Dá para fazer um avião a energia solar que não precise parar para reabastecer?
Que dá, dá – e já aconteceu, inclusive. Mas se você quer pegar um desses na sua próxima viagem, é melhor pensar duas vezes. Entenda.
Não só dá para fazer como já foi feito. Em 1974, o Sunrise I, um pequeno avião de 4,36 metros de comprimento e 10 metros de envergadura, alçou voo apenas com a energia do Sol. Ele chegou a 22 quilômetros de altura, sendo abastecido por células solares que geravam 450W de potência – para comparação, um Playstation 5 consome, durante uma jogatina, cerca de 210W.
Não havia ninguém a bordo do Sunrise. O voo só serviu para mostrar que um avião movido a energia solar era possível. Quem recentemente levou passageiros para um rolê foi a Solar Impulse 2, em 2016. Durante 14 meses, Bertrand Piccard e André Borschberg se revezaram para pilotar o avião e dar uma volta ao mundo.
A viagem teve 17 paradas e somou 558 horas no ar. O avião tinha 21,85 metros de comprimento e 72 metros de envergadura – mais do que um Boeing 747. E pesava o mesmo que um SUV grande, com apenas 2,3 toneladas. O mesmo Boeing, cuja envergadura é menor, ultrapassa consideravelmente esse peso: 183,5 toneladas.
As aeronaves queimam combustível derivado de petróleo, liberando uma série de poluentes que contribuem para o aquecimento global e contaminam a atmosfera.
Só que não daria para driblar esse problema com a energia solar. A Solar Impulse 2 só tinha espaço para um piloto de cada vez e, segundo a dupla, as condições de voo eram desconfortáveis e extremamente desafiadoras. Como a aeronave era leve e grande, as asas não podiam ser inclinadas em mais de 5°, ou o piloto poderia perder o controle e cair girando em espiral. Qualquer mudança climática já era um grande perigo em potencial – e o clima até adiou algumas partes da viagem original.
E, mesmo se não fosse arriscado, a empreitada simplesmente não compensa. Voos comerciais costumam fazer 900 km/h, e o Solar Impulse 2 atingiu, no máximo, 90km/h. O trecho de Nova York, nos Estados Unidos, para Sevilha, na Espanha, demorou 71 horas; um voo comum leva quase 8 horas e meia para fazer o mesmo trajeto.
Mas a tecnologia não é um desperdício. Ela pode não levar passageiros, mas seria útil para monitorar áreas e coletar dados atmosféricos sem o gasto de combustível. Em 2019, uma start-up comprou o modelo, com o objetivo de criar uma espécie de “pseudosatélite”, que faria o que um satélite faz em órbita, mas daqui da Terra.