a saúde dos recifes e reduz a resiliência às mudanças climáticas”.
A medida encontra resistência de fabricantes de protetores solares, que dizem que as evidências científicas ainda não são fortes o suficiente para justificar uma proibição. Pelo visto, a guerra aos protetores solares nocivos está só começando.
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Este conteúdo foi originalmente publicado em Exame.com