Como as abelhas não grudam no mel quando passam pelo favo?
Elas andam pela beiradinha, claro. E se caírem, não tem problema: no começo da fabricação, o mel não é tão viscoso. Depois, quando ele engrossa, as abelhas tampam os potes com cera.
Texto de autoria de Kátia Aleixo, bióloga consultora da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas.
Como já explicamos aqui no Bzzzzzz, a produção do mel começa no corpinho das abelhas operárias. Elas engolem e regurgitam diversas vezes uma pequena porção do nectár que coletam das flores – com isso, vão evaporando parte da água e engrossando esse líquido adocicado. O néctar também é pré-processado com enzimas excretadas pela vesícula melífera localizada no abdômen.
Depois dessa etapa, o néctar é depositado nos favos. Um favo é divido em recipientes de forma hexagonal, que se encaixam perfeitamente uns nos outros. São os alvéolos. A matéria-prima desses recipientes é a cera secretada por glândulas localizadas no abdômen das operárias jovens.
Para facilitar, visualize a colmeia como um grande armazém cheio de corredores, com estantes bem altas para guardar as mercadorias. Na colônia de abelhas, cada estante é um favo. E, assim como as estantes do armazém, a posição natural do favo é a vertical. Logo, todos os alvéolos ficam na horizontal. São longas fileiras de potes deitados, com a boca virada para o lado.
Ou seja: o favo não é o chão, e sim uma parede com buracos para colocar o nectar pré-processado, e é nesses buracos que ele vai se tornar mel.
As abelhas caminham pelas paredes dos buracos hexagonais, sem pisar neles, e isso basta para que não caiam no néctar. Elas não precisam entrar no alvéolo para regurgitar. E se caírem sem querer, não tem problema: logo após ser depositado, o néctar ainda está tão úmido que não é viscoso.
Agora vem a dúvida: se os potes ficam de lado, por que o néctar não derrama? Tudo é pensado pelas engenheiras abelhas: o fundo dos alvéolos é ligeiramente inclinado em relação ao plano horizontal, evitando que o alimento escorra.
Depois que os alvéolos são preenchidos, um grande grupo de abelhas bate as asas simultaneamente diante do favo, para criar uma corrente de ar que ajuda na evaporação da água.
Quando o mel atinge uma umidade de cerca de 17%, e se torna bastante viscoso, as operárias fecham os alvéolos com uma fina camada protetora de cera, denominada opérculo. Assim, elas podem se movimentar livremente pelo favo sem grudar no mel.
Vale destacar que os alvéolos não são apenas depósitos de mel. São usados para armazenar pólen e também funcionam como berços para o desenvolvimento das larvas de operárias e zangões. Ou seja, os favos das abelhas Apis mellifera vão além da função de armazenagem: também servem como maternidade.