Um incrível mapa interativo para quem quer entender raça no Brasil
Um novo site permite enxergar a distribuição dos grupos étnicos no Brasil. A conclusão: o país é muito mais segregado do que gostamos de imaginar.
Foi lançado ontem um mapa interativo em altíssima resolução que permite visualizar de um jeito fantástico a distribuição racial do Brasil, a partir dos dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Esta imagem é composta de 190 milhões de pontos minúsculos – um para cada um dos 190 milhões de brasileiros. A cor dos pontos segue a seguinte lógica:
A primeira coisa que salta aos olhos quando se olha o país inteiro é a divisão entre um sul que se declara majoritariamente branco (pontos azuis) e o resto quase exclusivamente pardo (pontos verdes). A população negra (pontos vermelhos) se concentra em alguns pontos, principalmente na Bahia, enquanto populações indígenas predominam em regiões de fronteira, na Floresta Amazônica.
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O mapa deixa claro que segregação racial é sim uma questão no Brasil. A Região Metropolitana de São Paulo, por exemplo, apresenta um centrão pardo, rodeado de bairros brancos, que por sua vez são circundados por periferias pardas:
Claramente os brancos vivem nos melhores bairros, enquanto as populações pardas ou estão em regiões periféricas pouco urbanizadas ou no Centro decadente.
No Rio de Janeiro a segregação também é evidente:
Nesse caso, os brancos ocupam quase toda a costa, com exceção dos morros, onde há muitos negros em meio a uma maioria parda. A população das periferias é também majoritariamente parda.
Salvador é um caso atípico, pela grande população que se declara negra. As populações brancas se concentram em poucos bairros costeiros, relativamente pequenos:
Um caso revelador é o de Brasília, a capital do país. Enquanto o Eixo Monumental, sede do poder político brasileiro, é majoritariamente branco, as cidades-satélite são quase todas pardas:
O mapa interativo é um projeto da Pata, uma empresa de visualização de dados criada por três programadores brasileiros. O projeto foi inspirado por um mapa similar lançado recentemente nos Estados Unidos. Comparando-se as imagens geradas pelo mapa brasileiro e pelo americano, é fácil notar que as linhas que dividem etnias nos EUA são muito mais rígidas que as brasileiras. Um exemplo extremo é a cidade de Detroit, onde uma rua separa uma cidade quase exclusivamente negra (verde) de uma cidade quase exclusivamente branca (azul):
Outra diferença é que, nos EUA, tanto os bairros brancos quanto os negros são traçados com linhas retas, o que indica que são bairros planejados. No Brasil um padrão bem comum é que os bairros brancos são delimitados por linhas retas, enquanto que os negros e pardos são bastante irregulares – indício de que normalmente eles surgem a partir de ocupações informais, sem nenhum planejamento.