A noite clandestina da Catalunha
El Mariatchi, Barcelona, Espanha: uma noitada nos bares clandestinos do Bairro Gótico pode mostrar um novo jeito de ocupar - e aproveitar - a cidade
Luiza Sahd
Antes das 23h, não há nada além de azeitonas e hidromel, bebida de mel, água e 13% de amor eterno. Depois, as cadeiras do El Mariatchi ganham vida. Normal para Barcelona, onde a noite começa tarde. A diferença é que esse é um dos 40 bares secretos criados pelos okupas, artistas e ativistas que se estabelecem em prédios abandonados em protesto contra a especulação imobiliária. A maioria dos botequins do tipo fica no Bairro Gótico, área mais antiga da cidade, fundada no Império Romano. Hoje, a região tem vocação boêmia, com atrações para vários públicos. Então, para se chegar a um bar clandestino é preciso espreitar nos becos e evitar lugares divulgados em cartazes. É tudo no boca a boca.
Assim cheguei ao Mariatchi, o “bar do Manu Chao”, já que o músico, autor de Clandestino, é habitué. O barman serve drinques com ingredientes misteriosos e, se você perguntar do que são feitos, dirá apenas “pesima resaca”. A casa encheu, surgiu até um filhote de dachshund, o cão-salsicha, que visivelmente não tinha tamanho nem vacina para estar ali. Mas o cãozinho estava de casaco, junto da mãe… Quem pode julgar? O dono queria vendê-lo por € 200 e, enquanto eu segurava os bichos, ele oferecia mulheres num tablet à mesa ao lado – a preços mais baixos.
O fumódromo improvisado lota e é vigiado por uma moça que faz vista grossa para tudo, menos barulho. O caótico bar não tem hora para fechar nem comanda para pagar, então para ir embora é preciso batalhar pela atenção do único atendente e fazer um esforço mental homérico para enumerar o que foi consumido. Vale a pena. Nesse buraco ilegal num prédio abandonado, a cidade milenar renasce, mesmo que de ressaca.
VÁ – R. Codols, 14, Barri Gòtic. Estações Jaume I, Liceu ou Urquinaona do metrô.
QUANDO – Qualquer dia que der na telha, depois da meia-noite.