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Armas – O que fazer com elas?

Proibir as armas tornará o país mais seguro? Ouarmar os cidadãos é um jeito de intimidar os bandidos? (Se você não sabe, é bom decidir: em 2005 você votará num plebiscito para chegar a um acordo)

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h48 - Publicado em 31 Maio 2004, 22h00

Karla Monteiro

Não é difícil imaginar uma situação assim: uma família está em casa, reunida em frente à televisão, assistindo à novela das 8. Assaltantes invadem a cena corriqueira aos gritos e informam que vão matar todo mundo sem dó. Tem o dono da casa o direito de usar uma arma de fogo para salvar a família e o patrimônio? Essa é uma pergunta que não tem resposta fácil. Pelo contrário: abre as portas para um debate sem consenso possível.

De um lado, a turma pró-armas enxerga revólveres como instrumentos de defesa, indispensáveis para a sociedade. Do outro, os defensores do desarmamento civil afirmam que cenas como a descrita acima têm mais chances de acontecer numa sociedade mais armada. Não espere um acordo entre os dois times na duração de sua vida.

Nenhum dos lados detém o monopólio das vidas que poderiam ter sido salvas se a lei que regulamenta posse, porte e comércio de armas fosse diferente. Está cheio de gente que morreu porque elas são frouxas demais – em brincadeiras de crianças com o revólver do pai, em briguinhas familiares que viraram massacres, em discussões de trânsito que saíram do controle. Muita gente morreu também porque as leis são duras demais – as vítimas de assaltos covardes, de seqüestros brutais. Cada uma dessas histórias – e há milhões – é uma tragédia do tamanho do mundo, que torna difícil encarar o assunto com a frieza e a racionalidade que ele merece. É o que esta reportagem vai tentar fazer: olhar por cima das paixões para discutir dados e argumentos. E, assim, tentar ajudar a responder algumas perguntas. Vamos à primeira delas.

O que diz a nova lei?

Em outubro de 2005, todos nós brasileiros vamos ser obrigados a nos meter nesse vespeiro. O Estatuto do Desarmamento, aprovado pelo Congresso e sancionado pelo presidente em dezembro do ano passado, prevê uma consulta popular sobre os rumos da legislação que regulamenta o comércio de armas no país. Você vai ter que decidir, nas urnas, se os civis terão ou não o direito de comprar revólveres. O porte já está proibido (só para esclarecer, posse significa ter um revólver e porte corresponde a andar com a arma por aí).

Com a violência batendo recordes, não é uma escolha fácil. O Brasil é o país onde mais se mata a tiros no mundo. Com só 2,8% da população mundial, somos donos de 11% dos homicídios por arma de fogo do planeta. Nossas estatísticas de pessoas feridas por revólveres e afins atingem absurdos 247,15 para cada 100 mil habitantes. Quer dizer que um a cada 400 brasileiros já tomou um tiro. Segundo estudo da ONU, os brasileiros correm quatro vezes mais risco de morrer assassinados que a média mundial.

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A nova lei tem um alvo muito claro: banir as armas de fogo. Ou, pelo menos, reduzir o número de armas em circulação. Pela sua lógica, quanto menos revólveres nas mãos da população, mais chances de a taxa de homicídios cair. Atualmente, segundo estimativas (pouco confiáveis) da Polícia Federal, existem cerca de 20 milhões de armas espalhadas país afora e somente 7 milhões têm registro. O objetivo do Estatuto, portanto, é tarefa difícil – proibir o que já é clandestino. Mesmo os mais entusiasmados com as mudanças na legislação admitem que não será possível observar um efeito imediato na violência. Mas a longo prazo, defendem, o resultado será sensível.

O Estatuto do Desarmamento ataca em várias frentes. A maioria das medidas mira no cidadão comum para acertar nos criminosos. A que mais causou polêmica já está em vigor e diz respeito ao porte de armas. Sair por aí com um revólver, mesmo que ele jamais deixe seu bolso, virou crime. E mais: se a arma estiver em situação ilegal, é crime inafiançável (como homicídio, estupro ou tráfico de drogas). O porte continua lícito só para caçadores credenciados, policiais e guardas-civis de cidades com mais de 250 mil habitantes. “Com o porte proibido, a polícia tem mais uma forma de identificar bandidos. Quem estiver armado na rua está, certamente, mal-intencionado”, afirma Denis Mizne, diretor-executivo do Instituto Sou da Paz, um dos mais fortes braços da campanha desarmamentista.

