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Vírus da dengue e da zika podem te deixar mais atraente para os mosquitos

Novo estudo aponta que os vírus podem alterar o odor de seu hospedeiro para atrair os insetos – e favorecer sua transmissão. Entenda.

Por Luisa Costa
Atualizado em 3 ago 2022, 09h54 - Publicado em 1 jul 2022, 16h27

Os vírus da dengue e da zika podem alterar a microbiota da pele de humanos e camundongos para produzir um cheiro que atrai mosquitos – o que favorece a transmissão das doenças. A descoberta é de um estudo publicado na última quinta (30), na revista Cell.

A dengue e a zika são transmitidas por mosquitos do gênero Aedes, como o conhecido Aedes aegypti. Quando esses insetos estão em busca de sangue para se alimentar e picam alguém infectado com um vírus, passam a distribuir o agente infeccioso por aí.

Os mosquitos localizam seus alvos por meio de pistas sensoriais, como a temperatura do corpo e o dióxido de carbono (CO2) emitido pela respiração. Mas eles também podem seguir odores específicos. 

Estudos anteriores mostraram que a malária, por exemplo, transmitida por mosquitos e causada por protozoários, pode mudar o cheiro de camundongos e torná-los mais atraentes para os insetos. O estudo recém-publicado indicou que os vírus da dengue e da zika podem ter desenvolvido uma estratégia semelhante. 

Isso seria interessante para eles porque a única razão da existência de um vírus é a sua replicação – e eles só se reproduzem dentro de outro organismo. Se não há transmissão e infecções contínuas em hospedeiros, o vírus desaparece.

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Como foi o estudo

Pesquisadores da Universidade de Connecticut (Estados Unidos), da Universidade de Tsinghua (China) e de outras instituições chinesas começaram a investigação testando se os mosquitos mostravam preferência por camundongos infectados com dengue e zika. E, de fato, eles mostravam.

Então, os pesquisadores tentaram entender qual era o fator atrativo. Eles descartaram a temperatura corporal dos camundongos, porque os mosquitos pareciam não diferenciar aqueles com temperatura normal ou elevada. Também descartaram o CO2, porque camundongos com zika emitiam o gás em menor quantidade do que os camundongos saudáveis.

Sobrou avaliar o papel dos odores corporais na preferência dos mosquitos. Os pesquisadores isolaram 20 compostos químicos gasosos responsáveis pelo odor dos camundongos infectados. Então, observando as antenas dos mosquitos (seus órgãos sensoriais), perceberam que três desses compostos chamavam a atenção deles.

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Os cientistas aplicaram esses três compostos separadamente na pele de camundongos saudáveis e nas mãos de voluntários humanos. Um deles, chamado acetofenona, atraiu mais mosquitos do que o normal.

A pesquisa voltou-se a esse composto químico. Os cientistas descobriram que camundongos infectados com dengue ou zika produziam 10 vezes mais acetofenona do que outros camundongos. Além disso, descobriram que pessoas infectadas com dengue também apresentavam mais dessa substância em seu organismo.

A acetofenona é produzida por bactérias do gênero Bacillus, que vivem na pele e no intestino de pessoas e camundongos. Os cientistas descobriram que os roedores infectados não conseguem manter essas bactérias sob controle, porque sua pele tem menos de uma proteína antimicrobiana chamada RELMα.

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“Isso sugere que os vírus da dengue e da zika suprimem a produção dessa molécula, tornando os camundongos mais vulneráveis à infecção”, explica Penghua Wang, um dos autores do estudo. Os vírus poderiam, portanto, manipular a microbiota da pele dos hospedeiros para aumentar sua transmissão.

Os pesquisadores pretendem analisar mais pacientes humanos com dengue e zika para conferir se a conexão entre o odor que atrai mosquitos e a microbiota da pele é verdadeira fora dos testes de laboratório.

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