Bárbara Soalheiro e Thiago Velloso
A civilização como conhecemos hoje poderia entrar em colapso. A capacidade de ler a mente de outros seres humanos poderia destruir instituições públicas e privadas e estruturas sociais fundamentais para a organização das sociedades. “Seríamos incapazes de traçar qualquer tipo de estratégia e mantê-la em segredo”, diz Wilson Mendonça, professor de filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Wilson acredita que essa evolução teria, provavelmente, um efeito regressivo sobre a civilização. A atividade econômica, por exemplo, que se baseia em expectativas e incertezas, desapareceria por completo. “Uma cantada comum ou um simples jogo de cartas deixariam de existir, porque todas as ações do ser humano poderiam ser antecipadas”, diz o filósofo.
Para corrigir ou coibir excessos advindos da nova capacidade humana, seria necessário montar um sistema de regras infinitamente superior ao que conhecemos hoje. Mas só as leis não seriam suficientes. “Normas jurídicas para impedir o indivíduo de ler o pensamento de outrem não seriam respeitadas”, diz a professora Maria José Galleno de Oliveira, do Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito, da USP. Assim, o jeito seria construir bloqueadores mentais e dispositivos legais que impedissem a invasão do pensamento alheio. Eles teriam que ser disseminados para garantir alguma privacidade nessa nova sociedade. “Para preservar o mínimo de eficácia das instituições, teríamos que impor limites tão rígidos que a vida poderia se tornar insuportável”, afirma Wilson.
Mas nem todo mundo vê só caos nesse mundo onde todos sabem o que o outro está pensando. O físico e escritor de ficção científica David Brin acha que, nessa sociedade, haveria menos miséria e desigualdade social. “Como poderíamos ignorar os pobres se soubéssemos exatamente como é seu sofrimento?”, diz ele, que também é autor do livro de não-ficção A Sociedade Transparente. Outra vantagem, na visão de Brin, seriam relacionamentos mais abertos entre casais. Afinal, aqueles pensamentos impuros que passam pela sua cabeça ao ver uma garota bonita seriam “ouvidos” pela sua namorada. “Teríamos que aprender a perdoar ou seria impossível conceber um bebê”, diz Brin.
Papo calado
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Rastreando a memória
Uma máquina de rastreamento do hipocampo – área do cérebro responsável pela memória – serviria para solucionar processos. A tecnologia teria que decifrar o dia exato em que uma idéia apareceu
Limpando a mente
A capacidade de não pensar em nada teria grande valor. Aulas de meditação seriam caríssimas e haveria um mercado destinado a evitar que as pessoas fossem excessivamente sinceras
Bloqueando a idéia
Para pensar em paz, teríamos que inventar um bloqueador mental. O aparelho bagunçaria a recepção das mensagens enviadas pela região frontal do cérebro, que é responsável pela nossa capacidade de planejar
Idéia de ouro
Idéias originais valeriam uma fortuna. As pessoas teriam que patenteá-las antes que outro o fizesse. O governo precisaria criar um órgão responsável por todas as idéias existentes