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Falantes de diferentes línguas conseguem se comunicar apenas com sons vocais

Apenas sons, não palavras. Estudo sugere que as vocalizações podem ser tão compreendidas entre os humanos quanto os gestos – o que traz novas pistas sobre a evolução da linguagem.

Por Carolina Fioratti
17 Maio 2021, 19h39

Como foi que os humanos desenvolveram a linguagem falada? Essa é a pergunta do milhão na linguística. Ainda não está claro quando os humanos começaram a ter idiomas ou qual caminho percorreram até lá. Uma corrente de pesquisa defende que os humanos já se comunicavam por gestos antes de desenvolverem a linguagem falada. No entanto, uma nova pesquisa feita por cientistas do Leibniz-Centre General Linguistics sugere que os sons vocais podem ter sido importantes nos primórdios da linguagem. De acordo com um estudo publicado na revista Scientific Reports, povos de diferentes culturas são capazes de se comunicar a partir desses sons.

“Grande novidade. Até eu consigo me virar em um outro país sem falar a língua local”. Sim, mas vale explicar que no estudo usou apenas sons vocais, sem gestos, palavras ou onomatopeias. O “miau”, que é rapidamente associado aos gatos, não é um som vocal, e sim uma onomatopeia. Um som vocal seria a imitar a mastigação se alguém quisesse se referir ao ato de comer. São esses os sons que o estudo usa como dados.

Com o fato esclarecido, vamos à pesquisa. Os cientistas utilizaram como base um estudo anterior que contava com uma série de vocalizações gravadas por voluntários americanos. Havia, no total, 90 sons para 30 significados (3 sons para cada) que se encaixavam em diferentes categorias. Entre elas: humanos e animais (criança, homem, mulher, tigre, cobra, veado); entidades inanimadas (faca, fogo, pedra, água, carne, fruta), ações (reunir, cozinhar, esconder, cortar, caçar, esmagar, comer, dormir), propriedades (opacas, nítidas, grandes, pequenas, boas, ruins), palavras que se referem à quantidade (um, muitos) e pronomes demonstrativos (isso, aquilo).

Todas são palavras que podem ter tido importância nos primórdios da linguagem e que hoje são comumente usadas na maioria dos idiomas. As gravações foram apresentadas a falantes de 28 línguas diferentes, entre alemão, sueco, chinês, armênio, entre outras. No total, o estudo contou com 843 pessoas. Primeiro, foi feito um teste em computador, em que o voluntário escutava o som vocal e era apresentado a seis palavras diferentes. Nisso, ele teria que clicar na opção que  pensava estar correta. Se o participante não fizesse ideia da resposta e marcasse uma alternativa aleatoriamente, sua chance de acerto era de 16,7%.

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Mas esse não foi o caso. Quem se saiu melhor foram os falantes do inglês, escolhendo a alternativa correta em 74% das vezes. O valor alto pode ter sido consequência da cultura em comum, já que os voluntários do estudo anterior, que fizeram os sons, eram na maior parte americanos. De toda forma, isso não fez com que os falantes de outras línguas ficassem muito atrás: o menor número foi alcançado pelos tailandeses, que acertaram em 52% das vezes. A porcentagem ainda é expressivamente alta quando comparada à chance de acertar no chute.

Além disso, algumas categorias foram acertadas com maior frequência do que outras. Em primeiro lugar ficaram as ações, com 70,9% de chance de acerto. As entidades vieram logo em seguida, com 67,7%. As propriedades e pronomes demonstrativos com, respectivamente, 58,5% e 44,7%.

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Num segundo momento, os pesquisadores decidiram aplicar o teste em comunidades que não utilizavam a linguagem escrita de forma predominante. Neste caso, as alternativas apareciam em forma de imagens, e a pessoa apontava para qual pensava estar correta. Foram utilizadas nessa fase apenas as fotografias de criança, veado, fogo, fruta, faca, homem, carne, pedra, cobra, tigre, água e mulher. Os voluntários tinham 8% de chance de acertar no chute, mas foram bem em pelo menos 34% das vezes.

Algumas palavras eram fáceis de representar a partir de sons, como “dormir”, em que bastava imitar o som de ronco. A palavra “fruta” já teve diferentes interpretações, desde o barulho de uma batida, como se fosse uma maçã caindo no chão, até o som de triturar o alimento na boca e depois engolir. Os termos “bom” e “ruim”, que são mais abstratos, foram executados de formas inversas: para a palavra positiva, as pessoas faziam um barulho que ia de um tom grave para o agudo; enquanto para a negativa, começavam no tom agudo e partiam para o grave. 

Dessa forma, os cientistas concluíram que os sons vocais, assim como os gestos, também são icônicos – ou seja, capazes de reproduzir uma ideia de forma fiel. Sendo assim, a vocalização pode ter desempenhado um papel no surgimento dos primeiros sistemas linguísticos. Os pesquisadores não pretendem descobrir quem surgiu antes, a gesticulação ou a fala, mas sim como os gestos e sons vocais podem ter trabalhado juntos para a evolução da linguagem.

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