Se o Dó é a 1ª nota musical, porque o acorde “A” é o Lá?
A Família von Trapp não gosta nada dessa confusão.
A pergunta é de Leonardo Conte, de Ourinho, SP: “Se a ordem das notas musicais é Dó-Ré-Mi-Fá-Sol-Lá-Si, qual o motivo do acorde A corresponder ao Lá em vez de Dó?
Leo, conte com o Oráculo para solucionar mistérios musicais.
A origem da nomenclatura de A a G é extremamente antiga – remonta à época dos gregos e romanos. Foi deles que nossos vizinhos anglo-saxões herdaram o sistema, que, como você bem lembrou, tem ordem diferente da que estamos acostumados: Lá-Si-Dó-Ré-Mi-Fá-Sol – sendo que Lá, ou A, era a menor nota da escala musical
Essa estrutura, com as notas representadas por uma letra do alfabeto, veio antes do nosso Dó-Ré-Mi. Mas nomenclatura mais comum no Brasil (e nas músicas da Noviça Rebelde) não é uma adaptação do sistema antigo, coisa nenhuma.
O nosso sistema foi criada no século 11, por um monge beneditino italiano, chamado Guido d’Arezzo. Depois de criar sua própria convenção para as notas musicais, o monge Guido precisava nomeá-las. Como? Ora, da mesma forma que os professores de cursinho ensinam os vestibulandos a decorar fórmulas de física.
Lembra da fórmula do “sorvete”, usada para calcular movimento uniforme? S = S0 + V x T virou sorvete.
Já o monge Guido precisou de uma referência mais familiar a um monastério do século 11. Em vez de sorvete, ele usou um hino cristão.
Ut queant laxis
Resonare fibris
Mira gestorum
Famuli tuorum
Solve polluti
Labii reatum
Sancte Iohannes
A primeira sílaba de cada verso do tal hino de adoração se tornou uma nota. Belo macete, não? As únicas exceções, como você deve ter notado, são o Dó e o Si. Mas também há explicação.
O Si ficou assim porque é abreviação de Sancte Iohannes. Já o Dó veio tempos depois. Pronunciar Ut era meio complicado, então se decidiu pela primeira sílaba da palavra “Dominus”, que significa Dono, Mestre, Senhor…
Belo macete, não?
Fonte: Curso Completo de Teoria Musical e Solfejo, de Belmira Cardoso e Mário Mascarenhas. O Melhor Da Música Popular Brasileira, de Mário Mascarenhas; Pequena história da música, de Mário de Andrade; Letter by Letter: An Alphabetical Miscellany, de Laurent Pflughaupt