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Vídeo flagra ratazanas predando morcegos em pleno voo

Registro inédito de predação entre os dois animais acende alerta para o compartilhamento de patógenos e a conservação de morcegos selvagens

Por Bela Lobato
Atualizado em 4 nov 2025, 16h21 - Publicado em 4 nov 2025, 16h00

Há quem chame os morcegos, com a intenção de ofender, de ratos com asas. Os animais têm suas semelhanças, é verdade: são mamíferos, o que faz com que dividam os focinhos peludos e os olhos expressivos. São noturnos, adaptam-se bem à vida urbana e são popularmente associados a doenças. 

Mas um estudo dá pistas de que a relação entre os dois não é tão amigável quanto se poderia imaginar. Décadas de testes científicos já provaram que roedores são inteligentes e capazes de executar tarefas complexas. Agora, as ratazanas (Rattus norvegicus) ganharam mais uma habilidade em seu currículo invejável: conseguem caçar morcegos-da-água (Myotis daubentonii). 

É o que indica um novo estudo, publicado na revista Global Ecology and Conservation, que flagrou a predação com câmeras noturnas na Alemanha [veja o vídeo abaixo].

As ratazanas, espertas, conseguem capturar os morcegos em pleno vôo ou quando estão repousando distraidamente no solo.

“Nossas observações mostram como as ratazanas são adaptáveis e hábeis na exploração de recursos alimentares em ecossistemas urbanos”, afirma Florian Gloza-Rausch, autor principal, em um comunicado. “Até onde sabemos, esse tipo de comportamento não havia sido documentado cientificamente antes.”

 Mas a interação pode ser má notícia, por várias razões: morcegos e ratazanas são reservatórios de patógenos. Isso significa que eles armazenam microrganismos causadores de doenças, sem necessariamente adoecer. A predação sugere que as duas espécies podem estar trocando patógenos, como quem troca figurinhas.

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Essas interações podem, eventualmente, afetar a saúde humana. Segundo a Organização Mundial da Saúde, algo entre 60% e 75% das novas doenças infecciosas surgem do contato entre humanos e animais. 

Outra preocupação é o impacto da predação na população de morcegos. Há muito tempo, pesquisadores sabem que roedores invasores podem causar grandes perdas de biodiversidade em ilhas, levando ao declínio ou mesmo à extinção de espécies endêmicas (nativas daquele local).

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(Gloza-Rausch et al., Global Ecology and Conservation, 2025/Reprodução)

Os dados reforçam a importância de controlar populações invasoras de ratazanas, gerenciando melhor resíduos e esgotos urbanos. “O controle direcionado de ratazanas em locais-chave de hibernação de morcegos protegeria as populações vulneráveis de morcegos e reduziria os riscos potenciais à saúde pública”, enfatiza Mirjam Knörnschild, coautora do estudo, no mesmo comunicado.

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Como foi feito o estudo

As observações se concentraram em dois locais de hibernação de morcegos urbanos no norte da Alemanha, nas cidades de Lüneburg e Bad Segeberg – onde uma caverna, perto de um movimentado teatro ao ar livre, abriga mais de 30 mil morcegos no inverno.

Os cientistas utilizaram câmeras infravermelhas e dispositivos de imagem térmica para investigar os locais durante os períodos de alta atividade dos morcegos entre 2020 e 2024. 

“As ratazanas foram frequentemente observadas patrulhando a plataforma de pouso na entrada da caverna”, escrevem os pesquisadores no artigo. Os ataques ocorreram no escuro da noite, quando os morcegos estão mais ativos. Como as ratazanas não enxergam bem, os cientistas suspeitam que elas usavam os bigodes para perceber a corrente de ar provocada pelo bater das asas.

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 “Elas ficavam em pé sobre as patas traseiras, usando as caudas para se equilibrar e levantando as patas dianteiras para interceptar os morcegos voadores. Indivíduos foram documentados capturando morcegos no ar, matando-os imediatamente com uma mordida e arrastando-os para longe”, completam.

Em Bad Segeberg, 30 tentativas de predação e 13 mortes foram flagradas pelas câmeras. Estudando o local, os pesquisadores também descobriram os restos mortais de pelo menos 52 morcegos. Alguns nem haviam sido totalmente comidos – talvez tenham sido guardados pelas ratazanas para um lanchinho posterior. 

Já em Lüneburg, os pesquisadores não observaram nenhuma morte diretamente. Mas eles viram ratos rondando as fendas das rochas onde os morcegos se escondem – e encontraram um esconderijo semelhante de carcaças de morcegos. Mesmo sem evidências diretas, eles acreditam que a caça também ocorra no local. 

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Os pesquisadores fizeram cálculos para entender o potencial impacto na população local de morcegos: uma ratazana cuja dieta fosse composta exclusivamente de morcegos (um cenário drástico e improvável) precisaria de um ou dois morcegos por dia. 

Ao multiplicar isso pelo número de ratazanas nas colônias urbanas, o artigo conclui que entre 2.100 e 8.400 morcegos poderiam ser mortos em uma temporada de hibernação. Considerando uma colônia de 30 mil morcegos, como a de Bad Segeberg, o almoço das ratazanas consumiria 7% da colônia um único inverno. 

Não deve ser o único desafio enfrentado pelos morcegos estudados, que já sofrem outras ameaças à sua sobrevivência, como a poluição sonora, luminosa e a expansão urbana. É só acrescentar ratazanas famintas à lista.

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