Projeto quer que leigos opinem sobre ciência
Para grupo, colegiados de cientistas e cidadãos poderiam orientar atividade científica.
Um grupo de cientistas de 22 países está organizando reuniões para que pessoas leigas discutam assuntos relacionados à ciência. O foco são temas que trazem dilemas éticos e sociais, como a edição genética. Ricardo Mendonça, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) envolvido no projeto, explica a importância de envolver pessoas sem conhecimento técnico em discussões antes restritas a cientistas.
Como alguém leigo pode opinar sobre algo que não domina?
Cidadãos não dominam, não vão dominar e não precisam dominar todos os assuntos, já que a democracia não requer conhecimento técnico sobre tudo. Mas ela [a democracia] precisa do julgamento político, que, por sua vez, envolve os cidadãos. Platão diria “eu não confio nem minha embarcação a qualquer um, por que vou confiar a pólis?”. Se a economia não fosse alvo de debate, se só existisse uma solução correta, então, no final, não seria necessário democracia. Defendemos que isso também vale para certas áreas da ciência. Mas, para que alguém opine, é preciso, primeiro, proporcionar acesso a um conhecimento traduzido e exposto de forma didática por especialistas.
Como poderiam funcionar essas reuniões?
Já existem, nos 22 países, fóruns públicos voltados à discussão de aspectos da edição genética, como sua aplicação na produção alimentar. O passo seguinte é fazer uma Assembleia Global. Nela, cerca de cem cidadãos do mundo todo, escolhidos aleatoriamente, serão divididos em grupos de dez pessoas, com mediadores, para discutir o tema. A ideia é formular documentos públicos e se unir a organizações internacionais, que devem fazer a divulgação desses registros. Acreditamos que esse processo pode oferecer diretrizes que ajudem na regulamentação nacional e internacional do método científico.