Namorados: Revista em casa a partir de 9,90
Imagem Blog

Oráculo

Por aquele cara de Delfos Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Ser supremo detentor de toda a sabedoria. Envie sua pergunta pelo inbox do Instagram ou para o e-mail maria.costa@abril.com.br.

Desde quando existem absorventes? Como as mulheres se viravam antes deles?

Em todas as sociedades, o assunto sempre foi tratado como tabu, então é difícil investigá-lo – mas temos algumas pistas. Confira.

Por Bela Lobato
Atualizado em 27 Maio 2025, 11h05 - Publicado em 27 Maio 2025, 10h00

Ao longo da história, vários povos desenvolveram tecnologias para lidar com a menstruação. Algumas se pareciam com absorventes contemporâneos, outras nem tanto. Ou seja: não faz sentido dividir a História entre antes e depois do Modess. Além disso, o assunto foi (e ainda é) tratado como tabu, o que torna difícil investigá-lo.

Feitas essas ressalvas, vamos à resposta: os gregos já enrolavam fiapos de pano em pedaços de madeira para usar como O.B. Entre indígenas da América do Norte, tiras de pele de búfalo cumpriam o papel de absorventes externos. Já na Roma Antiga, os tampões eram feitos de lã e podiam ser embebidos em ópio para aliviar cólicas – uma combinação que foi vendida em farmácias até o século 19.

Os produtos que encontramos na farmácia hoje em dia são bem mais recentes. Na virada do século 19 para o 20, a preocupação com higiene e o aumento da produção industrial permitiu que os países industrializados criassem novas soluções.

Em 1896, a Johnson & Johnson lançou as Lister’s Towels, calcinhas com o forro trocável e lavável. Era uma cinta sanitária, que ainda precisava ficar presa ao redor do corpo. Entretanto, o produto foi retirado do mercado já que a moralidade norte-americana impedia a publicidade desses produtos.

Alguns anos depois, durante a Primeira Guerra Mundial, enfermeiras francesas descobriram que o material de celulose usado para enfaixar ferimentos absorvia melhor o sangue menstrual do que as fraldas de pano. A marca Kotex foi a primeira a comercializar absorventes descartáveis feitos desse material, em 1918.

Ao contrário da invenção da Johnson, essa pegou. Tinha tudo a ver com aquele momento de crise – as mulheres começaram a trabalhar fora de casa para substituir os homens que estavam na guerra e, aos poucos, conquistavam autonomia financeira e sobre o próprio corpo. Já não era sem tempo.

Continua após a publicidade

(A variação que é usada hoje, que pode ser grudada diretamente nas calcinhas com um adesivo, só começou a circular em 1969, lançados pela Stayfree.)

Os absorventes internos surgiram em 1931, feitos de algodão compacto e acompanhados de um aplicador de papelão parecido com uma seringa, que ainda é utilizado hoje em dia, em versões de plástico. Eles começaram a ser comercializados em 1936, quando a patente foi comprada pela marca Tampax. 

O produto foi polêmico: de um lado, houve quem defendesse que eles eram mais higiênicos do que os absorventes externos e menos suscetíveis a provocar infecções (o que ainda gera debate, diga-se). De outro, muita gente, inclusive de igrejas cristãs, consideravam que a inserção de algo na vagina era uma ameaça à pureza e à virgindade. 

Mas a popularidade venceu a discussão: as vendas de Tampax quintuplicaram nos primeiros sete anos no mercado e, mesmo quando as fábricas norte-americanas precisaram focar em produzir curativos cirúrgicos e bandagens para a Segunda Guerra Mundial, a produção dos absorventes internos não diminuiu.

Continua após a publicidade

O famoso nome O.B. só veio mais tarde, cunhado pela ginecologista alemã Judith Esser-Mittag nos anos 1940. A sigla vem do alemão, ohne Binde, ou “sem bandagem” e serviu para nomear o primeiro absorvente interno sem aplicador. 

Alternativas

Embora os absorventes internos e externos sejam os mais utilizados até hoje, outras tecnologias são utilizadas para tornar a menstruação mais confortável e menos agressiva ao meio ambiente (afinal, absorventes descartáveis produzem muito lixo e não são biodegradáveis). 

Uma das mais famosas é o coletor menstrual, um copinho de silicone inserido na vagina. Depois de jogar o sangue coletado fora, é possível esterilizá-lo para reutilização. 

O copinho começou a ganhar popularidade no Brasil nos últimos anos, mas está longe de ser novidade. A primeira patente para um coletor menstrual foi instituída em 1937 nos EUA, criada pela atriz, empresária e autora norte-americana Leona Chalmers. Duas décadas depois, ela atualizou o design para um produto de borracha, muito parecido com o que temos hoje. Mais uma vez as guerras entraram no caminho: a escassez de borracha durante a Segunda Guerra fez a tecnologia cair em desuso. 

Continua após a publicidade

Bem depois, ao longo da década de 1980, os coletores voltaram a circular entre a comunidade mais alternativa norte-americana. Mas não se engane: falar abertamente sobre menstruação ainda era tabu no Ocidente. A primeira vez que a palavra period foi utilizada com o significado de menstruação na TV dos EUA foi em 1985, quando a atriz Courtney Cox estrelou uma propaganda de Tampax. 

Mas se engana quem pensa que o problema está resolvido. Segundo a Unicef (1), quatro milhões de meninas sofrem com pelo menos uma privação de higiene nas escolas do Brasil, ou seja, sem acesso a absorventes, banheiros ou sabonetes.

Outra pesquisa (2) mostra que uma em cada quatro brasileiras já precisou utilizar panos, papel higiênico ou jornal por falta de dinheiro. São soluções improvisadas – e inseguras. Os tempos de “se virar” sem absorventes ainda não ficaram para trás.

Pergunta de Oriane N. Baum, via e-mail

Continua após a publicidade

Fonte: (1) Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos, Unicef; (2): “A relação das brasileiras com o período menstrual e o fenômeno da pobreza menstrual”, 2022, Instituto Locomotiva e P&G. Livros The Curse: A Cultural History of Menstruation e The Hippocratic Oath and the Ethics of Medicine.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 9,90/mês*
OFERTA RELÂMPAGO

Revista em Casa + Digital Completo

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
A partir de 9,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a R$ 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.