Antiviral da Pfizer reduz em 26% o risco de ter Covid longa, aponta estudo
Uma em cada dez pessoas que pegam Covid desenvolve a forma longa da doença - que pode causar danos ao coração, aos pulmões ou ao cérebro; Paxlovid impede a replicação do vírus e pode ajudar a preveni-la, indica estudo da Universidade de Washington
Uma em cada dez pessoas que pegam Covid desenvolve a forma longa da doença – que pode causar danos ao coração, aos pulmões ou ao cérebro; Paxlovid impede a replicação do vírus e pode ajudar a preveni-la, indica estudo da Universidade de Washington
No Brasil, como na maioria dos países, as mortes por Covid se estabilizaram num patamar relativamente baixo: em torno de 50 por dia. Ainda é muito (dá quase 20 mil vítimas fatais por ano, ou 4 vezes mais do que a gripe comum), mas não se compara aos piores momentos da pandemia. Hoje, o principal risco para a maioria das pessoas é a Covid longa: ela é caracterizada por sintomas persistentes, que duram mais de três meses e podem ser graves – problemas respiratórios, circulatórios e neurológicos que ainda não são bem compreendidos pela medicina, e não têm cura.
10% a 20% das pessoas que pegam Covid desenvolve a forma longa da doença – e metade tem sequelas graves. A Covid longa pode aparecer mesmo após casos leves e em pessoas vacinadas (entre elas, a incidência é de 9,5%). Talvez o pior seja que o risco aumenta, chegando a triplicar, quando a pessoa pega Covid pela segunda ou terceira vez – algo cada vez mais comum, e que pode ser inevitável a longo prazo.
Em suma: a Covid longa é um problema. Há uma bateria de tratamentos em teste contra ela, mas ainda são estudos preliminares, pequenos. Agora, saiu o primeiro grande trabalho a respeito – e com bons números. Ele foi publicado por cientistas da Universidade de Washington e de outras instituições, que acompanharam 56 mil pessoas com Covid – das quais 9 mil foram tratadas com o antiviral Paxlovid, da Pfizer, nos primeiros cinco dias após a infecção pelo Sars-CoV-2 (as demais, que serviram como grupo de controle, não).
Resultado: três meses depois, a incidência de Covid longa era 26% menor no grupo que tomou o remédio. Não é uma panaceia, mas é bem significativo. O estudo considerou 12 sintomas e sinais típicos da doença, incluindo problemas cardiovasculares, formação de coágulos no sangue, fadiga crônica, danos hepáticos e nos rins, falta de fôlego e problemas neurocognitivos.
O trabalho tem um porém: ele avaliou principalmente homens (87,6%), com idade média de 65 anos (porque foi feito com o US Department of Veterans Affairs, divisão do governo americano que oferece assistência médica a militares aposentados). Esse grupo demográfico tem Covid longa, mas não é seu alvo principal – pessoas entre 40 e 49 anos são as mais afetadas, e mulheres correm mais risco do que homens.
O National Institutes of Health (NIH), do governo dos EUA, vai fazer um outro estudo com o Paxlovid – começa em janeiro, e terá uma base amostral mais correta. Outra diferença é que ele vai avaliar a eficácia do remédio de forma corretiva, ou seja, como tratamento em quem já está com Covid longa (o estudo de agora foi preventivo, com as pessoas tomando o medicamento logo após a infecção).
Eventualmente, o Sars-CoV-2 poderá desenvolver resistência ao Paxlovid (a droga inibe uma protease, enzima que o vírus usa para se duplicar). Mas, até hoje, isso não aconteceu – sendo que milhões de pessoas, principalmente nos EUA, já foram tratadas com o remédio.
Ele está disponível no Brasil, mas em quantidade muito menor: o primeiro lote, com 50 mil doses, foi entregue ao Ministério da Saúde no final de setembro. Aqui, o Paxlovid só tem sido utilizado em pessoas sob alto risco de Covid grave (imunodeprimidos, pessoas de idade muito avançada ou portadoras de certas comorbidades).
A ciência ainda não sabe explicar a Covid longa, mas há algumas hipóteses: ela pode ser causada pela superativação do sistema imunológico (que passa a atacar o próprio corpo), persistência do Sars-CoV-2 no organismo, danos vasculares ou formação de microcoágulos no sangue.