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Por que os pássaros urbanos são menos coloridos que os do interior?

Poluição do ar e até a falta de alimentos ricos em carotenoides faz com que as penas das aves da cidade sejam mais escuras e sem brilho.

Por Rafael Battaglia
21 set 2024, 14h00

Um estudo publicado em agosto na revista Landscape and Urban Planning analisou 547 espécies de pássaros em 42 cidades na China e comparou os indivíduos que habitavam as áreas urbanas com o das regiões rurais dos municípios.

Os cientistas descobriram que as aves que viviam nas zonas urbanas tinham, em média, penas mais escuras e sem brilho em comparação com os do campo. Além disso, a plumagem os pássaros citadinos se mostrou mais homogênea (ou seja, menos diversa) do que seus primos do interior.

(Essa não é uma comparação entre urubus e pica-paus, claro. As diferenças foram notadas entre indivíduos de uma mesma espécie.)

O estudo não é o primeiro a descrever esse fenômeno. Em março, por exemplo, uma revisão de 59 pesquisas publicada na revista Biological Reviews também chegou à conclusão de que as penas de pássaros urbanos são menos brilhantes. O artigo também ressaltou que as cores vermelha, amarela e laranja são as mais afetadas.

Mas, afinal, por que isso acontece? Aves que vivem em cidades, claro, estão frequentemente sujas por conta da poluição. Mas só um banho (ou uma chuva) não basta. O fenômeno é mais complexo do que isso. Vamos entender algumas possíveis explicações.

Penas mais escuras

Pássaros urbanos estão mais expostos a metais pesados como chumbo, cortesia do ar poluído. E aves com maior concentração desses metais na corrente sanguínea põem menos ovos e são mais inférteis.

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Mas nem todos sofrem com esse problema. Espécies que produzem mais melanina (o pigmento que confere às penas os tons mais escuros) conseguem reduzir a concentração de alguns metais no sangue, já que a melanina se liga a íons de metais como chumbo e zinco). Ou seja: são mais eficazes em se desintoxicar.

A hipótese, então, é de que a alta produção de melanina daria uma vantagem evolutiva a essas aves em ambientes urbanos. Com o tempo, esses pássaros conseguiriam deixar mais descendentes do que seus pares com penas mais claras. Eis o desequilíbrio cromático nas grandes cidades.

É provável, contudo, que a alta presença de aves mais escuras aconteça por conta de um conjunto maior de fatores. Um estudo de 2014 que se debruçou sobre esse tema, por exemplo, ressaltou que esses pássaros “são mais ousados ​​e agressivos — características que poderiam igualmente explicar seu sucesso em um ambiente urbano competitivo¨.

Penas sem brilho

Em 2023, uma análise de 23 estudos mostrou que, na Europa, o chapim-real (Parus major), a pequena ave com peito amarelado na imagem que abre este texto, apresenta cores mais pálidas e desbotadas quando é visto nas cidades. Por quê?

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No caso de cores quentes, como vermelho, laranja e amarelo, o grupo de pigmentos responsáveis é o dos carotenoides, substância produzida por plantas, algas e fungos. Cenouras, beterrabas e pimentões são alimentos ricos em carotenoides, por exemplo.

Os pássaros não conseguem produzir carotenoides no seu organismo, apenas converter o que arranjam na alimentação. E é aí que os indivíduos urbanos encontram um problema.

As árvores e plantas que estão em ambientes urbanos armazenam menos carotenoides (provavelmente, por causa da poluição). E isso gera consequências em toda a cadeia alimentar, já que os insetos que comerão essas plantas absorverão menos carotenoides. E, por sua vez, as aves que devorarão esses insetos também terão uma dieta mais pobre.

O resultado mais visível, claro, são as plumagens mais xôxas, sem vida. Mas não só: carotenoides também ajudam a regular o sistema imunológico. A falta de cor, então, pode dar sinais da saúde do passarinho.

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É claro que estabelecer essa relação não é tão simples assim. Mas esses estudos ajudam a entender como as mudanças no habitat provocadas pela urbanização afetam a vida das aves. No caso, para pior.

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