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Sexo – O que não é normal?

Transexualidade, aversão ao sexo, fetiches. Tudo que é humano pode ser normal - até o momento em que atrapalhar sua vida. Saiba qual o limite entre o prazer e o que a medicina considera como doença

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h50 - Publicado em 19 Maio 2012, 22h00

Tiago Cordeiro

Em 2009, centenas de manifestantes se aglomeraram diante do hotel Hilton de São Francisco, na Califórnia. Eles protestavam contra o grupo de especialistas que se reunia no local. Não eram políticos nem economistas, mas psiquiatras. O movimento era liderado por grupos defensores de transexuais, que pediam a retirada de sua orientação sexual da lista de transtornos mentais. Eles não se conformam de fazer parte do mesmo documento que até 1987 incluía o homossexualismo.

E não se trata só de transexualismo. O DSM-4, bíblia do diagnóstico psiquiátrico, tem uma seção inteiramente dedicada aos “transtornos sexuais e de gênero, que se dividem em transtornos de identidade, disfunções sexuais e parafilias – comportamento sexuais centrados em objetos, atividades ou situações estranhos (veja quadro à direita).

Isso quer dizer que um casal sadomasoquista é ruim da cabeça? Não necessariamente. “Se a população do planeta fosse submetida a uma análise psiquiátrica rigorosa, praticamente todos seriam enquadrados em algum tipo de distúrbio”, diz o psiquiatra Darrel Regier, diretor executivo do Instituto de Pesquisa e Educação da Associação Americana de Psiquiatria. “Os compêndios de medicina não listam apenas as doenças que exigem tratamento hospitalar. Eles descrevem os sintomas da gripe, por exemplo. O mesmo vale nesse caso.”

Quando o sexo então vira transtorno? “Para parafílicos, pessoas com ejaculação precoce ou transexuais, o distúrbio começa quando a rotina fica comprometida”, diz Kenneth Zucker, psicólogo e professor do departamento de psiquiatria da Universidade de Toronto, no Canadá. “Em alguns casos, é impossível conviver com o hábito sexual sem buscar terapia. Outras vezes, a pessoa apenas tem hábitos diferentes dos da maioria.”

Vejamos o caso das fantasias sexuais. Nada mais normal: elas aumentam o prazer do sexo e quebram a rotina. Sem elas, o tesão morreria. Mas, enquanto para a maioria das pessoas, elas ocupam uma parte das atividades sexuais, para outras elas são a única fonte de prazer.

Aí temos as parafilias. Por exemplo: é difícil imaginar uma pessoa fascinada por cadáveres que não tenha dificuldades pessoais para realizar suas fantasias. Isso para não falar das graves implicações criminais e sociais da pedofilia.

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A psiquiatria também considera transtorno mental quando o sexo não funciona bem. Disfunção erétil, ejaculação precoce, dificuldade de ter orgasmo, falta de excitação sexual, aversão ao sexo, dor durante a penetração. Uma pessoa com tais dificuldades é candidata à terapia para lidar com seus traumas e suas dificuldades de relacionamento.

 

 

Vida sem aquilo

Tudo isso pode parecer razoável. Mas as fronteiras da normalidade são mais sutis. É normal, por exemplo, que alguém simplesmente não se interesse pelo sexo? Para a medicina, não exatamente.

O DSM-4 prevê o “transtorno de desejo sexual hipoativo” – a deficiência ou ausência de fantasias e desejo sexuais, que leva a pessoa a sofrer ou ter dificuldades interpessoais. Ou seja, se o paciente não sofrer com isso, não haverá problema algum. É o que ocorre com os autodenominados “assexuais”. Alguns deles até querem ter um relacionamento romântico com outras pessoas, do mesmo sexo ou do oposto, mas não se interessam pela parte “quente” do relacionamento.

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É aí que vem a pegadinha. Eles dizem estar felizes assim. Mas como evitar “dificuldades interpessoais” se o parceiro do assexual quiser transar com ele? No final das contas, o que acaba definindo então se o assexual tem ou não o “transtorno de desejo sexual hipoativo” não é ele mesmo, mas o seu parceiro.

Por que alguém deveria ser diagnosticado com um distúrbio por causa do desejo sexual alheio? Esse bug foi uma das razões para os assexuais se organizarem e pressionarem pela mudança no DSM, tal como já fizeram os homossexuais e os transexuais. Eles têm até uma comunidade de Aven (Rede para a Visibilidade e a Educação sobre Assexualidade, na sigla em inglês), criada há 10 anos pelo americano David Jay, 28 anos, virgem e feliz.

Mas os defensores da manutenção dos transtornos também têm argumentos fortes. No caso dos transexuais, é fato que, além de sofrer todo tipo de segregação, eles ainda recebem o estigma de doença mental ao ser rotulados como portadores de transtorno de identidade de gênero. Só que é a medicalização de sua condição que permite, por exemplo, a cirurgia de redesignação sexual – a mudança de órgãos genitais, última instância para reparar a incompatibilidade entre corpo e identidade, já feita em um em cada 30 mil homens adultos na Europa.

 

Taras
As parafilias mais comuns e o significado de cada uma

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Exibicionismo:
Mostrar a genitália a estranhos.

Fetichismo:
Usar objetos como estímulo sexual.

Frotteurismo:
Tocar outra pessoa ou se esfregar nela sem consentimento.

Pedofilia:
Atração por crianças abaixo de 13 anos.

Masoquismo:
Prazer em sentir dor.

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Sadismo:
Prazer em causar dor.

Voyeurismo:
Prazer em observar, sem consentimento, uma pessoa tirar a roupa ou transar.

Necrofilia:
Atração por cadáveres.

Zoofilia:
Atração por animais.

Urofilia:
Prazer no contato com urina.

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Coprofilia:
Prazer no contato com fezes.

Clismafilia:
Prazer em injetar líquidos no ânus.

Parcialismo:
Foco exclusivo em um pedaço do corpo, como os pés.

 

 

Para saber mais

Transtornos da Identidade de Gênero na Infância
Roberto Graña, Casa do Psicólogo, 2002.
www.asexuality.org

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