40 dias sem jogar nada fora
Por Felipe Van Deursen
E se eu passasse um tempo sem jogar nada fora? Como ficaria minha casa, minha mesa no trabalho e até minha carteira, cheia de recibos? Sugeri para o Denis, meu chefe, que falou “vamos nessa”. Fui e somei seis sacos pretos cheios, 98 produtos, embalagens e inutilidades em geral, computando 682 unidades em 40 dias de acúmulo.
Percebi que é bem mais fácil se achar econômico, sustentável e todos esses rótulos bonzinhos quando a gente apaga da memória o rastro de lixo que produzimos ao colocá-lo para fora de casa. Muito simples. Mas, quando ele vai se amontoando no banheiro e no quarto, no trabalho, nos bolsos, a situação fica um pouco mais complexa.
Dezenas e dezenas de garrafas e latas de cerveja, papéis de bandeja, colherinhas plásticas, copos plásticos de café de máquina (o “café” é generosidade minha), roupas, toalha, vários livros (porque recebemos livros quase todo dia na SUPER), revistas, jornais, potes de comida e até uma torre de PC que estava largada em casa e eu achava que funcionava. Fora o cheiro, misturinha azeda de margarina com papel velho com um toco de charuto cubano fumado no casamento de um amigo impregnaram minha casa por mais de um mês. Tive de contar com a paciência da minha namorada e seu lindo e pequeno nariz.
Ao longo do processo, conversei com especialistas e li vários estudos sobre consumismo e lixo. E, rapaz, estamos comprando cada vez mais. A população brasileira cresceu por volta de 10% na última década e volume de lixo subiu mais de 20%. O País já é um dos líderes no descarte de geladeiras, celulares, TVs e impressoras entre países emergentes. Reflexo direto do aumento do poder de consumo e do enriquecimento da nação. O que é ótimo, consumir é bom e possivelmente você está lendo isso com alguma(s) aba(s) aberta(s) de promoção de Black Friday.
Só que essa crescente esbarra em dois grandes problemas: excesso desnecessário de embalagens e até uma doença nova, o acumulismo compulsivo, descrito no DSM-5, manual da Associação Americana de Psiquiatria.
O resultado da quarentena do meu lixo e a complexa situação mundial do nosso consumismo está na edição de dezembro da SUPER, nas bancas. Sou o “homem-lixo” descrito na chamada de capa, embora meu apelido no período tenha sido “rainha da sucata”.
Você pode encontrar a edição de dezembro da SUPER na banca mais próxima. Mas também dá para comprar pela Loja Abril. É só clicar.
ATUALIZAÇÃO: Nenhum material acumulado pelo repórter foi jogado fora. Livros foram doados, plásticos e papéis foram reciclados, equipamentos eletrônicos foram encaminhados ao descarte especial.