Outra medida que vem sacudindo os ânimos proíbe a compra de armas por civis. Essa não está em vigor, mas vira lei se assim a população decidir em outubro de 2005. “Isso é inconstitucional. Fere o direito de propriedade”, argumenta o advogado Antônio Carlos Garcia, da diretoria da Apaddi (Associação Paulista de Defesa dos Direitos e das Liberdades Individuais, uma organização pró-armas ligada a um clube de tiro). Na opinião de grupos desarmamentistas, no entanto, a proibição da compra por civis é certeira no combate ao crime. “Sabemos que as armas que são vendidas legalmente caem na clandestinidade com o passar do tempo. Claro que criminosos não compram armas em lojas. Mas compram ou roubam armas que foram compradas em lojas”, afirma o sociólogo Guaracy Mingardi, coordenador de pesquisas do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento ao Delinqüente (Ilanud).

Mais três pontos da nova lei merecem destaque. O primeiro é o aumento das exigências para se comprar uma arma. Agora, o comprador precisa ser maior de 25, possuir ficha limpa na polícia, fazer curso de tiro e passar por teste psicológico. Antes eram 21 anos e não precisava nem de curso nem de teste, só da ficha limpa. A segunda medida é a legalização de armas clandestinas. Quem possui uma arma sem registro e quer entrar na linha para não virar criminoso tem que procurar a polícia e preencher os mesmos requisitos de quem compra um revólver novo. O último ponto é o endurecimento contra o comércio ilegal de armamentos. O contrabando de armas passou a ser considerado tráfico, com pena de até 12 anos de prisão. Os desarmamentistas comemoram. “Antes contrabandear arma ou laranja era a mesma coisa aos olhos da Justiça”, diz Antônio Rangel Bandeira, do Viva Rio, a primeira ONG a levantar a bandeira contra as armas.

Liberdade individual ou segurança pública?

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Por trás dessa discussão toda está uma questão filosófica fundamental. O filósofo alemão Max Weber (1864-1920) foi o primeiro a identificar a monopolização da força pelo Estado. Weber disse que, para viver sob a tutela social, seria obrigação de cada um abdicar do direito de resolver conflitos na porrada – com armas, por exemplo. Por outro lado, a liberdade individual é algo que sempre vem à tona quando a sociedade se sente ameaçada diante da repercussão de um crime brutal e se coloca em discussão a capacidade dos governos de garantir a segurança. No Brasil, onde a população não apenas desconfia da polícia, mas também tem medo dela, isso é ainda mais exacerbado. Em 2001, o setor privado investiu 70 bilhões de reais em segurança, quase o dobro dos gastos públicos, de 37 bilhões de reais. Se o Estado não garante a segurança, ele pode privar o cidadão de fazê-lo?

Na opinião do filósofo Luís Afonso dos Santos, autor do livro antidesarmamentista Armas de Fogo – Cidadania e Banditismo, o direito à legítima defesa é inquestionável. Se a lei brasileira dá ao cidadão a prerrogativa de reagir para salvar a vida, a família e suas propriedades, não poderia tirar das pessoas seu instrumento mais eficaz: as armas. “A obrigação de se defender é do cidadão. O Estado deve ter uma função subsidiária, com patrulhamento ostensivo e polícia judiciária competente para apurar responsabilidades em crimes”, diz Luís Afonso. “Vale lembrar que todas as ditaduras suprimem do cidadão o direito de se defender, enquanto as democracias, com exceção da Austrália, do Japão e da Inglaterra, garantem o direito das pessoas de possuir armas”, afirma.

Na outra ponta do debate, as armas são apontadas como insumo do crime. “Já que não é possível controlar o crime em si, a saída é controlar a arma que vai facilitar e agravar as conseqüências desse crime. Leis antiarmas são uma forma de ação do Estado contra a violência”, afirma Guaracy, do Ilanud.

Um ponto está muito claro na discussão. O grupo desarmamentista põe todas as suas fichas em uma proposta coletiva. Para eles, com a proibição das armas, a longo prazo, todo mundo ganharia. Já o bloco pró-armas tem como carro-chefe um direito absolutamente individual, o da legítima defesa. Ou seja, cada um tem que garantir o seu, pelo bem de todos.

