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Vaga-lumes estão sob risco de extinção, diz estudo

E a culpa é dos inseticidas, da poluição luminosa e (novamente) da ocupação humana desenfreada.

Por Bruno Carbinatto
4 fev 2020, 18h57

A lista de insetos que chamamos de vaga-lumes inclui mais de 2.000 espécies diferentes bem distribuídas pelo globo. Eles são famosos por emitir luz através de reações químicas internas em um processo chamado de bioluminescência, com o objetivo de atrair parceiros e se reproduzir. Enquanto isso, podem também atrair turistas curiosos: em países como Japão, China e Malásia, é comum que os brilhantes rituais de acasalamento dos insetos virem espetáculos para mais de 200 mil pessoas por ano. Mas esses espetáculos estão sob risco: inúmeras espécies do inseto estão enfrentando ameaças de extinção, segundo um novo relatório.

Não há muitos dados sobre o tamanho das populações de todas as espécies de vaga-lumes pelo mundo, mas algumas bastante estudadas, como o vaga-lume europeu comum (Lampyris noctiluca), vêm diminuindo nos últimos anos. Isso levou colocou especialistas em alerta. 

O problema não é exatamente novo: estudos anteriores já haviam apontado para um possível “apocalipse de insetos”, com até 41% de espécies de insetos enfrentando sérios riscos de extinção. Mas o novo estudo focou especialmente nas ameaças a diferentes espécies de vaga-lumes – algo inédito até então.

Há três motivos principais que aumentam o risco de extinção dos bichos, segundos os pesquisadores. O primeiro é a perda de habitat: assim como outros animais, algumas espécies de vaga-lumes dependem de condições específicas para completar seus ciclos de vida. Pteroptyx tener, uma espécie de vaga-lume encontrada na Malásia e conhecida por seus voos brilhantes e sincronizados, por exemplo, está sob sério risco porque é adaptada ao manguezal do país. Nas últimas décadas, os mangues malasianos vêm sendo substituídos por plantações de óleo de palma.

O segundo motivo é o que mais surpreendeu os cientistas: poluição luminosa. Já se sabe que as luzes artificiais afetam os ritmos de diversos animais (incluindo os próprios humanos), mas elas são especialmente danosas para os vaga-lumes, que utilizam suas próprias luzes para atrair parceiros. Em um mundo onde pelo menos 23% da superfície é constantemente iluminada, esse processo fica mais difícil para os animais.

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Outra ameaça é o aumento do uso de inseticidas. A maioria dos vaga-lumes passa por estágios larvais, em que ficam enterrados ou debaixo da água por até dois anos enquanto se desenvolvem. É nesse período que os insetos estão mais vulneráveis a inseticidas como neonicotinóides ou organofosfato – que são usados para matar pestes, mas que podem acabar afetando também insetos benéficos, incluindo os vaga-lumes.

A pesquisa também identificou algumas espécies que parecem estar especialmente ameaçadas. A Phausis reticulata, conhecidos como “fantasma azul” pelo forte brilho colorido que emite, está sob sério risco. Tudo porque as fêmeas da espécie não têm asas e dificilmente conseguem migrar de habitat caso ele seja destruído.

Por sorte, nem todos estão na pior. O Photinus pyralis, uma espécie de vaga-lume bastante comum na América do Norte, parece estar resistindo às ameaças e se adaptando a diferentes locais. Mas o problema permanece, e cientistas e ativistas vêm pensando em estratégias para preservar esses insetos tão únicos.

“Nosso objetivo é disponibilizar esse conhecimento para donos de terras, para quem cria políticas públicas e para fãs de vaga-lume em todo o mundo”, diz Sonny Wong, da Sociedade Natural da Malásia e coautor do novo artigo. “Queremos manter os vaga-lumes iluminando nossas noites por muito, muito tempo”.

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