Vida ET
A próxima década será a chance de descobrir pistas de seres vivos em planetas fora do nosso Sistema Solar
Texto R.L.
Discos voadores, se é que existem, nunca deixaram indícios confiáveis de suas visitas à Terra. Pelo visto, se quisermos achar vida extraterrestre, temos de tomar a iniciativa. A boa notícia é que, pela primeira vez na história, aparelhos desenvolvidos pelo homem, alguns já no espaço, outros a ser lançados ao longo da próxima década, terão a chance de buscar indícios da presença de seres vivos em outros planetas pelo Universo afora.
Como as perspectivas de ter sucesso nesse tipo de missão dentro do sistema solar parecem um bocado baixas, os esforços dos pesquisadores estão se concentrando nos chamados planetas extrassolares – os mais próximos orbitam estrelas a cerca de 4 anos-luz de nós. (Na nossa vizinhança espacial, pode até ser que Marte ou alguma das luas de Júpiter e Saturno, como Europa e Titã, reservem algumas surpresas, mas os ambientes por lá são tão extremos que é melhor não esperar muito.)
Sem inventar
Seja como for, não dá para querer inventar muito. Os únicos parâmetros confiáveis sobre a presença de vida se referem às criaturas que conhecemos. Portanto, a melhor pedida é procurar sistemas estelares com configurações que ao menos lembrem a da Terra. A parte preliminar desse serviço está sendo realizada por um satélite europeu com participação brasileira, o Corot, lançado em 2006, e o americano Kepler, que partiu para o espaço neste ano.
A missão inicial desses dois é simplesmente achar planetas terrestres, ou seja, cujo tamanho não ultrapasse muito o nosso e que sejam formados por rochas, como a Terra. Também é importante que as observações tentem determinar a distância do planeta em relação à estrela mãe, porque isso indicará se ele está na chamada zona habitável, a faixa de proximidade na qual é possível encontrar água líquida (considerada indispensável à vida). A técnica para isso é simples: ao passar na frente de sua estrela (o chamado trânsito), o planeta extrassolar induz uma minúscula diminuição da luminosidade do astro, que os telescópios espaciais são capazes de detectar se estiverem olhando.
Espera-se que o Corot e o Kepler, ao fim de suas missões, produzam uma espécie de “lista negra” de regiões da galáxia onde a presença de planetas rochosos na zona habitável de suas estrelas é grande. É a partir dessa lista que a coisa deve esquentar de vez. Um pouco depois de 2015 (a data exata ainda está sujeita a negociações e mudanças de orçamento), a Nasa e a Agência Espacial Europeia planejam mandar para o espaço missões ainda mais ambiciosas. O Terrestrial Planet Finder (TPF, americano) e o Darwin (europeu) devem usar técnicas avançadas, como o uso de minifrotas de telescópios espaciais, para obter imagens diretas dos planetas terrestres fora do sistema solar, coisa que é muito difícil de fazer com os instrumentos de hoje.
Meio pixel
Não espere um superpôster dos homenzinhos verdes: as imagens vão ter uma resolução ridícula, sendo pouco melhores que um pontinho, por causa das distâncias enormes e da luz tênue refletida pelos planetas. Mas mesmo isso será uma realização histórica, porque esse tiquinho de luz trará informações sobre o tipo de atmosfera dos planetas, o que pode ser um indício confiável a respeito da presença de vida neles. Não estamos falando apenas da presença de vapor d’água ou de oxigênio, embora essas coisas obviamente sejam importantes. Talvez você ache engraçado, dada a atual onda ambientalista e até ecoxiita no mundo, mas o fator mais importante da atmosfera de um local com vida talvez seja o desequilíbrio – no sentido de que ela possui componentes que, se dependesse de reações químicas não vivas, teriam se misturado e entrado em equilíbrio há muito tempo. Um exemplo disso é a esquisitíssima ocorrência simultânea de oxigênio e metano na atmosfera da Terra. Em condições não orgânicas, os dois deveriam ter reagido para formar gás carbônico, o qual, então, ficaria estável. Mas o metano e o oxigênio acabam sendo repostos incessantemente por plantas e bactérias que fazem fotossíntese e por bactérias metanogênicas, respectivamente.
Se características desse tipo forem detectadas na atmosfera de planetas na nossa galáxia, restará escolher os mais promissores, e mais próximos, para o envio de uma sonda não tripulada, como as que mandamos para Marte hoje em dia. A viagem pode demorar décadas, ou até séculos, mas nós, ao menos, seremos a geração responsável por dar o pontapé inicial nessa jornada.