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A marca do improviso

Nas cidades coloniais brasileiras, as ruas se adaptavam ao elevo. Não havia nenhuma regra.

Por Henrique Ostronoff
Atualizado em 5 dez 2017, 13h16 - Publicado em 30 set 1987, 22h00

Imagine acordar, de repente, numa cidade desconhecida. Se ela for brasileira – e antiga –, você descobrirá isso antes mesmo de identificar palavras em português. Sim, existe um urbanismo tipicamente brasileiro. Sua marca registrada é o modo, aparentemente caótico, pelo qual as ruas se adaptam ao terreno. Quase sempre estreitas, elas sobem e descem colinas, serpenteiam no meio de vales, formam esquinas com ângulos irregulares. As construções mais importantes estão sempre na parte mais alta – a igreja matriz, os prédios administrativos, a moradia dos governantes. Nas baixadas, junto ao porto, ficam os armazéns.

As cidades fundadas na época da colonização são quase todas assim. A improvisação se deve ao imediatismo dos portugueses, interessados apenas em estabelecer um porto para o comércio e em defendê-lo contra os ataques estrangeiros, sem se preocupar com o futuro. Esse modelo contrasta com o de outros países da América Latina, que aplicaram um planejamento urbano rigoroso. “Nas colônias espanholas, as Leyes de Indias regulamentavam quase todos os aspectos da implantação das cidades”, explica o arquiteto Murillo Marx, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Por isso, o turista que visita o centro de Buenos Aires caminha por quadras exatamente iguais, como num tabuleiro de xadrez. Em Olinda, precisará de um guia para não se perder.

Engolindo território

Assim se formaram muitas cidades brasileiras.

A CAPELA

No início, há apenas uma capela no meio de uma área de plantações. Toda a populacão vive exclusivamente da agricultura.

PRIMEIROS MORADORES

Habitantes começam a se instalar em volta da capela, que se torna um pólo de urbanização. Outra capela é construída, a alguns quilômetros de distância.

ESPAÇO PÚBLICO

O povoado se transforma em vila e já apresenta um patrimônio público – a praça. Lá longe, outras casas surgem ao redor da segunda capela.

ADENSAMENTO

A vila cresce, a população se adensa e é necessário alinhar as ruas para evitar o caos. Um subúrbio se esboça junto à capela dos arredores.

REDESENHO

Ao redor do antigo centro os empreendedores imobiliários adquirem terrenos, que são loteados. A cidade cresce e incorpora os núcleos urbanos vizinhos.

Cidade de proveta

Em Brasília, a realidade contrariou o planejamento.

Inaugurada em 1960, Brasília é uma cidade de proveta – sua construção obedeceu a um plano minucioso de seu criador, o urbanista Lúcio Costa (1902-1998). Sob influência da receita de cidade ideal formulada na década de 20 pelo arquiteto suíço Charles Le Corbusier (1887-1965), Costa dividiu a nova capital em setores, cada qual com sua função: moradia, trabalho, lazer e assim por diante. O Plano Piloto foi desenhado em forma de avião. Nas duas asas (Norte e Sul), em forma de arco, ficam as superquadras, onde morariam todos os habitantes, independentemente de sua condição social. No Eixo Monumental, a parte reta que num avião corresponde à fuselagem, estão os edifícios públicos projetados por Oscar Niemeyer. Mas nem tudo ocorreu conforme se previa. Imaginava-se que, depois de acabadas as obras, os trabalhadores voltassem para os lugares de origem. Eles ficaram – e muito mais gente se mudou para lá, atraída pelas perspectivas de uma cidade onde tudo ainda estava por ser feito. Prevista para ter 500 000 habitantes, Brasília hoje abriga cerca de 2 milhões, a maioria nas cidades-satélites formadas para alojar a população excedente.

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