Armas trazem segurança ou perigo?

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Tem gente que morre porque reage. Tem gente que sobrevive pelo mesmo motivo. Casos representativos de ambas as situações não faltam. Quem defende o desarmamento geralmente se apóia em estatísticas. Segundo pesquisa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), quando tenta se defender com uma arma de fogo, a pessoa corre 57% mais perigo de morrer ou se ferir em um assalto do que se não reagisse. O estudo da SSP-SP analisou todos os latrocínios ocorridos ao longo de 2000 na capital paulista para chegar a tal conclusão.

O bloco do larguem-as-armas atribui a ineficácia da reação ao que chamam de “efeito-surpresa”, tese defendida por Arthur Kellermann, um médico especializado em violência que criou na cidade americana de Atlanta um Centro de Controle de Ferimentos. Kellermann diz o seguinte: ninguém costuma estar com o revólver em punho quando é abordado por um criminoso – e a simples menção de acessar a arma desencadeia a contra-reação do agressor. O resultado seria, então, um bangue-bangue. Mas com o mocinho em desvantagem, porque sacou depois. Segundo Kellermann, pessoas que reagem usando uma arma se arriscam três vezes mais a levar um tiro.

Para rebater o “efeito-surpresa”, a trupe pró-armas hasteia a bandeira do “efeito da dissuasão”. A tese de que o simples fato de ter revólver afugenta bandidos é o mote do best seller More Guns, Less Crime (“Mais Armas, Menos Crimes”, esgotado no Brasil), bíblia dos defensores das armas, escrito pelo jurista John Lott, da Universidade de Chicago. Lott traduz em números o conceito. “Em entrevistas com prisioneiros de dez penitenciárias dos Estados Unidos, 56% afirmaram que não atacariam uma vítima que eles soubessem estar armada. Bandidos calculam riscos, assim como qualquer pessoa que faz um negócio”, diz. “No Canadá e na Inglaterra, países com leis rígidas contra armas, quase metade dos arrombamentos a residências é de risco – ou seja, com a família dentro da casa. Nos Estados Unidos, onde as leis são menos restritivas, somente 13% são arrombamentos de risco”, diz Lott. Ou seja: ele acha que, num país com mais armas, os ladrões não se arriscarão tanto a ficar invadindo as casas dos outros. Desarmamentistas retrucam a esse argumento lembrando que os Estados Unidos têm muito mais crimes violentos do que Canadá e Inglaterra.

Mas os pró-armas também têm respostas aos argumentos anti-armas. O presidente da Forjas Taurus, maior fabricante de armas no Brasil, Carlos Murgel, afirma: “Quando uma pessoa escapa de um bandido – atirando para cima ou sacando uma arma –, dificilmente vai à delegacia registrar. Só vira estatítica quem sai lesado. Estatísticas que demonstram a ineficácia da reação armada têm que ser analisadas com cuidado”. Estatísticas, portanto, são instrumentos úteis para entender o problema. Mas cada lado do debate usa esses instrumentos como convém.

Por que tanta gente defende o direito de se armar?

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O sentido de se possuir uma arma varia de pessoa para pessoa – e, claro, de situação para situação. Por trás do afã armamentista, no entanto, existe um sentimento comum a todos os seres humanos: o medo. O escritor americano Barry Glassner fala disso no best seller Cultura do Medo, que inspirou o filme Tiros em Columbine, de Michael Moore. O livro e o filme mostram que, nos Estados Unidos, disseminar a insegurança virou um negócio lucrativo. Boa parte da imprensa vive disso, faturando com reportagens sobre crimes violentos. E isso gera uma sensação de insegurança na sociedade. Essa sensação instaura um pânico maior que a própria realidade. E, em pânico, enxerga-se nas armas um jeito de se salvar a pele.

No caso do Brasil, recordista em homicídios, não se pode negar que o medo encontra respaldo nos fatos. Mesmo aqui, a teoria da existência de uma crise coletiva de pânico que cria a necessidade de possuir uma arma faz sentido. “A taxa de homicídios cresceu muito nos anos 80. E, de meados da década de 90 para cá, estabilizou. Em um patamar alto, mas estabilizou”, afirma Ignacio Cano, pesquisador do Instituto Superior de Estudos da Religião (Iser) e um dos principais especialistas em violência no Rio. “Contudo, o medo agora é maior do que há dez ou 15 anos”, diz ele.

