O filme A Onda (Die Welle) não pode ser encontrado em cartaz nos principais cinemas brasileiros, e nem nunca pôde – nem no ano de 2008, quando ocorreu a sua estreia. A produção alemã só foi exibida no Brasil em algumas salas do circuito “cult”, como o Espaço Itaú de Cinema, em São Paulo. Foi lá que eu assisti à produção de Dennis Gansel, Christian Becker, Nina Maag e Anita Schneider, baseada no romance de Todd Strasser, de 1981. Mas vale a dica: o longa está disponível em DVD no Brasil pela Livraria Cultura.
O filme conta a história do professor de ciências políticas Rainer Wenger, um anarquista que, durante uma semana temática na escola, precisa dar uma aula sobre autocracia. Uma rápida busca na Wikipédia nos revela que autocracia trata-se de um regime totalitário, ditatorial, no qual o governo concentra-se em um único líder.
A questão para Wenger no filme é: como abordar um tema tão delicado quando se trata de um país que recentemente sofreu um dos maiores regimes totalitários da história? Falar sobre ditadura na Alemanha não é fácil. A nação se reergueu e o assunto é tão polêmico quanto chato.
Então, após um aluno desafiá-lo dizendo que um regime totalitário não seria possível nos dias de hoje, Wenger resolve criar uma experiência com os estudantes. A proposta, chamada de “a Onda”, faz com que os jovens criem um espírito de grupo que elimina as diferenças em prol de uma causa maior, mas também discrimina aqueles que não fazem parte do grupo.
No início, a experiência só traz benefícios, como a união entre aqueles que possuíam alguma diferença social e uma maior dedicação aos estudos, já que o assunto passa a ser interessante para todos. Até mesmo aqueles alunos que não tinham interesse nas aulas começam a levar a sério a proposta e se entregam de vez ao movimento.
A empolgação toma conta dos alunos e o espírito de grupo começa a crescer. Inclusive a escola passa a apoiar o movimento, vendo uma melhora significativa no comportamento dos alunos que entram na Onda.
O conflito principal da história começa a ocorrer quando a experiência passa a sair do controle. Notamos desde o princípio o quão arriscado pode ser atiçar esse instinto nos adolescentes. Nós, jovens, somos carentes de motivos e razões e, quando encontramos algo no qual acreditamos e pelo qual decidimos lutar, nos agarramos à causa de uma maneira muito verdadeira, que nos cega e nos impede de enxergar o lado negativo daquilo. É exatamente esse o conflito da história, a forma com a qual os alunos se agarram à Onda de uma maneira quase doentia e que acaba saindo do controle do professor.
Na questão que trata do elenco, direção e roteiro, não há do que reclamar (sim, minha opinião é suspeita, já que esse é um dos meus filmes preferidos). Toda a equipe de atores é excelente e, desde o primeiro momento, fica clara a entrega total do elenco aos personagens e à história em si. O roteiro de Peter Thorwarth e de Dennis Gansel (também diretor) ajuda bastante, encaixando perfeitamente cada diálogo ao enredo de maneira impecável. Os últimos minutos do filme são o ponto forte de toda a trama.
O livro que inspirou o filme é baseado em uma suposta experiência real, que teria ocorrido na Califórnia, em 1967, em um colégio do ensino médio. O professor Ron Jones teria imposto uma ambientação do nazismo em sua classe, de modo que tudo seguia os padrões do partido. O projeto durou uma semana e também causou diversos problemas – não tão graves quanto os mostrados no filme, óbvio.
A adaptação cinematográfica é considerada por muitos um filme pedagógico e é exibida em diversas escolas no mundo todo. Na Alemanha, o livro de Strasser é leitura obrigatória. De certa forma, o longa serve para que a história do Holocausto seja conhecida e aprofundada por todos. Este filme mostra a ascensão de uma ideologia e de um propósito, tratando a escola como um microcosmo da Alemanha nazista governada por Hitler.