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Bonobos dão à luz com ajuda de parteiras

É a primeira vez que fêmeas não-humanas são vistas ajudando outras fêmeas a ter bebês

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 22 Maio 2018, 17h28 - Publicado em 22 Maio 2018, 17h17

Parteiras não são mais uma exclusividade humana: pesquisadores da Universidade de Pisa, na Itália, observaram um grupo de fêmeas de chimpanzé bonobo ajudando uma amiga que estava tendo um bebê. Algumas delas montaram guarda em volta da nova mãe, evitando que machos curiosos e animais de outras espécies – inclusive seres humanos – se aproximassem. Outras colocaram as mãos sob a cabeça do filhote conforme ele saia, limparam fluidos e espantaram moscas que tentavam se aproximar dos genitais.

É a primeira vez que um fenômeno análogo à obstetrícia, ainda que rudimentar, é observado entre animais não-humanos. Os bonobos, de nome científico Pan paniscus, compartilham 98,4% do DNA com a nossa espécie, o Homo sapiens. Especialistas como Jared Diamond argumentam que nossos irmãos primatas, dada tamanha semelhança genética, também deveriam carregar o termo Homo em seu nome científico. Diversas pesquisas demonstram as semelhanças corporais e comportamentais entre as duas espécies – que envolvem até, veja só, a atração sexual pelo bumbum.

O parto é um evento social em seres humanos, e há bons motivos para acreditar que a presença da família e dos amigos tenha sido essencial para a sobrevivência de mães e bebês na pré-história. Afinal, crianças humanas nascem muito frágeis em relação às dos demais mamíferos. Nossa enorme cabeça – que na vida adulta é vantajosa por abrigar o cérebro mais potente do mundo animal – é quase grande demais para passar pelo canal vaginal. Os quadris estreitos e a pequena distância entre as pernas, consequências do caminhar bípede, só pioram a situação.

As bonobos não precisam lidar com as mesmas limitações anatômicas que mulheres humanas, mas mesmo assim são solidárias com suas amigas. Na opinião dos pesquisadores (veja o artigo científico), esse é um indício de que a cooperação e formação de grupos entre fêmeas, um fenômeno raro entre outros mamíferos, não é apenas resultado das dificuldades no parto, mas de muitas outras variáveis que ainda não foram consideradas por evolucionistas. Há até a possibilidade de que nossas tataravós mais distantes tenham começado a ajudar grávidas antes dos cabeções crescerem o suficiente para se tornarem um problema – ou seja, na época em que ainda éramos muito parecidos com chimpanzés.

Comportamentos altruístas e colaborativos, da perspectiva da seleção natural, são raros: na média, o egoísmo é a estratégia de sobrevivência preferida entre seres vivos. As exceções à regra são fascinantes. Formigas, por exemplo, formam sociedade organizadas por causa da similaridade genética que têm entre si, de 75% – entenda melhor esse mecanismo. As fêmeas bonobos de uma população qualquer, por outro lado, não costumam ser parentes umas das outras, o que significa que sua união se baseia mais em reciprocidade e troca de favores que em correspondência de DNAs. Prova de que o maior clichê de todos – a união faz a força – é mais antigo que a própria civilização.

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