Em comparação com os Estados Unidos, somos um país desarmado. Lá, há 240 milhões de armas de fogo em circulação. Aqui, a estimativa é de 20 milhões. Para Glassner, porém, existe uma fórmula mundial, que independe de fatores econômicos, culturais ou sociais: “Não conheço a realidade do Brasil. Mas posso dizer que, de maneira geral, o aumento do número de gente armada cria o que chamo de círculo de medo e violência. Quando uma pessoa sabe que muitas outras têm armas, tende a ficar temerosa e a desejar também uma arma”. Boa parte dessas armas termina nas mãos de crianças e adolescentes – ou acaba envolvida em disputas pessoais. “O resultado desses incidentes, somados aos crimes comuns envolvendo revólveres, cria mais medo. E mais medo aumenta o desejo de se possuir uma arma”, afirma. Ou seja, Glassner diz que a paranóia por segurança é uma das causas da insegurança – e que a presença de armas na sociedade agrava esse problema.

Quem mata mais: bandido ou gente nervosa?

A resposta para essa pergunta parece evidente. Mas até uma questão de solução aparentemente tão óbvia tem duas vertentes na batalha das armas. Como não há números confiáveis – basta dizer que só 8% dos assassinatos são apurados no país –, sobram indícios para abastecer um e outro lado do cabo-de-guerra. O bloco antiarmas garante que boa parte dos crimes é “interpessoal”. Ou seja, briga de família, pendenga de vizinhos, bebedeira de fim de semana ou amores frustrados – homicídios que poderiam ser evitados se o assassino não tivesse uma arma. Os latrocínios, que justificariam a posse de armas por civis para a autodefesa, seriam bem menos relevantes. Na média nacional, segundo o Ministério da Justiça, representam só 5% do total de assassinatos.

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De acordo com os boletins de ocorrência de São Paulo, 15% dos homicídios já chegam às delegacias com autoria conhecida, o que indica, na opinião de pesquisadores de violência, que o assassino é alguém que faz parte do rol de relações da vítima. “Se o Estatuto do Desarmamento só tirasse os revólveres das mãos dos cidadãos de bem, como alegam os contrários a ele, já estaríamos reduzindo muito a taxa de homicídios”, afirma o sociólogo Túlio Kahn, coordenador de pesquisas da SSP-SP.

A tese de que pessoas são mortas por conhecidos não convence os contrários à proibição das armas. Por “conhecidos”, a turma pró-armas entende uma categoria bastante ampla. Estariam incluídos nesse balaio membros de gangues rivais que se “conhecem”, por exemplo. Em tese de mestrado na USP, o jornalista Bruno Manso apresenta um quadro que confronta a teoria dos homicídios interpessoais ocorridos no calor das emoções. Ele demonstra que 76% dos crimes que ocorrem na capital paulista são planejados. Em seu trabalho, Bruno conclui: “A ligação dos homicídios com o tráfico de drogas apareceu em 67% dos casos analisados”.

O caso americano é bem diferente do brasileiro, mas lá pelo menos há estatísticas mais confiáveis que aqui. O FBI estima que 18% dos crimes nos Estados Unidos são cometidos por membros da família e 40% por pessoas que conheciam as vítimas – acontece que lá, como aqui, um “conhecido” pode ser tanto um colega de escola quanto o membro de uma gangue rival. Apenas 13% dos homicídios americanos são cometidos por desconhecidos.

Leis antiarmas só atingem gente de bem?

Em 2003, a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, estado dono de 14% do arsenal nacional, anunciou o resultado de um estudo que busca entender a lógica do comércio ilegal. Após analisar dados de 77 527 pistolas e revólveres apreendidos pela polícia entre 1951 e 2003, a SSP-RJ concluiu que 25 648 dessas armas foram legalmente registradas antes de caírem nas mãos de criminosos e serem usadas em crimes. Nessa parte da pesquisa, só foram analisadas armas nacionais. O mesmo estudo derrubou outro mito: o de que bandidos usam metralhadoras e fuzis importados. Do total de armas apreendidas, 74% eram brasileiras e 57% tinham sido fabricadas pelas brasileiras Taurus e Rossi.

