Direto ao ponto: sim. Apesar de você as ver sempre do pescoço pra cima, as cabeças rochosas espalhadas têm sempre um corpo pra chamar de seu.
A descoberta mais recente sobre o assunto se deu em 2012, por conta de um trabalho conjunto entre a Universidade da Califórnia e o Projeto Estátua da Ilha de Páscoa, uma instituição não governamental que visa preservar (e entender) as esculturas. O grupo de pesquisadores obteve uma licença especial para cavar em torno de duas cabeças. O resultado foi não só a visualização de um pescoço, mas também de um tronco, braços e mãos que cobrem a região genital do bonecão, sempre sem economizar material: as estátuas chegavam a ultrapassar os 10 metros de altura.
Chamadas de “moai” pelos habitantes da ilha que fica na costa do Chile, estima-se que as estátuas tenham entre 1.100 e 1.500 anos. E não são poucas: feitas de tufo vulcânico, material que se origina de erupções de vulcões próximos, mais de mil estátuas recobrem o solo da ilha.
Não foi a primeira vez que desenterram as estátuas. Na verdade, mais de 90 das esculturas foram escavadas, mas quase nenhuma delas foi devidamente documentada e analisada arqueologicamente. A primeira grande exceção foi comandada por Thor Heyerdahl, um norueguês que escavou as pedras em 1954. Thor é o responsável pela foto acima. Essas análises são tão raras que a segunda delas foi justamente o estudo californiano que abre esse texto.
A pesquisa mais recente, no entanto, revelou que as estátuas têm mais do que um corpo: elas carregam identidades. “Na base de uma das estátuas encontramos uma rocha de basalto com inscritos. Eram desenhos que lembravam canoas”, afirma Jo Anne Van Tilburg, pesquisadora do Instituto de Arqueologia da Universidade da Califórnia, e uma das responsáveis pelo estudo. Os pesquisadores acreditam que os desenhos navais eram uma forma de identificar famílias e castas existentes dentro daquela sociedade. Não à toa. Ossos também foram encontrados durante a escavação, assim como um pigmento vermelho usado pelos nativos da ilha em rituais sagrados. Tudo indica que corpos eram enterrados junto das estátuas, uma possível dica de que elas serviam como uma forma de agrupar os corpos de familiares.
Tendo em vista a inclinação das pedras e as áreas onde estão localizadas, os pesquisadores californianos ainda cravaram que ninguém nunca enterrou as moai: isso teria sido obra da natureza. Os deslizamentos de terra e erosões naturais que ocorreram na ilha acabaram escondendo corpos, literalmente, esculturais.