Lennon ou McCartney? Estudo revela quem compôs “In My Life”, dos Beatles
Por anos, John Lennon e Paul McCartney reivindicaram a autoria da canção. Agora, com uma ajudinha da estatística, pesquisadores chegaram a um veredicto
A dupla John Lennon e Paul McCartney talvez seja uma das maiores da história da música. Juntos, eles foram responsáveis por mais de 200 músicas dos Beatles, cuja autoria era sempre assinada pelos dois. No entanto, uma faixa em particular nunca foi consenso. Depois do fim da banda, nos anos 70, tanto Lennon quanto Paul diziam ter escrito “In My Life”, lançada em 1965 para o álbum Rubber Soul. Tal dúvida continuaria a ficar na cabeça dos fãs, não fosse por uma ajudinha da matemática.
Um artigo científico divulgado durante uma conferência sobre estatística no Canadá cruzou dados e a letra de mais de 70 melodias compostas pela dupla e constatou que, provavelmente, foi Lennon quem escreveu a letra da música em questão.
Os três autores da pesquisa são especialistas no assunto. Fã dos Beatles e professor de matemática da Universidade de Dalhousie, Jason Brown já havia trabalhado, em 2008, na análise dos acordes de outra música da banda, “A Hard Day’s Night”. Seus outros dois colegas de trabalho são de Harvard: Mark Glickman, estatístico e pianista clássico, e Ryan Song, professor de engenharia – e com um sobrenome bem sugestivo para este tema.
O origem da treta (e sua resolução)
Apesar de Lennon e McCartney terem assinado todas as suas músicas em dupla, é óbvio que algumas canções foram compostas só por um ou só pelo outro. Às vezes, é claro, o acordo dava briga: cada um dizia uma coisa, e isso gerou inconsistências na história da composição de determinadas letras.
Toda a trama em torno de “In My Life” começou com uma entrevista de Lennon à revista Playboy, em 1980. Ele afirmou que a música era dele e que dizia respeito à sua vida. O outro Beatle teria ajudado apenas no middle 8 – que, no jargão musical, é o nome de uma nova sequência de acordes e melodia que ajuda a quebrar o padrão repetitivo dos versos.
Já Sir Paul tem uma versão diferente do caso. Em 1984, em uma entrevista para a mesma revista, o músico disse que contribuiu muito mais com a melodia, mas que Lennon pode ter esquecido isso. Estão sentindo uma treta? Hora de colocar a Matemática em campo.
O estudo, que levou dez anos para ser feito, analisou as preferências dos dois artistas para tentar identificar o toque de cada um nas canções da banda. Eles separaram palavras, notas individuais, acordes e outros componentes e catalogaram a frequência com que apareciam nas canções de cada um. Assim, encontraram 149 transições musicais distintas e relacionaram com seu respectivo músico. Conclusão? A probabilidade de Paul ter escrito a música é de apenas 0,018%.
Em entrevista à rádio NPR, o matemático Keith Devlin, da Universidade em Stanford (que não participou do estudo), explicou que os autores do estudo usaram um método conhecido como “saco de palavras” (em inglês, bag of words). Nele, as palavras de um pedaço de texto são isoladas e separadas em grupos, ignorando a ordem em que aparecem para que sua frequência seja analisada. A técnica foi criada nos anos 1950 por cientistas da computação que desenvolveram os primeiros filtros de spam.
Se você ainda duvida dos cálculos, Devlin dá um conselho: “Em situações como essa, é melhor acreditar na matemática. Ela é muito mais confiável do que as lembranças das pessoas, especialmente porque elas colaboraram escrevendo nos anos 1960 com um estado mental incrivelmente alterado devido a todas as coisas que estavam ingerindo”. Ah, os anos 60…