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E se não pudéssemos fazer dívidas?

Você não teria poupança e os banqueiros não enriqueceriam tanto

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h49 - Publicado em 19 dez 2011, 22h00

Otávio Cohen

Se você se sente pobre cada vez que faz uma compra em várias vezes no cartão de crédito ou pede dinheiro emprestado, repense. Não fosse a possibilidade de fazer dívidas, seríamos todos muito mais pobres. É que todo dinheiro emitido pelo Banco Central é uma dívida pública. Você só consegue sacar uma nota de R$ 50 no caixa eletrônico porque alguém deve essa quantidade de dinheiro ao banco. Se ninguém devesse, o banco viraria cofre e deixaria de render juros. Você não teria poupança e os banqueiros não enriqueceriam tanto.

Segundo Márcio Salvato, economista do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec-MG), o crescimento de um país depende de sua capacidade de poupança – que pode vir pela contração de dívidas externas (com instituições como o FMI) ou internas (com empresas e bancos nacionais). No caso do Brasil, o hábito de o estado contrair grandes dívidas foi um aliado histórico. Foram elas que bancaram a industrialização nos anos 50, levando o país a investir em siderurgia e petroquímica. Sem dinheiro arrematado na forma de dívida externa, Brasília poderia nem ter sido construída e nossa capital ainda seria o Rio de Janeiro.

O fim das dívidas seria também o fim do crédito. Fazer compras no cartão pela internet ou dividir a TV de LCD e a geladeira em 12 vezes, nem pensar. Seria uma catástrofe para a economia nacional. Foi o crédito que salvou o Brasil durante a crise de 2008. Enquanto a indústria nacional sofria as consequências, o brasileiro continuou gastando o que não tinha e aquecendo o mercado.

Um dos setores mais abalados seria o imobiliário. Segundo estimativa do Conselho Federal de Corretores de Imóveis, menos da metade dos imóveis é comprada à vista no país. Apesar de tudo, não viveríamos assombrados pela inflação. “Menos crédito significa menos consumo, o que pode resultar num quadro inflacionário mais tranquilo”, explica Bruno Rocha, do departamento de economia da Universidade Federal da Minas Gerais (UFMG).

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Cinco anos em 50

Azar no jogo, sorte no amor. Sem dívidas, o Brasil seria menos desenvolvido, mas os casamentos durariam mais

DR. ENSINO MÉDIO

Quase um terço dos alunos brasileiros do ensino superior recorre ao financiamento estudantil ou a bolsas para cobrir os custos da educação. Por causa da inadimplência, muitas instituições particulares quebrariam. O diploma de faculdade seria para poucos.

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NA TELA DA TV

A boa e velha televisão de tubo continuaria a ser a atração principal da sala. Produzidas no exterior, TVs de LCD e plasma, que hoje lideram a lista dos produtos mais comprados a prazo, seriam caríssimas. A parte boa é que, com pouca inflação, o preço não aumentaria demais.

VALE MAIS DO QUE DINHEIRO

Sem poupanças, faríamos como nossos avós e guardaríamos dinheiro em casa. Mais do que isso: guardaríamos mais ouro em casa. Diferentemente do dinheiro de papel, o ouro não depende da dívida dos outros para existir e é mais resistente à inflação.

A GRANDE FAMÍLIA

Na falta de incentivo do governo, não daria para comprar imóveis a preços populares. Sem a opção de comprar a casa própria em parcelas a perder de vista por meio do financiamento imobiliário, os jovens sairiam bem mais tarde da casa dos pais.

CRÉDITO PARA O AMOR

Os dados do IBGE comprovam: dívidas e divórcios andam lado a lado. Segundo o instituto, a taxa de casamentos desfeitos triplicou no país desde 2004, acompanhando o crescimento das compras a prazo no país. Como viveríamos sem grandes variações nos preços e sem dívidas, os casamentos seriam mais duradouros.

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COMIDA CASEIRA

O açougue da esquina e o mercado do bairro dificilmente conseguiriam abrir as portas sem dinheiro emprestado do banco. Menos concorrência no mercado significa preços mais altos nas grandes lojas de rede. Uma saída seria criarmos nossa própria comida dentro de casa.

Fontes Márcio Antônio Salvato, coordenador de Economia do IBMEC-MG; Bruno de Paula Rocha, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG; Paulo Nakatani, do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas da UFES; Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL); Serviço de Proteção ao Crédito (SPC); Conselho Federal de Corretores de Imóveis (Cofeci-Creci); Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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