Pesquisas como essa sustentam uma tese fundamental para os defensores do desarmamento civil: a de que é o mercado legal de armas que abastece o ilegal. “Existe um fluxo importante de armas das mãos de gente de bem para as mãos de criminosos. São revólveres e pistolas vendidos, perdidos ou roubados”, afirma o sociólogo Ignacio Cano.

É claro que Carlos Murgel, da Taurus, discorda. Segundo ele, os criminosos se abastecem em três fontes. A primeira é mesmo o roubo ou a compra de armas legalmente adquiridas por outras pessoas. Mas há outras duas, igualmente importantes: o contrabando e a própria polícia. “Controlar só uma das fontes, os cidadãos civis, jamais atacará o problema em seu foco principal, dada a absoluta inépcia do governo em acabar com o contrabando. Leis que eliminam o porte e a posse para pessoas comuns têm apenas o efeito de mudar o equilíbrio relativo de forças entre criminosos e o resto da população. A favor dos primeiros, claro”, diz Carlos.

Nesta questão, assim como em todas as outras discutidas aqui, estamos longe de um acordo. O que parece mais perto é o reconhecimento de toda a sociedade de que há um problema grave que precisa ser encarado urgentemente, de alguma forma. É pouco. Mas é alguma coisa.

Brasil sangrento

Algumas estatísticas sobrearmas de fogo no Brasil

DE MACHO

O número de homens que desejam possuir uma arma de fogo é o dobro do número de mulheres, segundo pesquisa do Instituto Futuro Brasil

VIETNÃ

No ano passado, 40 mil pessoas foram assassinadas no país, segundo dados de 2003 da Secretaria Nacional de Segurança Pública. Para comparação: nos seis anos da Guerra do Vietnã, morreram 56 mil soldados americanos

RECORDE

Em números absolutos, o Brasil é o país onde mais se mata com armas de fogo no mundo. Proporcionalmente à população, somos os terceiros colocados – depois da Colômbia e da África do Sul

10%

Um a cada dez homicídios com armas de fogo ocorridos no mundo se dá no Brasil, segundo dados do governo canadense

BESTEIRA

Em São Paulo, cerca de 50% dos homicídios são cometidos por pessoas sem histórico criminal e por motivos “fúteis” (segundo a SSP-SP). A cidade detém 19% das armas do Brasil

O mundo no alvo

Como as armas são tratadasnos cinco continentes e que efeitoisso tem sobre a violência

Canadá

Homicídios a cada 100 mil habitantes – 1,8

Porcentagem de homicídios usando arma de fogo – 35,0%

Porcentagem de residências que possuem arma – 26,0%

Armas semi-automáticas são proibidas. Interessados em comprar revólveres têm que se submeter a investigação da Justiça por 28 dias e provar necessidade

Estados Unidos

Homicídios a cada 100 mil habitantes – 9,0

Porcentagem de homicídios usando arma de fogo – 69,8%

Porcentagem de residências que possuem arma – 41,0%

Estima-se que um a cada quatro adultos americanos tenha arma e a mortalidade por tiros nos EUA é muito maior que em qualquer outro país rico

Colômbia

Homicídios a cada 100 mil habitantes – 70,9

Porcentagem de homicídios usando arma de fogo – 76,1%

Porcentagem de residências que possuem arma – Não há dados

Possui uma legislação bastante restritiva. Mas, como o país vive uma guerra civil, as leis não são respeitadas e o número de homicídios é altíssimo

Argentina

Homicídios a cada 100 mil habitantes – 6,0

Porcentagem de homicídios usando arma de fogo – 46,0%

Porcentagem de residências que possuem arma – Não há dados

A lei permite uso e porte para maiores de idade sem antecedentes criminais, desde que o cidadão se submeta a testes – psicológico e prático

Reino Unido

Homicídios a cada 100 mil habitantes – 1,4

Porcentagem de homicídios usando arma de fogo – 9,1%

Porcentagem de residências que possuem arma – 4,0%

Desde 1996, armas são proibidas para civis – e a criminalidade caiu com isso. Nem mesmo os policiais de rua andam armados – apenas o esquadrão especial

