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Combate no escuro

Desafie seu adversário preferido para uma partida de xadrez às cegas.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h45 - Publicado em 31 jul 1998, 22h00

Luiz Dal Monte Neto

É sempre surpreendente a capacidade de alguns enxadristas para visualizar, com várias jogadas de antecedência, aquilo que o comum dos mortais não enxerga nem mesmo quando a peça já foi movida no tabuleiro. Esse talento, comum a todos os grandes profissionais de vários jogos e também compartilhado por alguns amadores brilhantes, é ainda mais surpreendente quando exercido sem ter sequer o apoio visual do tabuleiro, ou seja, inteiramente às cegas.

Nesse tipo de disputa, é comum um dos parceiros atuar normalmente, olhando e movendo suas peças, enquanto o adversário faz seus lances mentalmente. Este não pode nem observar as posições resultantes das jogadas. Trabalha o tempo todo no escuro.

Há, entretanto, uma modalidade que é quase um ultraje à capacidade de processamento de um cérebro comum. Trata-se da simultânea às cegas, isto é, um só jogador disputando, sem olhar, várias partidas diferentes ao mesmo tempo, contra oponentes que jogam individualmente, todos acompanhando os respectivos tabuleiros.

Confrontos de xadrez bizarros assim já foram várias vezes organizados, sobretudo para remunerar profissionais talentosos e necessitados, e a quantidade de partidas concomitantes começou a inflacionar. O americano Harry Nelson Pillsbury (1872-1906) jogou 21 partidas contra adversários dos bons, durante um torneio em Hannover, Alemanha, em 1902. Pillsbury deixava até que os outros jogadores se consultassem mutuamente sobre os melhores lances e os testassem previamente, mexendo as peças sobre os tabuleiros. Seu resultado: três vitórias, onze empates e sete derrotas. Após doze horas de jogo!

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Isso, claro, é para poucos. Mas existe um curioso meio-termo entre a partida às cegas e a normal, bem mais palatável para gente como a gente. É uma variante excêntrica do xadrez, chamada Kriegspiel, que você pode adaptar para outros jogos de tabuleiro, desde que conheça a idéia fundamental,muito simples.

Além de dois jogadores, é preciso uma terceira pessoa para atuar como juiz. Os dois primeiros sentam-se de costas um para o outro, cada qual com um tabuleiro e somente as suas próprias peças. Entre eles, posiciona-se o juiz, que terá um terceiro tabuleiro e as peças de ambos os contendores.

A cada lance, o juiz move a respectiva peça no seu tabuleiro e avisa o adversário que o deslocamento foi feito. Se a jogada não estiver dentro das regras, limita-se a dizer “não pode” – e solicita outra opção. Quando acontece uma captura, avisa a ambos e diz onde foi, mas não quais as peças envolvidas (alguns permitem essa informação). Quando há xeque, comunica-o, informando se foi ao longo de uma coluna, fileira, diagonal, ou se foi dado com um cavalo. A única pergunta que os jogadores podem fazer (quantas vezes quiserem) é se existem capturas disponíveis com peões – em caso afirmativo, devem tentar fazer uma.

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Usando muito raciocínio dedutivo, os jogadores acabam por descobrir onde estão as peças inimigas e partem para o assalto final. Kriegspiel é gostoso de jogar e talvez ainda mais de assistir. Vale a pena experimentá-lo.

Luiz Dal Monte Neto é arquiteto e designer de jogos e brinquedos

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