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Cliques e hectares

Um dos fotógrafos mais famosos do mundo, Sebastião Salgado agora é visto por outro ângulo: ambientalista. Além de retratar a natureza em seu último projeto, Gênesis, já ajudou a plantar 2 milhões de árvores. E ainda quer salvar uma bacia hidrográfica.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h49 - Publicado em 7 Maio 2014, 22h00

Ester Jacopetti

Você já retratou trabalhadores, refugiados, guerras. Agora, buscou comunidades isoladas. Por quê?

Para aprender. Descobri que somos velhos de 50 mil anos. O que é essencial hoje já era essencial no passado. Nós só sistematizamos. Essas comunidades já tinham antibióticos, anti-inflamatórios. Até conceito de balística, os índios já tinham: o caçador leva um punhado de flechas e não pode perdê-las, se não morre de fome. Por isso, lança a flecha de um ângulo em que, mesmo perdendo o alvo, consegue recuperá-la.

Como foi fotografar animais pela primeira vez?

Tive que me preparar, estudar, não foi brincadeira. Trinta e duas reportagens visuais ao longo de oito anos me ensinaram uma coisa: existe racionalidade profunda nas outras espécies, nos pássaros, nos leões. Até nas rochas. Nós temos que aprender a respeitar isso. E viver de forma muito mais doce e menos agressiva.

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A natureza chegou às suas fotos agora, mas já havia uma ligação anterior.

A fazenda da minha família, no interior de Minas, era um verdadeiro paraíso. Eu convivi com jacarés naqueles córregos maravilhosos, com as onças… Tive uma vida de sonho! Nos anos 90, voltei do exterior para essa fazenda e havia só 0,5% de cobertura florestal. Foi quando a Lélia, minha esposa, teve a fabulosa ideia de recuperar a mata atlântica da região. Mobilizamos parceiros e fundamos em 1998 o Instituto Terra, uma organização ambiental dedicada ao desenvolvimento sustentável do Vale do Rio Doce.

Quais os resultados até agora?

No dia em que entregaram o projeto, tomamos um susto: para recuperar toda a área, era necessário plantar 2,5 milhões de árvores. Mas aceitamos o desafio. Já plantamos 2 milhões.

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Um dos grandes parceiros do instituto é a mineradora Vale do Rio Doce. Há contradição?

Não vejo nenhuma contradição em trabalhar com uma mineradora ou até mesmo bancos. Nosso conselho diretor é composto de membros da Vale, ex-diretores de bancos, membros da sociedade civil. Nós não temos dinheiro. Nós temos a capacidade de organização. E conseguimos o que queremos: recuperar a Mata Atlântica.

Já sabe seu próximo projeto fotográfico?

Vou continuar a fotografar. Mas Gênesis foi o último trabalho grandioso. Em fevereiro, faço 70 anos e fisicamente já não tenho a potência que tinha.

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E o próximo projeto ambiental?
Estamos iniciando o projeto Olhos d’Água. O objetivo é recuperar a bacia do rio Doce – mais ou menos do tamanho de Portugal. O ministério do meio ambiente quer que sirva de protótipo para a recuperação dos outros rios brasileiros. Já há uma mudança: fazendeiros que foram contra o reflorestamento hoje fazem fila para que a gente recupere suas fontes de água.

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