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Lady Bird é uma história sobre voar e permanecer

Por Ingrid Luisa
Atualizado em 4 jul 2018, 20h33 - Publicado em 16 fev 2018, 17h06
Ingrid Luisa
(Arquivo Pessoal/Reprodução)

Greta Gerwig, diretora e roteirista de Lady Bird – A Hora de Voar, descreveu esse filme como uma carta de amor a sua cidade natal, Sacramento. E, sabiamente, não haveria descrição melhor para seu filme. O longa é um coming-of-age – história que foca na passagem da adolescência pra juventude – que faz de sua localização não um plano de fundo, mas uma personagem central da história.

É Sacramento que dá à autointitulada “Lady Bird” (Saoirse Ronan) a rejeição à Califórnia e o sonho que move sua vida: se mudar para uma grande metrópole. Na cidadezinha está “o lado errado dos trilhos”, nome pejorativo que Lady Bird dá ao bairro onde mora, já que ele sempre revela a origem humilde de sua família; e é Sacramento, também, que proporciona o ambiente provinciano e abastado que a garota vive, mas como outsider. Principalmente, nossa Lady Bird só existe em Sacramento – fora dela vemos a ainda perdida, mas mais madura, Christine McPherson – nome de batismo da protagonista.

Pode parecer que afirmar isso é superestimar uma cidade, quando há tantos elementos importantes que fazem de Lady Bird um filme único, mas não, é apenas atribuir a importância devida ao ambiente em que se cresce e toma decisões: não somos totalmente moldados pelo meio, como Lamarck dizia, mas ele nos influencia nem que seja para negar tudo que já vimos. Quem renega sua cidade natal sempre a leva enraizada. É como a Itabira de Drummond, que, mesmo sendo apenas uma foto na parede, dói. A relação de Lady Bird com Sacramento a machuca e a faz crescer ao mesmo tempo.

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ladybird02
(Reprodução/Focus Features)

Como um todo, Lady Bird é um filme sobre amadurecimento. A protagonista não é perfeita (é imatura e chega a destinar comentários preconceituosos a seu irmão latino), mas isso não faz o espectador desgostar dela. Lady Bird é determinada, autêntica, corajosa (inclusive em aspectos que travam muitas meninas, como tomar a iniciativa com garotos) e faz de tudo para conseguir o que quer. Ela chega até mesmo, por causa de um crush, a tomar decisões bobas como “trocar” a melhor amiga por pessoas muito diferentes e que não a aceitam de verdade. Entre tropeços, a garota vai crescendo e percebendo o que realmente importa.

Timothée Chalamet, ator que interpreta o personagem Kyle no filme, comentou numa entrevista que Greta Gerwig, por também ser atriz, conseguiu inserir um realismo cômico na história, e que isso é feito de forma natural. Mostrando dramas cotidianos, a direção de Greta é segura e deixa o filme leve, dando a Lady Bird uma aura de veracidade – nada é exagerado ou fora do lugar. Quando a protagonista perde a virgindade para Kyle, que nem sabe com quantas pessoas já ficou, ela sofre tanto quanto quando briga com sua mãe. São sensações diferentes, mas igualmente importantes. Não há romantização acima da média.

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Por falar em mãe, a de Lady Bird, interpretada por Laurie Metcalf, é o pé no chão que a sonhadora garota insiste em renegar. Como tantas mães, ela é responsável por trazer a protagonista para o mundo real, não por pessimismo e nem por falta de amor e confiança na filha, mas para evitar que ela sofra com frustrações. Estudando em um colégio católico caro como bolsista, Lady Bird tem acesso a sonhos e expectativas que não correspondem à realidade socioeconômica de sua família. Mas os conflitos fazem a garota não se sentir amada nem compreendida por sua mãe, o que leva a mais brigas e crises: a relação das duas, entre choros e gritos, é real e visceral. No fim, nenhuma delas está totalmente certa ou errada, e as atitudes ponderadas do pai (Tracy Letts), que tenta equilibrar essa relação, provam isso.

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(Reprodução/Focus Features)

“É muito claro o quanto você ama Sacramento”, diz a madre do colégio católico à protagonista em uma cena, após ler sua carta de apresentação às faculdades. Com ar surpreso – já que ela insiste em renegar a cidade –, Lady Bird responde “eu só presto atenção”. E é aí que a Madre traduz o que estava invisível aos olhos da garota: “Mas você não acha que é a mesma coisa?”.

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A atenção como forma de amor é uma constante que Lady Bird direciona a todos: à mãe, a um alvo romântico, à amiga, a Sacramento. É a si mesma que ela precisa prestar mais atenção, porém. O caminho para descobrir isso é a chave deste belíssimo filme.

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