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Resenha: Rihanna – Anti

Por turma-do-fundao
Atualizado em 4 jul 2018, 20h34 - Publicado em 17 mar 2016, 20h08

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Após quase uma década de lançamentos anuais, Rihanna pisou no freio e quis redirecionar sua forma de fazer música. A principal distinção de Anti, seu novo trabalho, é o hiato de pouco mais de três anos entre este e seu último, Unapologetic (novembro de 2012), rompendo a tradição de um CD por ano. O álbum demorou a ficar pronto porque a cantora decidiu recomeçar o trabalho diversas vezes, insatisfeita com resultados anteriores.

Anti tem uma proposta conceitual, apresentada durante um evento em que a cantora explicou o significado por trás do título: “uma pessoa que se opõe a uma política, atividade ou ideia”.

O álbum tem duas versões: a simples com 13 faixas e a deluxe com 16. Ambas contêm um cover da psicodélica “New Person, Same Old Mistakes”, originalmente da banda australiana Tame Impala, que já prestou elogios à nova roupagem para sua canção. Mas o primeiro single é “Work”, uma escolha óbvia para começar a divulgação do álbum, já que é outra parceria com Drake, sendo que a primeira (“What’s My Name”, de 2010) chegou ao topo das paradas. É a música mais enérgica do disco, casando ritmos caribenhos (dancehall e reggae), porém sem lembrar os hits antigos de Rihanna – provavelmente o efeito desejado. Ela canta (balbucia?) sobre trabalhar para conseguir ganhar seu dinheiro, cantarolando do jeito mais sem compromisso possível, e Drake entra num rap despretensioso/romântico para encerrar. Atualmente se encontra estável em número 1 nas paradas mundiais.

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[youtube https://www.youtube.com/watch?v=caaSrdLC28o?feature=oembed&w=500&h=281%5D

“Consideration”, contando com participação de SZA, abre o disco. É uma das músicas mais descaradas de Rihanna, que canta: “Eu tenho que fazer as coisas da minha maneira, querido, será que você vai deixar? Será que você vai me respeitar?”. Com essa faixa, Rihanna dá o pontapé inicial para sua jornada de quebra aos costumes antigos e sua perspectiva sobre a nova fase da carreira.

“Kiss It Better” é uma co-composicão com a cantora Natalia Kills e Jeff Bhasker, que já trabalhou em “Run This Town”, de Jay Z. Rihanna une seus vocais (no melhor estilo karaokê) à guitarra impetuosa do seu parceiro em turnês de longa data, Nuno Bettencourt, que transforma a faixa numa atmosfera hipnótica perfeita para trilhas sonoras do início dos anos 90. Destaque para: “Estive esperando acordada a noite toda, amor, me diz o que está errado, vá e faça dar certo, faça isso a noite toda”.

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“Desperado” traz uma Rihanna mais agressiva. É um hip-hop carregado que narra um romance perigoso com certo foragido, exigindo também fugir com esse amor porque não está disposta a enfrentar sozinha a solidão: “Eu não estou tentando ir contra você, na verdade, eu vou com você, tenho que sair daqui, e você não vai me deixar para trás”. Reminiscência da produção anterior sob a supervisão de Kanye West, a faixa evoca seu antigo patrão do começo ao fim.

Transbordando confiança, Rihanna revela sua face pegadora em “Needed Me”, um trap mais tradicional, com batidas lentas, mas intensas. “Você era bom em manter segredo de transar chapado, em um amor drogado (…) mas amor, não entenda errado, você era só mais um na minha lista”. Ela manda o recado para o cara: não se permita apaixonar por ela. Sonoramente, bastante se assemelha a “Beauty Behind The Madness”, última do canadense The Weeknd.

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Grata surpresa e inovação no seu catálogo (e também a preferida deste que vos escreve), a 11ª faixa, “Love On The Brain”, traz um caráter vintage até então inédito à voz de Rihanna, remetendo a grandes divas do soul, como Etta James e Nina Simone, ao mesmo tempo em que faz ponte com os trabalhos contemporâneos da inglesa Amy Winehouse. A faixa lembra clássicos da década de 50 e discorre sobre estar em um relacionamento amoroso destrutivo, porém viciante.

Fechando o disco na versão simples, uma baladinha tradicional com piano e uma Rihanna deprimida. “Close To You“ é a mais densa entre as que a precederam. A música lembra “Stay”, de 2012, e envolve pela franqueza, revelando a vulnerabilidade da cantora ao se perder do amado. Ela canta sem esforços desnecessários, numa coerente linearidade. Não apresenta ascensão no refrão como em “What Now”, focando a atenção somente na sua recém-encontrada nova voz.

Vale citar também as músicas que ficaram de fora ao longo dos resets do álbum. “FourFiveSeconds”, aclamada colaboração com Kanye West e Paul McCartney, é um folk com produção minimalista e violão acústico tocado pelo Beatle. O planejado segundo single, “Bitch Better Have My Money”, é um trap com influências do hip-hop e Rihanna arriscando no rap usando seu sotaque barbadiano. Ainda que de enorme repercussão, os dois singles e “American Oxygen”, promovedora do campeonato de basquete March Madness, foram descartadas da tracklist final por não mais se encaixarem na nova sonoridade encontrada.

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Nesse oitavo trabalho de estúdio, Rihanna resolveu deixar de lado o mainstream e deu preferência ao trabalho com produtores negros e compositores mais underground, alguns de raízes caribenhas como as suas, planejando uma ode à sua terra natal muito além de somente a nova direção musical.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=zCX4o9uSfWI?feature=oembed&w=500&h=281%5D

Rihanna se arriscou a explorar uma incógnita e, para uma primeira vez, mandou bem no seu “desconhecido”. Uma verdade: o disco demorou a sair e, quando findou a interminável espera, a primeira opinião foi que, na verdade, não foi tão bom quanto se imaginava que fosse ser. Dentro do que realmente estava aparentando sair, foi bom, mas ainda não chegou .

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Para o bem ou para o mal, a barbadiana apresentou sua nova persona daqui para frente: intimista e introspectiva, mais sem-vergonha do que nunca (“S&M” foi outra época, outro tipo de sem-vergonha) e, por que não, mais amadurecida. RiRi se encontrou musicalmente e fica claro que aqui é onde ela quer estar. Ainda precisa de alguns ajustes, mas sabendo que ela está no caminho certo, quem sabe já no próximo disco ela não refine seu perfil e traga finalmente o álbum “A+”?

Por enquanto, Anti, seu trabalho mais “do contra” de todos, veio com força e, diferentemente dos álbuns um-ano-de-duração, essa era promete durar um tempão. Vamos aproveitar enquanto dure. Vida longa à Rihanna!

nota4

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