Apple alfineta Google, mostra novo iOS e anuncia volta do Mac Pro
Crítica ao Android, morte do iTunes, russos na Lua e superdesktop com 28 núcleos e tela 6K; veja destaques do evento da empresa nos EUA
Crítica ao Android, morte do iTunes, russos na Lua e superdesktop com 28 núcleos e tela 6K; veja destaques do evento da empresa nos EUA
Tim Cook acaba de terminar a apresentação da WWDC (Worldwide Developers Conference), evento anual realizado pela Apple nos EUA. O primeiro anúncio da apresentação foi a série “For All Mankind”, que reimagina a corrida espacial: os soviéticos chegam à Lua primeiro. Parece interessante. A série, cuja produção está sendo financiada pela Apple, será exibida no serviço de streaming da empresa.
Em seguida, veio a nova versão do tvOS, o sistema operacional do Apple TV. Agora, ele é multiusuário (cada pessoa da casa pode ter seu conteúdo, preferências e recomendações separadas). Mas o principal é que o Apple TV passa a ser compatível com os controles do Xbox e do PS4 – o que pode dar um empurrão para o Apple TV como plataforma de games, uma ideia promissora que até hoje não decolou.
A empresa também mostrou o watchOS 6, para o Apple Watch. Ele tem novos mostradores (alguns são legais), novos aplicativos para ouvir podcasts e gravar mensagens de áudio, e melhorias nos recursos de saúde: em vez de simplesmente contar quantos passos você deu hoje, por exemplo, o sistema mostra gráficos que analisam isso ao longo do tempo. Outro destaque é a função Cycle Tracking, que ajuda a monitorar o ciclo menstrual (e também estará disponível para iPhone).
Ao apresentar o iOS 13, Tim Cook cutucou o Google. Segundo ele, apenas 10% dos celulares Android rodam a última versão desse sistema operacional – contra 85%, no mundo Apple, rodando iOS 12. A fragmentação e o não-repasse de atualizações são grandes problemas no mundo Android, mas essa comparação não é lá muito justa (pois o Google, ao contrário da Apple, não tem controle sobre o hardware). Mas, sim, o Google poderia pressionar os fabricantes de smartphones para que atualizassem o Android – ele já tornou tecnicamente mais fácil fazer isso, mas os fabricantes não se mexeram (preferem, por motivos óbvios, que você compre um celular novo).
Principais novidades do iOS 13: dark mode (você pode deixar a interface escura, o que economiza um pouquinho de bateria em telas OLED – mas, principalmente, fica mais bonito), teclado mais esperto, melhorias no Apple Maps (o modo “street view” parece ótimo, mas não vai fazer as pessoas largarem o Google Maps). Mas o mais interessante são as melhorias de privacidade. Além de restringir as permissões dos aplicativos -dificultando, por exemplo, que eles monitorem a sua localização física sem necessidade-, a Apple está lançando o próprio serviço de sign-in.
Sabe quando você vai se logar num app ou site, e aparece a opção “Entrar com o Google”, ou “Entrar com o Facebook”? É bem útil, serve para que você não tenha de preencher mais um cadastro, mas afeta a sua privacidade (o Google e o Facebook ganham ainda mais dados para monitorar você). O iOS e o macOS vão oferecer a opção “Entrar com a Apple”, que funciona do mesmo jeito – mas, segundo a empresa, não envolve nenhum tipo de monitoramento.
A partir de agora, o iPhone e o iPad seguem caminhos separados: o sistema operacional deste último passa a se chamar iPadOS. Sua ênfase é na multitarefa – e na tentativa de transformar o tablet da Apple num computador de verdade, adequado para trabalhar (coisa que, do ponto de vista de hardware, o iPad Pro já é). Ficou mais fácil dividir a tela entre um navegador e um editor de texto, e alternar entre os apps abertos: o iPadOS ganhou o recurso Expose, mesmo do macOS.
