O que é a terapia metacognitiva, que se mostrou mais eficaz contra ansiedade e depressão
Conheça a técnica que ensina a enxergar, decompor e neutralizar pensamentos ansiosos - e vem obtendo bons resultados em estudos clínicos
Conheça a técnica que ensina a enxergar, decompor e neutralizar pensamentos ansiosos – e vem obtendo bons resultados em estudos clínicos
Quando você pensa, é como se conversasse consigo mesmo: controla uma voz silenciosa, o chamado “monólogo interior”, que vai enunciando, desenvolvendo e questionando ideias. É um mecanismo cognitivo essencial, que a maioria das pessoas possui (e se forma a partir dos 18 meses de vida). Essa voz interior também pode protagonizar os chamados pensamentos ruminativos, em que a mente repassa excessivamente certas situações, levando à ansiedade. Mas e se fosse possível usá-la contra isso?
Essa é a ideia da terapia metacognitiva (TMC), que propõe usar os próprios pensamentos para controlar a ansiedade. Ela é derivada da terapia cognitivo-comportamental (TCC), que virou moda nos últimos anos. Mas com uma diferença: foca nos subcomponentes da ansiedade.
Em vez de pensar em como determinada situação afeta você, a TMC propõe refletir sobre como os pensamentos gerados por ela afetam você.
A ansiedade pode assumir muitas formas, mas quase sempre é uma combinação de elementos “positivos” ou “negativos” – ambas as palavras, aqui, são usadas em sentidos ligeiramente diferentes dos tradicionais. Suponha que você esteja ansioso com algo do trabalho, por exemplo. O componente “positivo” dessa ansiedade afirma que esse sofrimento é benéfico, pois significa que você se esforça bastante para ser um bom profissional. Já o “negativo” diz que vai dar tudo errado mesmo assim.
Na terapia metacognitiva, a pessoa aprende a decompor cada fluxo de ansiedade em seus componentes “positivos” e “negativos”, e lidar separadamente com eles. Ao contrário da psicoterapia tradicional, a TMC tem prazo definido: o tratamento costuma durar de 8 a 12 sessões.
Alguns estudos têm mostrado que ela funciona contra ansiedade e depressão – sendo mais eficaz, inclusive, do que a própria terapia cognitivo-comportamental. Em um deles, realizado em 2020 pela Universidade de Manchester, 74% dos pacientes de depressão que fizeram TMC conseguiram superar a doença (contra 56% daqueles que passaram pela TCC).
Esse estudo tem entre seus autores o psicólogo clínico Adrian Wells, da Universidade de Manchester, que é o criador da terpia metacognitiva. Mas outros trabalhos também chegaram a esses resultados.
O mais recente deles, publicado dia 20/5, analisou três testes clínicos que compararam TMC e TCC contra a ansiedade. Em todos eles, a terapia metacognitiva se mostrou mais eficaz (em média, 67% dos pacientes que fizeram esse tipo de terapia se curaram, contra 42% dos que fizeram a cognitivo-comportamental).
A TMC, assim como qualquer tipo de psicoterapia, deve ser aplicada por um profissional habilitado. Mas nada impede que você aproveite sua ideia central. Na próxima vez em que se sentir ansioso, tente enxergar os pedaços “positivo” e “negativo” daquela ansiedade, e questione-os separadamente.
Usando o exemplo anterior, de uma situação de trabalho: se preocupar em excesso com ele, e sofrer com isso, não torna ninguém melhor profissional (componente “positivo”). Pelo contrário, tende a prejudicar, porque desgasta. E pensar que tudo vai dar errado (componente “negativo”), independentemente do que você fizer, é um delírio sem base racional – pois todo desfecho depende das ações envolvidas.