Ter certos rituais antes de fazer as coisas pode reduzir a ansiedade e aumentar suas chances de ser dar bem
Tem gente que acende e apaga uma luz incontáveis vezes porque acredita que, se não fizer isso, algo horrível irá acontecer. Outros têm rituais pouco convencionais que precisam realizar antes de dormir ou na hora de sair de casa. Pode parecer esquisito, mas um estudo recente conduzido pelo pesquisador David Eilam, da Universidade de Tel Aviv, sugere que nem todas as pessoas com comportamento repetitivo (especialmente aqueles que se parecem com rituais) sofrem do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Na verdade, esses rituais podem reduzir o stress provocado pelo medo do imprevisível, aumentando nossa crença de que estamos no controle de uma situação que, de outro modo, veríamos como totalmente fora de nossas mãos.
A pesquisa, feita em conjunto com Universidade de Washington e o Laboratório de Pesquisa da Força Aérea dos EUA, tinha o objetivo de investigar comportamentos ritualísticos em humanos e animais. Para isso, os pesquisadores estudaram vídeos de pessoas fazendo tarefas comuns, como se vestir, fechar a porta ou fazer café. Todas essas atividades foram divididas em três categorias usadas para abranger praticamente todos os comportamentos humanos: preparatória (é o que antecede a ação, como quando abrimos os botões da camisa antes de vesti-la, por exemplo), funcional (que é quando você coloca a camisa de fato) e de confirmação (quando você se olha no espelho para checar se vestiu certo e se está tudo no lugar). Para os pesquisadores, quase todas as atividades humanos e animais podem ser encaixadas em uma dessas três categorias e analisar as atitudes de preparação e confirmação (que são únicas para cada pessoa, como uma impressão digital), pode ser útil na determinação de quais atitudes são patológicas e quais não são.
Segundo David Eilam, ter certos rituais durante a fase de preparação pode realmente ajudá-lo a ser mais bem-sucedido na tarefa que está por vir. Mas isso não tem a ver com a ajuda de forças ocultas ou qualquer coisa assim. Pense, por exemplo, no que alguns jogadores de futebol fazem antes de cobrar um pênalti. Alguns fazem o sinal da cruz, outros murmuram uma oração, outros dão certo número de pulinhos. Tudo isso é o que os pesquisadores classificam como comportamento preparatório. Essas atitudes forçam os jogadores a se concentrar, se acalmar e ter uma maior sensação de controle antes da atividade funcional (que seria chutar a bola para o gol), ajudando-os a se dar melhor. E é algo normal.
Quando a coisa é patológica
Já o comportamento de confirmação muitas vezes não tem um objetivo claro e nem tende a proporcionar a sensação de controle procurado através do ritual. Isso tende a ser mais intenso nas pessoas com TOC, que costumam checar várias vezes, por exemplo, se fecharam ou não a torneira.
Segundo Eilam, pessoas com comportamento compulsivo sofrem de uma sensação de incompletude – elas não têm certeza se sua tarefa foi concluída mesmo ou não, e têm a necessidade de verificar a ação incontáveis vezes. Ao contrário de um chute ao gol, em que é fácil discernir o fim da ação, um ato comum entre aqueles que têm TOC, como lavar as mãos, não tem um final tão claro. Não há nada indicando objetivamente que sua mão está de fato limpa – por isso, estendem a fase da confirmação e continuam lavando a mão por muitos minutos seguidos. Mas, para os pesquisadores, isso só piora a situação. Em vez de dar a sensação de controle, atitudes assim deixam um sentimento de insegurança e descontrole da vida. Essa é a principal diferença entre o ritual normal e o patológico.
Via Medical Xpress.