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É assim que você vai escrever no Whatsapp usando a força da mente

A resposta está nos pássaros. Já é possível ler a mente de uma ave e descobrir o que ela cantará antes de o som sair. A ideia é fazer o mesmo com a gente

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
17 out 2017, 13h21

No ranking de talento musical dos pássaros, o mandarim australiano não é assim um sabiá – seu canto é pouco melodioso, parece uma peça de carro enguiçada.

Não importa: ele está na vanguarda da neurociência. Em setembro, um grupo de cientistas da Universidade da Califórnia leu a mente de um mandarim 30 milissegundos antes de ele cantar – e, usando apenas os dados colhidos do cérebro do animal, recriaram sua melodia no computador. O resultado ficou idêntico.

Calma, ninguém vai aperfeiçoar essa tecnologia até descobrir o que você está pensando. Ainda estamos longe desse grau de Black Mirror. O objetivo dos cientistas, um pouco menos ambicioso, é dar um jeito de interceptar os sinais elétricos que o cérebro manda para a boca quando falamos – e convertê-los em mensagens de Whatsapp automaticamente, sem precisar digitar. Uma espécie de leitura labial para preguiçosos, e o fim do QWERTY como o conhecemos.

A tecnologia não interessa só às gigantes da tecnologia. Também representa uma nova esperança de comunicação para pessoas como o astrofísico Stephen Hawking – que, por causa de uma doença degenerativa, está perdendo lentamente a capacidade de se comunicar.

Pássaros, como seres humanos, produzem sons complexos que são aprendidos por meio da imitação dos pais. Não interessa, nesse caso, que os nossos sons veiculem ideias complexas e abstratas, e os deles não. Ambos seguem o mesmo princípio: o cérebro, por meio de cadeias de neurônios (os nervos), envia sinais aos músculos, que se movem de maneira a gerar ondas sonoras e moldá-las.

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Se um computador for capaz de reconhecer e interpretar esses sinais com a mesma eficiência que a sua boca, ele poderá fazer a operação inversa, e adivinhar quais palavras você dirá por meio da forma como, por exemplo, seu cérebro manda a ponta da língua toca os dentes da frente (que corresponde à letra “t”) ou o céu da boca (caso da letra “l”).

É bom lembrar que o truque não é magia, só tecnologia: os mandarins da Califórnia precisaram “ensinar” os computadores a lê-los, da mesma forma que nós precisaríamos ensinar nossos celulares a nos ler. O processo é simples de entender: primeiro, os pássaros cantaram no laboratório. Tantos os sinais elétricos como os sons foram registrados. Depois, esses dados foram colocados no computador, que percebeu padrões – ou seja, aprendeu a associar cada sinal ao som pelo qual ele era responsável. Depois de analisar um número suficiente de sons e sinais, bingo: ele passou a saber qual som estava vindo só de “bater o olho” no sinal.

Essa é uma abordagem bem mais realista do que a ideia mais utópica – e de longe mais popular – de ler o que alguém está pensando ainda no cérebro, independente da manifestação física desse pensamento. De fato, é tão realista que Mark Zuckeberg já colocou 60 engenheiros para trabalhar nisso. Sua intenção é criar uma bandana (!!) inteligente, que permitirá escrever aquele textão só com a força do pensamento. Ainda não há um prazo realista para isso sair do papel, claro. Mas se até o SMS foi da novidade a aposentadoria em uma década, não custa ter esperança.

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