Assine SUPER por R$2,00/semana
Continua após publicidade

A pirataria venceu

Não se iluda com a condenação do Pirate Bay. A indústria do entretenimento percebeu que não adianta combater a troca ilegal de músicas e vídeos na Internet. E já aposta numa estratégia radical: liberar tudo

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h53 - Publicado em 19 fev 2011, 22h00

Bruno Garattoni

Você já baixou alguma coisa pirata da internet? Pode confessar… você não é o único. No Brasil, 45% das pessoas com internet em casa têm o hábito de roubar músicas, filmes, softwares e programas de TV. Se você é um deles, talvez já tenha sabido da notícia: os criadores do Pirate Bay, o mais famoso site de downloads piratas, finalmente levaram a pior. Depois de passar os últimos anos desafiando a lei e fundar até um partido político, eles foram multados em US$ 3,6 milhões e condenados pela Justiça da Suécia, onde moram, a um ano de cadeia. No dia seguinte, os estúdios de Hollywood e as multinacionais da música festejaram a vitória como o início de uma nova era: a guerra contra a pirataria na internet, que se arrasta há quase 10 anos, finalmente começou a ser ganha. E a farra dos downloads começou a acabar. Certo? Errado. Na verdade, aconteceu o contrário. A pirataria está maior e mais forte do que antes – tão mais forte que a indústria do entretenimento resolveu mudar de estratégia e abraçar uma proposta radical: quer parar de vender as músicas e liberar os downloads na internet. E existe uma avalanche de motivos para isso.

O Pirate Bay, por exemplo, não só não saiu do ar como sua audiência cresceu 10%. E a condenação, da qual os piratas estão recorrendo em liberdade, foi uma verdadeira bênção – pois colocou a pirataria no centro das discussões e deu um baita empurrão ao Partido Pirata (Piratpartiet). O partido, que em 2006 tentou e não conseguiu eleger um representante, agora é o 2o mais popular entre os jovens da Suécia e tem 5,1% das intenções de voto – o que em tese é suficiente para garantir uma vaga no Parlamento Europeu, que será escolhido no dia 7 de junho. Se eleitos, os piratas vão lutar para mudar as leis que regulam a troca de arquivos na internet. E há um consenso cada vez maior, entre juristas e autoridades de todo o mundo, de que elas realmente precisam ser revistas. Pois, do jeito que são hoje, transformam qualquer um em criminoso – até mesmo o presidente dos EUA. Ao visitar a rainha Elizabeth 2a, em abril, Obama deu a ela um iPod carregado com 40 músicas (eram trilhas de musicais americanos, como Cabaret). Só que a legislação atual não só proíbe a cópia de cds para a memória do iPod como também impede que as músicas baixadas legalmente da internet (em sites como o Apple iTunes Store) sejam redistribuídas a outras pessoas. Tecnicamente, o presente que Obama deu para a rainha é ilegal.

Absurdo, não? É por isso que, mesmo depois de processar 50 mil internautas, a indústria do entretenimento não consegue frear a pirataria. Está tentando criminalizar práticas que já se tornaram corriqueiras. “Cada vez mais a conduta normal está sendo reconhecida como ilegal. Isso desmoraliza a lei, porque as pessoas se veem como criminosas e começam a se acostumar à ideia”, diz Lawrence Lessig, professor de direito da Universidade Stanford, em seu livro Remix (ainda sem tradução em português). As autoridades já perceberam isso. E começaram a mudar de postura.

Baixado não é roubado

Na China, onde 99% da música é pirata, o governo acaba de instituir uma lei que anistia os provedores de internet – que não serão responsabilizados pelo que seus usuários baixarem ou deixarem de baixar. A União Europeia rejeitou um projeto para cortar a internet de quem faz downloads ilegais. Autoridades alemãs decidiram que só vão julgar, em eventuais processos, quem tiver baixado mais de 3 mil músicas ou 200 filmes (o resto será ignorado). A Associação Brasileira de Direito Autoral já afirmou que não vai perseguir judicialmente os fãs de downloads. E, nos EUA, a Justiça abriu um precedente histórico: derrubou o principal argumento de estúdios e gravadoras, e reconheceu que um download ilegal não equivale a uma venda perdida (pois quem está baixando um filme ou música de graça não iria, necessariamente, aceitar pagar por aquele produto).

Isso significa que, para a Justiça, roubar um arquivo digital não é mesma coisa que roubar um objeto físico, como uma laranja ou um carro. É um delito menor. Péssima notícia para a indústria do entretenimento, que sentiu o baque – e bem antes que as fábricas de automóveis tivessem de ser socorridas pelo governo dos EUA, já tinha ido pedir uma ajudinha a ele.

Continua após a publicidade

No fim de 2008, com a pirataria dizimando o setor (que já é 30% menor do que na década passada), a multinacional Warner criou um plano de salvação: legalizar a pirataria. Todo mundo poderia baixar e compartilhar o que quisesse, da maneira que bem entendesse. Em compensação, seria criado um imposto sobre os downloads. Cada usuário de conexão de banda larga seria obrigado a pagar US$ 5 mensais. Parece um bom negócio para você? Para as gravadoras, seria bom até demais: daria uma arrecadação, só nos EUA, de US$ 20 bilhões por ano – o dobro do que a indústria da música fatura hoje. O valor foi considerado alto, a crise chegou e a ideia não foi adiante.

Até que o Google resolveu pagar a conta. Ele fez acordos com as gravadoras e vai lançar um serviço em que será possível baixar, de graça e sem restrição, um acervo com 1,1 milhão de músicas. Tudo custeado pelo Google, cujo objetivo é ganhar audiência e vender publicidade com isso – uma pesquisa revelou que na China, país onde o serviço vai estrear (e um dos poucos onde o Google não é líder), 84% das pessoas buscam sites de mp3 pirata. Se o próprio Google fornecer as músicas, vai virar o preferido dos chineses. “Agora nós oferecemos um serviço integrado, com todas as peças”, afirma Kai-Fu Lee, diretor do site na China.

O Google não tem planos, ao menos por enquanto, de estender a boca-livre a outros países. Mas outras empresas já abraçaram a ideia. Cansados de lutar contra os downloads ilegais, vários canais de TV por assinatura começaram a exibir sua programação de graça na internet. E, ao comprar um modelo de celular da Nokia, você ganha o direito de baixar quantas músicas quiser – de um acervo com 3,6 milhões de faixas mantido pela empresa, que subsidia tudo pagando uma taxa de R$ 135 às gravadoras (e recupera o dinheiro na venda do aparelho).

Essa é a tendência. O entretenimento está deixando de ser um produto pago para se transformar em serviço gratuito – cujo propósito é apenas estimular a venda e o uso de outros produtos e serviços. Pode parecer um final triste. Mas, para uma coisa que já tinha perdido o valor comercial, é uma grande volta por cima.

Já Elvis
Veja como a pirataria dominou a Internet

R$ 60
É o que custaria encher um iPod só com músicas baixadas legalmente.

Continua após a publicidade

842
É quantos mp3 roubados as pessoas guardam, em média, na memória dos seus iPods.

11
É o número de brasileiros que têm o hábito de baixar arquivos piratas.

50%
É a porcentagem do tráfego da internet correspondente ao vai-e-vem de conteúdo ilegal.

8,2
É o número de arquivos já distribuídos pelo Mininova, o maior dos sites de conteúdo ilegal. Isso equivale a 5,5 mp3 ou vídeos piratas para cada usuário da internet.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.