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Acabou o sonho da geração espontânea

Artigo de Richard Herson, vice-presidente de desenvolvimento corporativo do Grupo Machline, analisando o sucateamento do parque tecnológico nacional.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h45 - Publicado em 30 jun 1991, 22h00

Richard Herson

O impacto da propaganda abertura das importações sobre as gerações local de tecnologia tem sido discutido ad nauseam, sem uma conclusão aparente. Acima dos torturados argumentos ressuscitados pela ativa alta do nacionalismo tereceito- mundista, a realidade mostra que nenhuma economia fechada à livre entrada de tecnologia conseguiu desenvolver um parque tecnológico viável, moderno e auto sustentável. A complexidade, o inter- relacionamento cada vez mais estreito entre carias areas de tecnologia, os altos investimentos requeridos e a massa critica intelectual acumulada nas ultimas décadas tornam obvias as possibilidades de criação de fronteiras.
Em tese, portanto, esta realidade serve ao menos como indicador de que estamos ( finalmente) trilhando um caminho futuro correto. E o presente? ouvimos som freqüência o argumento de que uma abertura ampla a tecnologia internacional representaria o sucateamento do parque tecnológico nacional – um patrimônio que, bem ou mal, teria sido obtido com grande custo para a sociedade ( e para os contribuintes ) . vejamos o caso da informática brasileira, talvez o exemplo mais acabado de protecionismo tecnológico.

Na busca de uma explicação para as origens da vida, os cientistas da era pré- Pasteur acreditavam que, em ultima análise, esta., esta se originava espontaneamente na presença de certas condições ideais. Como exemplo, citavam o caso de barris fechado, cheios de lixo e detritos, nos quais, decorridos algum tempo, surgiam de maneira inexplicável vários tipos de vida animal. O sistema de reserva de mercado para a informática seguiu mais ou menos a mesma linha de raciocínio. Fechou-se um barril (o mercado), onde eram as seguintes as condições que supostamente levariam à geração espontânea de tecnologia:

1 – Uma massa acadêmica e técnica reduzida, mal remunerada e mal valorizada, sem recursos e subsídios mais elementares:

2 – Barreiras Kafkianas que obrigavam as empresas nacionais e práticas duvidosas em negociações com fornecedores de componentes e tecnologias no exterior

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3 – Mais barreiras burocráticas, aparentemente planejadas para garantir que qualquer tecnologia finalmente aprovada pro Brasília já estaria irremediavelmente obsoleta:

4 – Uma gritante ausência de incentivos tributários ou empresarias que direcionassem um mercado já anêmico a produzir ou consumir em escalas viáveis:

5 – Escassez ou indisponibilidade de capitais de risco ou de custo acessível:

6 – Uma carga tributaria grotesca, primorosamente calculada visando incentivar o contrabando e mascarar qualquer grau de ineficiência gerencial:

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7 – Mais barreiras burocráticas, destinadas a desencorajar te o mais temerário investidos interessado em aportar capital e tecnologia:

8 – Mais barreiras burocráticas, para garantir a ausência de mecanismos de proteção a propriedade intelectual- este suposto incentivo à apropriação de tecnologia externas por empresas nacionais foi eficaz apenas no extermínio de iniciativas tecnológicas genuinamente brasileiras. Niguem inceste em algo que não pode ser protegido

Este foi portanto o fértil caldo de cultura do qual se esperava que brotasse,generosa, espontânea, moderna, pujante, a tecnologia nacional da informática. O alarmismo do sucateamento do parque tecnológico nacional devido a entrada de tecnologia estrangeira equivale a um apelo a que se continue a acreditar na validade da teoria da geração espontânea. Tecnologia é um produto altamente perecível: ela não ocorre, não subsiste e se deteriora rapidamente na ausência de grandes investimentos, de garantia, de livre acesso a fontes de tecnologias avançadas, de um substrato acadêmico forte e atuante.

A ausência desses elementos,que configurava a situação existente até há poucos meses, não levaria nunca à geração espontânea, e sim ao sucateamento espontâneo da tecnologia nacional. A continuar com as mesmas políticas, não seria sequer necessário temer o sucateamento do parque tecnológico nacional face a uma abertura externa. Esse sucateamento seria, ele também, orgulhosamente made in Brasil.

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