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Avatar é só o começo

Há 80 anos veio o cinema falado. Há 70, o colorido. E só agora o mundo vive uma revolução tão grande: a avalanche do 3D. Em pouco tempo, os filmes em duas dimensões vão parecer algo tão arcaico quanto o cinema mudo

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h48 - Publicado em 24 fev 2010, 22h00

Alexandre Versignassi

Ir ao cinema é chato. É o que dá para concluir quando a gente vê algumas estatísticas: as vendas de ingressos nos EUA ficam na faixa de 1 bilhão por ano. Parece bastante, mas não representa quase nada quando você compara com os anos 30 e 40. Naquela época, sem TV nem metade das opções de lazer de hoje, esse número batia fácil em 4 bilhões (não estamos falando no Brasil porque não existem estatísticas nacionais daqueles tempos). Sem falar que a população dos EUA dobrou de lá para cá. Se as pessoas fossem tanto ao cinema como iam há 70 anos, a venda de ingressos hoje seria de 8 bilhões por ano. Mas agora é só 12% disso. Ou seja, muita gente arranjou coisa melhor para fazer do que ir ao cinema.

Para piorar, veio a pirataria online de filmes. Logo que ela se estabeleceu, no meio da década, a renda da indústria cinematográfica começou a cair.

As companhias reagiram, tomando mais cuidado para que os filmes não vazassem antes do lançamento (evitando fazer dvds para a imprensa, por exemplo). Mas a coisa só aumentou. Os filmes mais esperados de fevereiro de 2010, por exemplo, já estavam na rede desde janeiro. Desse jeito, não tem como o público das salas não diminuir. Quer dizer: não tinha. Porque Avatar mudou essa história.

Mérito do 3D, claro. Desse 3D moderno, livre de imagens borradas e tão realista quanto sair andando na rua. Ele apareceu em 2005, explodiu em 2009 e está fazendo pelo cinema algo comparável ao que a chegada dos filmes coloridos fez, justamente nos anos 30 e 40: levar multidões para as salas. Tanto que 2009 foi o melhor ano na década para o caixa do cinema americano, com faturamento de US$ 10 bilhões – 5% mais que em 2008. O 3D, note bem, colaborou com quase R$ 2 bilhões desse bolo. E foram só 15 lançamentos contra 517 da indústria toda. Ou seja: 3% dos filmes responderam por 20% da grana. O 3D virou sinônimo de dinheiro. Foi exatamente o que aconteceu quando as cores estrearam.

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E tem outra coincidência nessa história. As primeiras superproduções coloridas eram filmes de criança, como Branca de Neve (1937) e O Mágico de Oz (1939). Com o 3D moderno não foi diferente. Praticamente todos os filmes eram infantis: Chicken Little (o pioneiro, de 2005), Era do Gelo 3 (2009), UP (2009). Mas aí veio uma novidade. Em 1939, digo. Era E o Vento Levou, um dos primeiros filmes coloridos para adultos. A história de Scarlet O’Hara foi responsável por fazer com que muito marmanjo visse cores pela primeira vez fora da vida real. Até por isso, ou principalmente por isso, ele virou o maior blockbuster do cinema clássico.

E aí veio uma novidade. Agora, em 2009. Era Avatar, um dos primeiros filmes 3D com apelo também para adultos. A história dos Na’Vi foi responsável por fazer com que muito marmanjo visse 3 dimensões pela primeira vez fora da vida real. Até por isso, ou principalmente pelo fato de o 3D ser impirateável, ele virou o 2º filme mais rentável da história com apenas 3 semanas de exibição: foi US$ 1,13 bilhão, contra US$ 1,8 bilhão do campeão Titanic. Bom, levando em conta a inflação as coisas ficam bem diferentes (veja à esquerda). Mas isso não impede um fato: estamos, sim, diante de um novo E o Vento Levou. Com Avatar, pela primeira vez um 3D virou O filme, aquele que tudo mundo precisa ver. Isso foi só o começo. O próximo é a 3ª dimensão invadir as produções para gente grande de verdade. E ele já foi dado: em abril chega Alice, de Tim Burton. É a estreia do 3D no mundo dos filmes de arte.

Depois disso será um pulo até os Tarantinos, Scorceses e Lars von Triers da vida começarem a experimentar o formato – como Hitchcock e outros gênios experimentaram a cor lá atrás. E o mais provável é que qualquer grande filme, no sentido artístico da palavra, será pensado desde o início como uma obra em 3 dimensões. Todos saem ganhando: os diretores passam a ter mais possibilidades ao explorar a dimensão extra, o público tem uma experiência bem mais intensa e a indústria volta a faturar alto.

Mas uma dessas festas pode ter data para acabar: a da indústria. As TVs 3D chegam neste ano. Aí os downloads piratas vão entrar com força no mundo tridimensional. E será o começo de um novo fim. Ou não. Olhando por outro lado, vemos que o cinema sobrevive há um século como umas das opções de lazer mais queridas, no mundo todo, independentemente da concorrência. Ir ao cinema, afinal de contas, é legal. E até a pirataria fez bem para ele, já que impulsionou a revolução do 3D. Vamos ver qual será a próxima.

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