A favela mais alta do planeta
Era para ser um prédio de escritórios supermoderno, com 45 andares. Mas acabou virando um enorme cortiço
Pegue um projeto megalomaníaco e, no meio das obras, decrete a falência do principal investidor. Foi assim que nasceu a Torre de David: um prédio em Caracas, capital da Venezuela, que se transformou na maior favela vertical do mundo. O edifício, com 45 andares, abriga hoje cerca de 1.500 pessoas, que invadiram o local depois que a obra foi interrompida. O prédio foi idealizado por David Brillembourg, um empresário que fez fortuna explorando petróleo, para ser o centro financeiro de Caracas. Mas, em 1993, David morreu, sua empresa quebrou, e a obra parou – com apenas 60% do prédio concluído. As famílias começaram a chegar em 2007 e não saíram mais. A invasão foi liderada por um grupo de ex-presidiários evangélicos. Seu diretor é Alexander “El Niño” Daza, que comanda uma equipe de seguranças e virou a autoridade máxima do prédio.
Água e luz faltam com frequência. Mas o maior problema é que não há elevadores, algo crítico num prédio desse tamanho. Os primeiros dez andares, que foram projetados para servirem de estacionamento, podem ser subidos de mototáxi. Mas dali para cima, só mesmo usando as pernas. “Alguns moradores têm de vencer até 28 andares de escada para chegar em casa”, conta o fotógrafo Alejandro Cegarra, que passou quatro meses registrando imagens na Torre. Os últimos andares não têm nem as paredes externas, e por isso não foram ocupados.
O edifício tem padaria, cabeleireiro, açougue, bar e uma igreja, e cobra um condomínio mensal de 150 bolívares (R$ 55). O resto da cidade tem medo do prédio – onde a polícia costuma entrar para procurar fugitivos. Mas a fama de local perigoso é questionada por moradores e visitantes. “Ninguém nunca tentou fazer nada comigo lá”, diz Cegarra.