O gerenciador de arquivos segue a mesma onda: lembra bastante o Finder do Mac. E agora vai dar, finalmente, para conectar pendrives, leitores de cartão de memória e HDs externos diretamente ao iPad – o que ajuda muito se você quiser editar fotos ou vídeos. No navegador Safari, a Apple prometeu um desempenho “à altura do desktop”, com atalhos de teclado e 100% de compatibilidade com o Google Docs e o WordPress. É uma coleção de pequenas melhorias que, somadas, já podem ser suficientes para que muita gente troque o notebook por um iPad. Só falta mesmo liberar o uso de mouse com o tablet, o que a Apple continua impedindo (algo compreensível, pois canibalizaria os Macbooks).
Em seguida, veio o Mac Pro. Depois de abandonar sua máquina profissional, que ficou anos e anos sem atualizações (em parte devido a erros de projeto), a Apple ressuscitou o Mac profissional. É um caixotão de alumínio com a frente vazada, releitura estética do antigo PowerMac G5. As aberturas permitem que o processador, um Intel Xeon com até 28 núcleos (dependendo da configuração), opere sem limitações de velocidade causadas por superaquecimento. Segundo a Apple, o sistema de ventilação do Mac Pro é silencioso, mas circula 8500 litros de ar por minuto por dentro do gabinete. A fonte da alimentação da máquina é de 1.400 watts, quase o dobro da usada em PCs de alta performance.
O Mac Pro terá até quatro placas de vídeo AMD Radeon Pro Vega II, que somadas podem alcançar desempenho de 56 teraflops (realizar 56 trilhões de operações matemáticas por segundo), e também poderá ser equipado com a placa Afterburner, desenvolvida pela própria Apple, que acelera a edição de vídeo no programa Final Cut Pro – e permite lidar simultaneamente com três pistas de vídeo em resolução 8K, ou até 12 pistas na resolução 4K.
Nos EUA, o Mac Pro vai custar a partir de US$ 6.000 – mas isso é na configuração “básica”, com CPU de oito núcleos e 32 GB de memória. A versão mais potente será ainda mais cara, muito mais (assim que o configurador do site da Apple for atualizado, será possível fazer a conta). O Mac Pro é um superexagero, inclusive para a maioria dos usuários profissionais. É como uma Ferrari: você não precisa nem vai ter, mas é legal que exista.
Depois de muitos anos, a Apple volta a vender um monitor com sua própria marca. A tela tem 32 polegadas e resolução 6K (6016×3284). O Mac Pro poderá ser conectado a até três dessas telas. Cada uma delas custará US$ 5 mil.
Então foi a vez do novo macOS, cuja ênfase está em resolver os problemas do iTunes: ao longo dos anos, ele foi ficando cada vez mais inchado e se tornou um verdadeiro estorvo (se você já tentou transferir arquivos do seu PC/Mac para um iPhone ou iPad, sabe do que estou falando). O iTunes deixa de existir, e é substituído pelos apps Music, Podcasts e TV, mais simples e dedicados a funções específicas. A transferência de arquivos para o iPad ou iPhone passa a ser feita pelo próprio gerenciador de arquivos, o Finder.
O macOS também terá uma função de localização (como a Find my iPhone) e o recurso Sidecar, que permite usar o iPad como segundo monitor – algo que, hoje, requer a instalação de apps de terceiros. Ainda não foi desta vez que a Apple anunciou a migração do macOS para a arquitetura ARM, algo que é esperado há um certo tempo – e, quando/se acontecer, poderá detonar uma onda de inovação em notebooks e desktops (pois, na prática, representaria a fusão deles com os smartphones).
No fim do evento, os criadores do game Minecraft, que pertence à Microsoft, subiram ao palco para demonstrar uma versão do jogo em realidade aumentada, rodando num iPad. A Microsoft da era Satya Nadella é uma empresa “agnóstica”, ou seja, disposta a operar dentro das plataformas de terceiros. Mas, considerando a animosidade histórica entre Apple e Microsoft, foi um pouco surpreendente.
E, ufa, acabou. Ao contrário do que costuma acontecer nas apresentações da empresa, que começam lentas e oscilam, o WWDC 2019 foi frenético. As novas versões do iOS, macOS e demais softwares apresentados no evento serão liberadas para desenvolvedores nos próximos dias ou semanas. Para as pessoas comuns, só daqui a alguns meses.