Sonda que Nasa enviará ao Sol ganhou o nome de Eugene Parker
O astrofísico, com 90 anos, criou polêmica em 1958 ao prever a existência dos ventos solares, ondas supersônicas de partículas liberadas pela estrela
A Nasa, agência espacial norte-americana, já tem um nome para a sonda espacial que partirá rumo ao Sol em julho de 2018: Parker Solar Probe, em homenagem ao astrônomo Eugene Parker. É a primeira vez que um cientista vivo dá nome a uma missão não-tripulada – a sonda Juno, que esses dias tirou uma foto das nádegas de Júpiter, é esposa de Júpiter na mitologia grega, e os telescópios Kepler e Hubble levam os nomes de gênios que já foram dessa para a melhor há algum tempo.
Eugene Parker é professor emérito (aposentado) da Universidade de Chicago, e já tem 90 anos. Em 1958, deu os toques finais em uma teoria recebida com muito ceticismo pela comunidade científica da época: ele previu que o Sol libera tempestades supersônicas de partículas eletricamente carregadas, os famosos “ventos solares”.
Todos pensaram que ele tivesse um parafuso a menos. Mas suas conclusões só estavam à frente de seu tempo.
Parker percebeu que a temperatura na coroa solar – espécie de halo de plasma que é visto flutuando de forma fantasmagórica em torno do astro durante eclipses – era algo entre 1 milhão e 3 milhões de graus Kelvin. Já na superfície do Sol, que corresponde ao contorno visível de sua circunferência, o calor alcançava “apenas” 5,8 mil graus Kelvin.
Em outras palavras, as bordas são muito (muito!) mais quentes que o meio. Por causa dessa situação instável, a gravidade perde a capacidade de manter a coroa em torno do astro – esse plasma todo, superaquecido, é expulso e avança espaço adentro, atingindo os planetas que estão em volta, inclusive a própria Terra.
Os risos passaram, o homem foi ao espaço e o tempo deu razão a Parker: observações diretas comprovaram a existência dos ventos solares. Mas ainda não se sabe com certeza porque a atmosfera solar fica tão aquecida – e por que os ventos alcançam velocidades de algo entre 250 e 750 quilômetros por segundo. A nova sonda, portanto, dará continuidade ao trabalho do pesquisador – e chegará mais perto da atmosfera solar do que um ser humano jamais poderia.
A Parker Solar Probe, um pouco menor que um carro popular, será lançada em 31 de julho do ano que vem, passará por Vênus em setembro e só alcançará o ponto mais próximo da estrela em 2024. Será um rasante de chamuscar a roupa: ela passará a 3,1 milhões de milhas do astro, região em que a temperatura alcança 1.400 ºC.
É claro que a distância é enorme para a escala humana, mas é ideal para compreender os ventos solares sem virar churrasco. É nesse ponto do trajeto que, em geral, o plasma liberado pelo Sol atinge velocidades superiores à do som. Dali, a sonda poderá observar e medir o fenômeno com precisão, de camarote.
Essas informações vão mudar a maneira como compreendemos todas as estrelas, e nos darão ferramentas para prever fenômenos potencialmente perigosos para a Terra com mais exatidão. Parker afirmou que se sente honrado pela homenagem, e que construir um artefato capaz de suportar temperaturas tão altas é um feito tecnológico admirável.
“O negócio com o espaço é que todo mundo já fez o que era fácil – sobraram as tarefas difíceis, e essa é arriscada por definição”, afirmou ao jornal britânico The Guardian Tim Horbury, astrofísico do King’s College de Londres. “Eles vão além dos limites possíveis, e é assim que se faz progresso.”