Brasil

Homicídios a cada 100 mil habitantes – 29,2

Porcentagem de homicídios usando arma de fogo – 88,4%

Porcentagem de residências que possuem arma – Não há dados

A nova lei proíbe o porte e eleva de 21 para 25 anos a idade mínima para se comprar uma arma. Um referendo decidirá sobre a proibição do comércio

África do Sul

Homicídios a cada 100 mil habitantes – 64,6

Porcentagem de homicídios usando arma de fogo – 41,2%

Porcentagem de residências que possuem arma – Não há dados

A legislação sul-africana já foi mais frouxa, mas ainda está longe de ser rígida: proíbe menores de possuir armas de fogo e limita em um revólver para cada civil

Suíça

Homicídios a cada 100 mil habitantes – 5,31

Porcentagem de homicídios usando arma de fogo – 43,0%

Porcentagem de residências que possuem arma – Quase 100%

Na pacata Suíça, o Exército é a população inteira. Todo homem recebe treinamento militar de seis em seis meses. Por lei, todo mundo tem um fuzil em casa

Japão

Homicídios a cada 100 mil habitantes – 0,6

Porcentagem de homicídios usando arma de fogo – 4,5%

Porcentagem de residências que possuem arma – 0,6%

Tem uma legislação bastante dura. Os japoneses são proibidos de portar armas, com exceção de policiais e membros de clubes de tiro licenciados

Austrália

Homicídios a cada 100 mil habitantes – 0,4

Porcentagem de homicídios usando arma de fogo – 23,0%

Porcentagem de residências que possuem arma – 16,0%

Para comprar uma arma, é preciso apresentar “razões válidas”, como ser membro de um clube de tiro. Autodefesa não é considerada “razão válida”

Duelo de argumentos

Os prós e contras daproibição das armas

Pró-armas

Ter um revólver afugenta bandidos

Ladrões, assim como qualquer pessoa que faz um negócio, calculam riscos. Portanto, preferem atacar vítimas desarmadas

Armas são instrumentos de legítima defesa

A lei abre para o cidadão o direito de reagir para salvar a vida e a família. Então não pode proibir o instrumento de autodefesa

É o crime organizado que causa os homicídios

A história do amigo matando amigo não tem fundamento. Os crimes violentos são causados pelo banditismo urbano e pelo crime organizado do narcotráfico

O contrabando e a polícia é Que abastecem os bandidos

Bandido consegue armas em três fontes: contrabando, a própria polícia e as mãos dos cidadãos. Controlar só uma das fontes não resolve o problema

A proibição pode gerar problemas econômicos graves

A indústria alega que a proibição vai levar à falência a indústria nacional de armas. As Forças Armadas passariam a depender da importação

Antiarmas

Revólveres em casa aumentam o risco

Pesquisas mostram que pessoas que usam armas para se defender em assaltos têm 57% mais chances de morrer ou se ferir

Armas movem a violência

No Brasil, mais de 80% dos crimes são cometidos com armas de fogo. Já que não é possível acabar com o crime, a saída é controlar as armas

Muitos homicídios são crimes interpessoais

Boa parte das mortes acontecem em brigas de família, pendengas de vizinhos, discussões entre bêbados. Proíba as armas e essas mortes não acontecerão

Armas legais abastecem o mercado ilegal

Criminosos compram ou roubam armas que foram compradas em lojas. Proibindo a posse para cidadãos, atingem-se indiretamente os criminosos

A indústria de armas não corre O risco de quebrar

Mais de 70% da produção nacional se destina à exportação e 9% vão para as Forças Armadas e polícias. Somente 17% são vendidos para civis

Para saber mais

Na livraria:

More Guns, Less Crime – John R. Lott Jr, Chicago University Press, EUA, 1998

Cultura do Medo – Barry Glassner, Francis, 2003

Armas de Fogo, Cidadania e Banditismo – Luís Afonso dos Santos, Mercado Aberto, 1999

Armas de Fogo – São Elas as Culpadas? – João Luís Vieira Teixeira, LTR, 2001

Paraíso Armado – Aziz Filho e Francisco Alves Filho, Garçoni, 2003

Small Arms Survey Yearbook 2003 – Oxford University Press, Reino Unido, 2003

Desarme y Desarrollo – Raul Romeva Rueda, Intermón Oxfam, Espanha, 2000

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