Transplante de coração de porcos em humanos será possível em três anos, diz especialista
Para Terence English, um dos pioneiros no transplante de corações humanos, o novo procedimento irá virar realidade mais depressa do que se imagina.
“Xenotransplante” é o nome dado ao transplante de órgãos entre espécies diferentes. Muitos pesquisadores enxergam isso como o futuro dos transplantes, devido a dificuldade de órgãos humanos disponíveis para tal procedimento.
Pode parecer inusitado, mas um dos animais mais promissores para a técnica é o porco. Anatomicamente, órgãos como fígado, coração e rins deles são muito parecidos com os nossos. Lógico, os de animais primatas também são, mas os porcos chegam a fase adulta bem mais rápido – com apenas 1 ano, um porco já atinge sua maturidade e pode ser doador, enquanto o macaco só chega na mesma fase aos 7 anos –, o que facilita bastante as pesquisas.
Agora, segundo um relatório do cirurgião inglês pioneiro em transplantes de coração no Reino Unido, Sir Terence English, um transplante de coração entre suínos e humanos está mais próximo do que imaginamos: pode acontecer em 2022.
A equipe do médico de 87 anos (e mais de 50 de medicina dedicada a transplantes) já está agendando um teste clínico para substituir um rim humano defeituoso por um de porco este ano. Se tudo der certo, ele acredita que isso pode mudar drasticamente os tratamentos humanos.
“Se o resultado do xenotransplante for satisfatório com os rins suínos em seres humanos, é provável que os corações sejam usados com bons efeitos em humanos dentro de alguns anos”, afirmou ele ao The Sunday Telegraph. “Se funcionar com rim, certamente funcionará com um coração – e vai transformar a questão [dos transplantes]”.
Em maio deste ano, uma terapia genética em porcos para tratar corações que sofreram dano pós ataque cardíaco se mostrou promissora. E os especialistas esperam testar o transplante com corações adaptados o mais rápido possível.
Para um rim, coração ou pulmão de porco salvarem a vida de uma pessoa, o sistema imunológico humano tem que ser induzido a não reconhecer que aquele novo órgão provém de outra espécie. É aí que entra a técnica de edição de genes Crispr, permitindo que os pesquisadores façam alterações específicas, realizando pequenas adaptações necessárias no órgão. Claro, medicamentos imunossupressores para combater uma possível rejeição serão necessários, mas hoje até procedimentos entre humanos exigem que o transplantado tome essas medicações – alguns para o resto da vida.
Vale lembrar que os britânicos não estão sozinhos nessa empreitada: cientistas americanos estão testando órgãos de suínos em primatas não humanos, um passo crucial em direção a um ensaio clínico em seres humanos. Na Coreia do Sul, pesquisadores pretendem transplantar córneas de porco para humanos dentro de um ano. No Brasil – país que ocupa a segunda colocação em número absoluto de transplantes, atrás apenas dos Estados Unidos –, a pesquisadora Mayana Zatz lidera uma série de estudos para tornar possível o transplante entre suínos e humanos.
Os cientistas mais otimistas acreditam, inclusive, que porcos prontos para transplante poderiam fazer muito mais do que apenas fornecer órgãos: poderiam, também, serem usados para produzir células capazes de solucionar problemas como diabetes, anemia falciforme e até Parkinson. Resta esperar para ver os resultados dos primeiros testes clínicos – e como aspectos éticos, religiosos e legais do xenotransplante serão encarados após um possível sucesso.