Paris se rendeu. E é bem provável que depois dela venha o.mundo. Foi essa a impressão deixada pela defesa de tese de doutoramento do arqueólogo brasileiro Fábio Parenti, em fevereiro passado na capital francesa. Ao que tudo indica, Parenti conseguiu provar, de modo definitivo, que os vestígios da ocupação humana no Nordeste brasileiro realmente remetem a cerca de 50000 anos atrás. Ou seja, cada dia mais ganha força a teoria levantada pela arqueóloga brasileira, Niede Guidon, de que a ocupação do continente americano data do Pleistoceno e, não, do Holoceno (entre 10 e 15 mil anos atrás), como acreditava a comunidade científica internacional. Fábio Parenti, que trabalhou durante quatro anos com Niede nas escavações de Pedra Furada, desde 1988 vinha se dedicando ao estudo em laboratório dos indícios encontrados no Piauí. Ele pesquisou posições de pedras e formas de lapidação em instrumentos de quartzo e outros cristais. Seu objetivo foi provar que eram obras de seres humanos e não formações naturais. Mesmo submetidos às mais rígidas avaliações, os estudos exi bem pelo menos 50 arranjos de pedra feitos pela mão humana, alguns com restos de carvão, e 595 peças propositadamente quebradas, podendo constituir ferramentas. Todos do Pleistoceno. A tese de Parenti parece ter convencido definitivamente os seis examinadores. Mas promete gerar ainda muita discussão no próximo congresso internacional de arqueologia, que esse ano, não por acaso, será sediado pela cidade de Raimundo Nonato, no Piauí, onde o sítio da Pedra Furada é explorado por Niede Guidon desde 1978.