Assine SUPER por R$2,00/semana
Imagem Blog

Bruno Garattoni Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Bruno Garattoni
Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.
Continua após publicidade

Na prática, remédio que “previne Covid” tem uso bastante limitado; entenda por que

Por Bruno Garattoni Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 24 nov 2021, 16h04 - Publicado em 24 nov 2021, 15h25

Manchetes sobre possível novo uso do Regn-Cov2, medicamento que já foi liberado pela Anvisa, ignoram a principal característica dessa droga; saiba qual é 

O título “Anvisa libera remédio que previne Covid” e diversas variações dele começaram a se espalhar na TV e na internet nesta quarta-feira (24). Eles induzem a uma interpretação totalmente errada, mas que muita gente irá fazer: a de que tudo bem, agora a pandemia acabou mesmo e é só tomar esse tal medicamento para sair saltitando por aí, sem preocupações nem máscara. Não é nada disso. A droga em questão tem um porém crucial – que limita muito sua aplicação.  

A notícia concreta, publicada hoje na Folha de S. Paulo, é: “Remédio aprovado pela Anvisa contra Covid tem efeito preventivo, diz estudo”. O texto, sóbrio e correto, descreve um estudo feito com o Regn-Cov2 (chamado de Regen-Cov nos EUA), que foi criado pela empresa americana Regeneron e é produzido pela multinacional Roche. O ex-presidente americano Donald Trump foi tratado com esse remédio ao se infectar pelo coronavírus, em setembro de 2020. Ele é usado logo após o diagnóstico de Covid, e costuma ser indicado a pessoas com comorbidades ou alto risco de desenvolver a forma grave da doença.

Vamos à novidade. O estudo citado hoje pela Folha (que não é exatamente novo, foi publicado como pre-print em junho e depois saiu no New England Journal of Medicine, com revisão por pares, em setembro) avaliou 2475 voluntários que estavam altamente expostos ao coronavírus – porque moravam com uma pessoa infectada.   

Continua após a publicidade

Entre os que receberam o Regn-Cov2, houve 81,4% menos casos sintomáticos de Covid. Bastou administrar o remédio com uma certa rapidez – no máximo 96 horas após o diagnóstico do cônjuge, parente ou roommate infectado. E o efeito protetor dura pelo menos 7 meses. Uma beleza.

O problema é que o Regn-Cov2 não é um medicamento comum, que você fabrica misturando substâncias químicas. Ele é uma combinação de dois anticorpos monoclonais, que são produzidos por células vivas cultivadas em biorreatores. Dentro desses tanques, com 20 mil litros de glicose e aminoácidos, crescem e se multiplicam zilhões de clones idênticos de uma única célula inicial (daí o nome “monoclonal”), geneticamente projetada para fabricar determinado anticorpo. É um processo complexo e interessante, que mostramos detalhadamente nesta reportagem

Os anticorpos monoclonais são bem difíceis de fabricar – e, por isso mesmo, caros. Nos EUA e na Europa, o tratamento com Regn-Cov2 tem custado em média US$ 2.000 (para compras governamentais, em grandes lotes). Pela cotação de hoje, dá R$ 11.200. E isso considerando uma compra gigantesca, por meio do SUS. Para compras em lotes menores, destinados a hospitais e clínicas privadas, o valor provavelmente seria mais alto. Sem falar nos impostos.

Continua após a publicidade

Percebeu? O Regn-Cov2 não é o ‘passaporte da alegria’ que alguns títulos podem dar a entender. Ele custa uma fortuna, está disponível em quantidades limitadas, e vai continuar assim – porque fabricá-lo, ou aumentar sua produção, é bastante difícil. Não parece realista imaginar um cenário com os anticorpos monoclonais sendo aplicados em massa no Brasil e mudando o rumo da pandemia por aqui.

Nesse aspecto, o Regn-Cov2 é completamente diferente do Paxlovid e do molnupiravir, os dois medicamentos antivirais que devem chegar ao mercado nos próximos meses. São drogas mais fáceis de fabricar, e mais baratas – o tratamento com molnupiravir poderá custar menos de US$ 20 no terceiro mundo (seu criador, o laboratório MSD, supostamente já está em negociações para que ele seja produzido no Brasil, inclusive), e o Paxlovid também terá preço mais baixo em países subdesenvolvidos.

Além disso, esses dois medicamentos são administrados por via oral, ou seja, a pessoa poderá receber a receita médica e tomar em casa já no início da Covid, evitando que a doença progrida. Isso também é diferente no Regn-Cov2 (que deve ser aplicado via infusão intravenosa, em hospital, ou por quatro injeções subcutâneas na barriga). 

Continua após a publicidade

Em suma: o Regn-Cov2 tem serventia, é importante. Mas não é a panaceia que alguns títulos podem dar a entender. E mesmo o Paxlovid e o molnuvirapir, quando chegarem ao mercado, serão usados para tratar a Covid – dificilmente para prevenir a doença. A melhor maneira de evitar o coronavírus continua a mesma de sempre: distanciamento, máscara e vacina.   

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.